quinta-feira, 10 de maio de 2018

A agente infiltrada no esquema russo

O que poderiam dizer as cartas à ela?

1) carta central: O 6 de Paus

A carta Seis de Paus retrata Jasão vitorioso após a sua luta com o dragão. O herói levanta o Velocino de Ouro em triunfo. Atrás dele, seis dos seus amigos-heróis estão festejando, cada um segurando uma tocha acesa.

O Seis de Paus representa uma experiência de triunfo, de reconhecimento e de aclamação pública. A luta com o dragão já aconte­ceu e Jasão fez jus à sua recompensa; o Velocino está em suas mãos e seus amigos levantam suas tochas para honrá-lo em reconheci­mento. Essa carta representa um momento inebriante para o indiví­duo que se esforçou para expressar uma nova ideia ou uma visão criativa para as outras pessoas, pois é o momento em que somos reco­nhecidos pela coletividade por nossos esforços. O empreendimento criativo foi aprovado não somente pelos nossos entes queridos, mas pelo mundo exterior, que na carta do Cinco de Paus apareceu, inicial­mente, como o terrível dragão-terra que parecia frustrar todos os es­forços.

O estágio, um tanto inebriante, refletido pelo Seis de Paus pode assumir muitas formas, de acordo com o nível do objetivo e das aspi­rações do indivíduo. O atleta que treinou e se preparou durante can­sativos meses e até anos sabe disso quando vence uma competição, assim como o indivíduo que almeja uma promoção também o reco­nhece quando, finalmente, uma nova posição lhe é oferecida. O es­critor aprecia-o quando o seu livro é publicado e aclamado, e assim também o estudante, quando finalmente recebe o seu diploma. Inde­pendentemente da dimensão, a meta aqui é alcançada e reconhecida pelos outros. Portanto, o Seis de Paus é uma das cartas dos Arcanos Menores que mais proporciona satisfação individual, pois significa a validação pública de uma visão criativa que se iniciou em meio à ansiedade e à incerteza.

Mas até o Seis de Paus deve ceder o seu lugar para a carta seguinte, pois Jasão ainda não levou o Velocino de volta para Iolkos. O reconhecimento público provoca os seus próprios dilemas, apesar de representar um pico na vida criativa, pois a imaginação é fértil, e novos desafios - de forma particular a inveja e o sentido de compe­tição - podem surgir no momento do triunfo.

No sentido divinatório, o Seis de Paus prevê a aceitação pública e o reconhecimento de alguma espécie. Isso pode assumir a forma de uma promoção, uma qualificação ou o reconhecimento de algum tra­balho criativo.


2) carta cruzada: O Diabo

A carta do Diabo retrata um Sátiro, uma criatura metade homem e metade bode, dançando à música de uma siringe (flauta de sete tubos) que ele segura em sua mão esquerda. Com a mão direita, ele segura duas correntes, cada uma presa a um colar ao redor do pescoço de uma figura humana nua. As figuras - um homem e uma mulher - têm pequenos chifres como aqueles do Sátiro. Apesar de suas mãos e pernas estarem livres para dançar, eles estão presos às suas correntes de medo e de fascinação pela música. Ao redor, aparecem as paredes escuras da caverna.

Aqui encontramos o grande deus Pan que os gregos veneravam como o Grande Todo. Na Mitologia, Pan era filho de Hermes e da ninfa Dríope. Quando nasceu, ele era tão feio - com chifres, barba, cauda e patas de bode - que a sua mãe fugiu apavorada e Hermes o levou para o Olimpo para entreter os deuses. Pan assombrava os bosques e os pastos da Arcádia, e personificava o espírito fértil e fálico da natureza selvagem e indomada. Ocasionalmente ele podia ser amigável com os homens, vigiando seus rebanhos, gado e col­meias. Também participava das festas das ninfas das montanhas e ajudava os caçadores a encontrarem suas presas. Em certa ocasião, ele perseguiu a casta ninfa Siringe até o rio Ladon, onde ela se trans­formou em um feixe de caniços para fugir dos indesejáveis abraços peludos. Como não podia individualizá-la dos outros, ele cortou vá­rios caniços, dos quais fez uma siringe ou flauta de Pan.

Do nome Pan derivamos a palavra "pânico", afinal ele se divertia provocando pequenos sustos aos viajantes solitários. Ele era despre­zado pelos outros deuses que, no entanto, exploravam os seus pode­res. Apolo, o deus-Sol, adulando-o, conseguiu dele a arte da profe­cia; Hermes copiou uma flauta que ele havia deixado cair, declarou ser sua a invenção e vendeu-a a Apolo. E foi assim que o deus-Sol recebeu ilicitamente a sua música e o seu dom da profecia do deus da natureza com aspecto de bode, feio e indomado.

No sentido interior, Pan, o Diabo, é a imagem da sujeição ao mais rude e instintivo aspecto da natureza humana. Como o deus era ve­nerado pelo medo, em cavernas e grutas, sua imagem dentro de nós sugere algo que tanto tememos quanto nos fascinam os rudes e pri­mitivos impulsos sexuais que consideramos "maus" em razão de sua natureza compulsiva.

Desde o início da Era Cristã, o deus Pan foi estabelecido como a figura do Diabo, completo com seus chifres e trejeito irónico, e des­prezado pelas pessoas "espirituais", como Apolo o desprezou, na Mitologia grega. Plutarco conta que, durante o domínio do imperador Tibério, um marinheiro que passava perto das Ilhas Equinades, no Mar Egeu, ouviu uma voz misteriosa chamando-o três vezes, dizen­do: "Quando chegar a Palodes, proclame que o deus Pan está mor­to". Isso ocorria no exato momento em que o Cristianismo* nascia na Judeia.

Mas a presença dessa carta entre os Arcanos Maiores do Tarô sugere que Pan não morrera, mas havia sido relegado aos recessos mais profundos do inconsciente, representando tudo aquilo que te­memos, odiamos, desprezamos e, no entanto, nos mantém presos pelo próprio medo e desgosto.

O problema da vergonha do corpo e dos impulsos sexuais, parti­cularmente os que a psicanálise tanto fez para trazer à luz neste século - fantasias de incesto, fascinação pelas funções corporais e excreções, o sentimento de ser sujo e mau, peludo, feio e inferior -, são os que Pan, o Diabo, personifica. Até o homem, ou a mulher, mais "liberado" sexualmente pode sentir essa vergonha secreta a respeito de seu corpo. Podemos sentir alguma nobreza e romantismo no leão furioso na carta da Força ou nos obstinados cavalos da carta do Carro. Contudo, é mais difícil perceber nobreza em Pan. Mas, na Mitologia, Pan não era ruim, ele só era indomado, amoral e natural. A paralisia dos humanos que os leva ao terror e à fascinação cria o problema. A carta do Diabo implica bloqueios e inibições, geralmente sexuais, que surgem pela falta de compreensão do deus. Apesar de feio, ele é o Grande Todo - a vida nua e crua do próprio corpo, amoral e rude, mas assim mesmo um deus. A energia empregada em manter o Diabo em sua caverna, vergonhoso e oculto, é energia per­dida para a personalidade, mas que pode ser liberada com um efeito imensamente poderoso se tivermos a coragem de encarar Pan.

Por conseguinte, o Louco deve aprender a enfrentar com humil­dade seus próprios aspectos mais inferiores e mais vergonhosos, ou permanecerá eternamente preso aos seus próprios medos. Então, para poder esconder esse segredo vergonhoso, ele deve pretender ser superior e, assim, projeta a sua parte animal em outras pessoas, levando ao preconceito, à inveja e até a perseguição de indivíduos e de raças que, para ele, são "maus".

No sentido divinatório, a carta de Pan, o Diabo, implica a necessi­dade de um confronto com tudo o que na personalidade seja sombrio, vergonhoso e inferior. O Louco deve libertar-se adquirindo conheci­mento e, por meio da aceitação honesta e humilde de Pan, deve liberar o poder criativo que está acorrentado ao seu próprio pânico e autodesprezo. E, assim, ele chega ao coração do Labirinto e enfren­ta a sua própria escuridão nas sombras essenciais de seu corpo para tornar-se o que ele sempre foi - simplesmente natural.


3) carta de cabeça: A Lua

A carta da Lua retrata uma misteriosa figura feminina com três rostos, coroada com um diadema da Lua em suas três fases. O seu cabelo é prateado e ela veste uma longa túnica que flui em uma poça de água a seus pés. A sua frente, há um cão de três cabeças e na poça um caranguejo procura sair da água. Atrás dela, o céu é escuro e iluminado somente pela luminescência de sua coroa.

Aqui encontramos Hécate, a antiga deusa do Submundo, regente da Lua, da magia e dos feitiços. Na Mitologia, Hécate era, às vezes, confundida com Artemis, a deusa da Lua, uma divindade bem mais antiga e poderosa tanto no céu quanto embaixo da terra. Filha de Zeus c Hera, incorreu na ira da mãe ao roubar-lhe um pote de ruge.

Ela fugiu para a Terra c escondcu-se na casa de uma mulher que estava para dar à luz. A experiência com o nascimento tornou-a im­pura e, como consequência, foi levada ao Submundo para que a mancha fosse lavada. Ao contrário, ela se tornou uma das soberanas do Submundo e veio a ser chamada a Rainha Invencível, presidindo as purificações e as expiações. Como deusa dos feitiços, ela enviava demónios à Terra para atormentar os homens em seus sonhos; era acompanhada de Cérbero, o guardião de três cabeças do portal do Submundo, que era a sua forma anima! e seu espírito familiar. Os lugares que ela mais assombrava eram as encruzilhadas, tumbas e cenas de crimes; por isso é que imagens sagradas eram erigidas nas encruzilhadas e veneradas na véspera da lua cheia.

O próprio Zeus honrou Hécate de tal forma que nunca lhe negou o antigo poder que sempre possuiu: de conceder ou de negar os de­sejos dos mortais. Suas companheiras no Submundo eram as três Erínias ou Fúrias, que castigavam as ofensas contra a natureza e representavam, de maneira ameaçadora, as três Moiras ou o Desti­no. E, assim, Hécate é uma das mais antigas imagens da Mitologia, presidindo a magia, o nascimento, a morte, o Submundo e o destino.

No sentido interior, Hécate, a deusa da Lua, é uma imagem das profundezas misteriosas do inconsciente. Já nos deparamos com esse estranho e fugaz reino em duas outras cartas dos Arcanos Maiores: a Sacerdotisa e a Roda da Fortuna. Essas três cartas estão ligadas em significado e representam uma progressão no aprofundamento da compreensão e da experiência do mundo do inconsciente.

Por meio de Perséfone, a Sacerdotisa, o Louco conscientizou-se de uma intuição de suas profundezas pessoais, um "eu" secreto por Irás da vida cotidiana. E, por meio das Moiras que presidem a Roda da For­tuna, ele experimentou o poder do Destino por intermédio de mudan­ças bruscas que revelam uma lei invisível ou um padrão intencional interior. Na carta da Lua, encontramos na imagem de Hécate o oceano da grande coletividade do inconsciente, do qual não somente o indiví­duo, mas a própria vida emergiu.

Hécale é muito mais do que um retrato das profundezas pessoais. Ela encarna o princípio feminino da própria vida e os três rostos, as três fases da Lua, refictem o seu poder multifacetado sobre o Céu, a Terra e o Submundo. Em lermos psicológicos, é desse reino oceânico da imaginação humana que os grandes mitos, os símbolos religiosos e as obras de arte sempre nasceram. E um mundo caótico, confuso c sem limites, do qual o indivíduo com sua jornada pessoal e a sua busca do "eu" é somente uma pequena parte.

O encontro com Hécate, a deusa da Lua, é uma confrontação com o mundo transpessoal no qual os limites individuais se dissolvem e o sentido de direção e do ego se perdem. É como se devêssemos esperar, submersos nas águas desse mundo, enquanto os novos po­tenciais surgem para, eventualmente, tornar-se o nosso futuro. Mas as águas escuras do inconsciente coletivo contêm tanto o positivo quanto o negativo e, às vezes, é difícil distinguir seus movimentos alternados de loucura e de delírio. Ele pode ser um mundo apavoran­te c cheio de ansiedade, pois viver no reino presidido por Hécate significa viver sem conhecimento e sem compreensão. Algo pas­sou por nós e levou consigo o passado, preparando o caminho para o futuro; mas devemos esperar, assim como o feto espera no útero da mãe.

O único caminho para o reino de Hécate é o "Caminho Real" dos sonhos que, como o caranguejo, nos atormenta com um vislumbre c depois volta para a água. A carta da Lua é uma carta de gestação cheia de confusão, ansiedade e perplexidade. Temos apenas o mun­do dos sonhos e a Estrela da Esperança para nos guiar, pois essa imagem do feminino não é pessoal como a da Sacerdotisa. E vaga, ilusória, impessoal e incorpora os humores alternados e a confusão. Hécate não pode ser realmente compreendida, pois é a deusa da magia e inicia o Louco em um mundo maior do que ele próprio, aque­la água primordial que dá origem à vida.

No sentido divinatório, a carta de Hécate, a deusa da Lua, prevê um período de confusão, flutuação e incerteza. Estamos presos ao inconsciente e somente podemos esperar e agarrarmo-nos às imagens incertas dos sonhos e ao sentido de esperança e de fé. Assim, o Louco aguarda o seu renascimento nas águas de um útero maior, apenas consciente de que a sua jornada de desenvolvimento pessoal é tão-somente uma pequena fração de uma vida ampla e desconheci­da que abrange milénios, seguindo eternamente fértil, mas incompleta.


4) base da questão: O Cavaleiro de Copas

A carta do Cavaleiro de Copas retrata um lindo jovem de pele clara, cabelos pretos e olhos profundos, montado em um elegante cavalo branco. Ele traja uma túnica roxa e uma armadura prateada toda escamada, e sobre a cabeça porta um elmo com um enfeite em formato de cauda de peixe. Ele conduz o seu cavalo elegantemente ao longo de um riacho borbulhante no qual os peixes saltam da água. Ao seu redor, um cenário romântico de bosques e colinas verdes e, ao longe, o. mar pode ser visto sob um céu azul-claro. Com a sua mão esquerda, ele segura uma taça dourada.

Na carta do Cavaleiro de Copas, deparamo-nos com a dimensão volátil, sensível e mutável do elemento água que, como o riacho, está cheio de vida e em movimento constante. Essa é a representação do herói mitológico Perseu, motivado em todas as suas aventuras pelo amor às mulheres e que, em suas jornadas, deve enfrentar as várias facetas do feminino, tanto obscuras quanto claras, antes de poder reunir-se com o seu amor. Perseu era filho de Zeus e de uma mulher mortal chamada Danae, para quem o deus apareceu em uma chuva de ouro. O pai de Danae, Acrísio, havia sido avisado pelo oráculo de Delfos que sua filha daria à luz um filho que o mataria. Para que isso fosse evitado, ele encerrou Danae e o filho em uma arca e jogou-os ao mar. Protegidos pelas divindades da água, eles foram levados às margens de Sérifos e para a proteção do rei Polidetes. O rei apaixo-nou-se por Danae e a perseguiu durante todos os anos da infância e adolescência de Perseu. Finalmente, Polidetes resolveu matar Perseu porque o jovem era contrário a seu casamento, acreditando que a sua mãe merecia algo melhor. Portanto, o rei enviou o jovem na aparente missão impossível de trazer-lhe a cabeça da terrível Medusa.

Em todo o seu trajeto, Perseu foi protegido pelas deusas. As Gréias, três bruxas que compartilhavam de um único olho, conheciam os segredos do futuro e disseram-lhe onde encontrar Medusa; Atena armou-o com um escudo mágico e foi dessa maneira que o jovem conseguiu matar a górgona, olhando o seu reflexo no escudo espelhado, a fim de proteger sua mãe. Ele levou consigo a cabeça da Medusa e em seu caminho de volta para Sérifos passou pela Etiópia, onde sal­vou a linda Andrômeda das garras de um monstro marinho. Ele ma­tou o monstro, libertou-a e casou-se com a jovem. Ele então voltou para Sérifos e matou Polidetes que, entrementes, tentara seduzir Danae. Isso feito, juntamente com sua mãe e sua esposa, Perseu empreendeu o caminho de volta para o lugar de seu nascimento onde Acrísio, o seu avô, tentara matá-lo.

Apesar de não procurar vingar-se dele deliberadamente, ele acabou matando-o acidentalmente, tor-nando-se, dessa forma, rei de Argos. Mas o lugar era repleto de memórias tristes então decidiu transferir-se para Tirinto, onde fun­dou uma gloriosa dinastia.

Perseu, o Cavaleiro de Copas, é a imagem do verdadeiro espírito romântico, o herói das mulheres em dificuldades, o adorador do amor, da beleza e da verdade, e o defensor dos altos ideais que busca incessantemente o amor perfeito que somente existe no espírito e que sempre parece estar muito próximo, no ser amado seguinte. O espírito romântico do Cavaleiro de Copas incorpora tudo o que é gentil, idealista e bom; não se trata de uma personalidade fraca, ao contrário, ele é capaz de sacrificar tudo em nome de seu ideal ou do ser amado.

Em certo sentido, essa é a imagem do estado de "estar apaixona­do", uma experiência que todo realista presume que, com a familia­ridade do casamento, com os filhos e as obrigações familiares, acabe morrendo, mas que todo romântico acredita que possa e deva perdu­rar para sempre. Quando isso não ocorre, o Cavaleiro de Copas. pode seguir em frente, buscando ainda a derradeira experiência do amor sagrado.

É claro que a santidade do Cavaleiro de Copas não exclui o sexo, mas os relacionamentos sexuais para essa figura devem necessaria­mente estar associados ao amor e ao êxtase espiritual. A "mera" satisfação física não lhe interessa. Historicamente, os ideais do amor romântico que floresceram na Idade Média refletem o espírito do Ca­valeiro de Copas. O jovem cavaleiro sempre adorava a sua amada de longe; ele não a contagiaria com seus desejos carnais, mas lhe escre­veria poesias e, muitas vezes, dedicaria a sua vida para protegê-la.

Perseu é diferente dos outros heróis em virtude, justamente, desse alto idealismo e veneração pelas mulheres. Diferentemente das figuras como Héracles que enfrenta seus desafios porque tenta expiar um pecado ou como Teseu que os enfrenta por serem excitantes, Perseu segue o seu destino pelo amor, principalmente começando pelo amor de sua mãe. Essa qualidade de venerar e de idealizar a mãe é característica do Cavaleiro de Copas, pois, apesar de sua força, ele se ajoelha aos pés de uma rainha uma mulher de maior poder do que ele.

Muitas vezes, a qualidade do amor representado pelo Cavaleiro de Copas contém esse elemento de adoração por uma pessoa diante da qual nos sentimos um tanto indignos - ou por uma pessoa que já esteja casada. Esse ainda não é um amor entre iguais, que encontra­remos mais adiante na Rainha e no Rei de Copas. Mas, à sua manei­ra, é amor e não deveria ser ridicularizado como adolescente ou ima­turo. Sem o Cavaleiro de Copas, viveríamos em um mundo insípido e desprovido de brilho.

Quando o Cavaleiro de Copas aparece em uma abertura de car­tas, indica que chegou o momento de o indivíduo experimentar essa dimensão inebriante e romântica do amor. Frequentemente, o Cava­leiro prevê uma proposta de casamento ou a experiência de uma paixão. Em outro nível, às vezes ele implica uma proposta artística, um relacionamento diferente, não menos exaltado e idealista. Ele ainda pode entrar na vida de um indivíduo como um jovem poético e sensível, um arauto do nosso próprio romantismo emergente.


5) influências do passado: O 4 de Espadas

A carta Quatro de Espadas retrata Crestes no exílio, em Fócida. Ele está sentado tranquilamente no chão contemplando quatro espadas que formam um padrão à sua frente.
Atrás dele, um céu pálido e calmo com pequenas nuvens e um cenário de picos nevados.
O Quatro de Espadas reflete um período calmo de retiro e de contemplação.

Aqui podemos ver Orestes em seu exílio. Ele ainda não recebeu a ordem do deus Apolo e, portanto, está em paz, apesar de não lhe ser permitido voltar para casa. O Quatro de Espadas sugere um período de introversão e de reflexão, de recuperação emocional após o surgimento do conflito no Três de Espadas. O ve­neno foi liberado e agora existe a oportunidade para refletir sobre o que aconteceu. Esse é um período de preparação que precede a tarefa de praticar as mudanças necessárias à vida como resultado do conflito. Há um incremento de força, um controle das reservas internas em uma situação de calma e de introspecção.

Procuramos instintivamente esse lugar de quietude depois de um evento turbulento e penoso em nossas vidas. O indivíduo que passou pela separação ou pelo divórcio, ou até por uma discussão exacerba­da, frequentemente precisa de um tempo sozinho para analisar o padrão do que aconteceu; isso também ocorre com a pessoa sobre­carregada ou aquela que foi demitida de seu trabalho, ou se separou de um amigo ou de um relacionamento amoroso. Frequentemente não reconhecemos o valor desse período de quietude e nos precipita­mos e procuramos cercar-nos de pessoas que farão com que nos sintamos melhor e que nos ajudem a esquecer o que aconteceu. Mas o exílio de Orcstes é imposto e, de certa maneira, somos forçados à introversão pela descoberta de que essa precipitação nervosa não cura absolutamente nada.

Muitas vezes isso piora a nossa situação, até reconhecermos a necessidade do silêncio e da solidão antes de voltarmos à vida novamente. Essa reflexão pode revelar o significa­do que fundamenta a separação ou o conflito, porque qualquer difi­culdade refletida pelo naipe de Espadas inevitavelmente apontará para algum estágio do passado no qual um novo conceito da vida começou a surgir e está desequilibrando todos os nossos padrões preexistentes da vida.

No sentido divinatório, o Quatro de Espadas anuncia um período de recuperação silenciosa e de introversão, no qual o indivíduo pode armazenar energia preparando-se para maiores esforços. Quando o Quatro de Espadas aparece em uma abertura de cartas, talvez seja melhor aceitar a solidão ou o retiro e não procurar preencher o tem­po com atividades, pois alguma quietude é necessária para controlar os pensamentos c organizar a própria vida.


6) influências do futuro: O Cavaleiro de Ouros

A carta do Cavaleiro de Ouros retrata um jovem forte de cabelos castanhos, montado em um grande cavalo marrom. Ele veste uma túnica verde-limão, uma armadura e um elmo em couro marrom. Em sua mão direita ele segura um pentáculo dourado e, em sua esquerda, um feixe de trigo. Ao seu redor, ovelhas espalhadas em grandes pastos verdejantes e um pequeno bosque de oliveiras com colmeias. Acima dele, um céu de azul-brilhante. Na carta do Cavaleiro de Ouros deparamo-nos com a dimensão laboriosa, versátil e mutável do elemento Terra que está cm constante movimento. Ele é representado pela figura mitológica de Aristeu, chamado de "Guardião dos Rebanhos".

Aristeu era filho do deus-Sol Apolo e de uma mortal chamada Cirene. Ainda criança, ele foi entregue à Mãe-Terra, que o alimentou com néctar e ambrósia. As dríades ou três ninfas ensinaram Aristeu como coagular o leite para fazer queijo, construir colmeias e fazer a oliveira produzir a azeitona cultivada. Ele ensinou essas artes úteis às pessoas enquanto jovem ainda, viajando incessantemente pela África do Norte e Grécia, e angariando honras em seu caminho.

Quando Aristeu alcançou a maturidade, as Musas lhe ensinaram as artes da cura e da profecia, e o encarregaram de vigiar suas ovelhas que pastavam na Planície de Ftia. Foi ali que ele aperfeiçoou a arte da caça. Um dia Aristeu consultou o oráculo de Delfos, de seu pai Apolo, que lhe disse para visitar a Ilha de Keas (atual Zea ou Tzia), onde ele seria muito prestigiado. Embarcando imediatamente, Aristeu soube que uma praga havia atingido os ilhéus, pelo fato de criminosos secretos haverem se infiltrado entre eles. Aristeu condenou à morte os criminosos e a praga foi eliminada. Os keanos cumularam-no de gratidão. Ele então visitou a Arcádia e mais tarde a cidade de Tempe, na Tessália, onde as suas abelhas começaram a morrer e ele foi avisado por sua mãe a visitar o velho deus marinho Proteu, que era profeta, e forçá-lo a explicar o motivo da catástrofe. Aristeu saiu à sua procura e, encontrando-o, capturou-o. Forçado a responder, Proteu disse que a doença das abelhas foi causada por um infeliz episódio amoroso que resultou na morte acidental da mulher.

Em vista disso, Aristeu estava sendo castigado pelos deuses. Como reparação, ele ofereceu vários animais em sacrifício às divindades ofendidas, e das carcaças desses animais surgiu um enxame de abelhas que ele capturou e colocou em suas colmeias. Então, continuou suas viagens para a Líbia, dali para a Sardenha e, finalmente, para a Sicília. Depois se dirigiu para a Trácia, ainda irrequieto e em busca de outras tarefas. E, finalmente, fundou uma cidade com o seu nome, onde morreu respeitado por sua sabedoria. Aristeu, o Cavaleiro de Ouros, é a imagem da capacidade humana pelo trabalho e pelo serviço diligente. Ele não é realmente um herói, pois não enfrenta dragões ou missões perigosas, e o seu maior desafio é a cura de abelhas doentes. Mas, assim mesmo, ele é uma figura poderosa e criativa. A personalidade de Aristeu é aquela do amante do campo e amigo dos animais e das criaturas selvagens, considerando que todo trabalho é importante, desde que sirva a vida da Natureza. Apesar da limitação de seus objetivos, Aristeu nunca pôde ser acusado do grandioso orgulho que aflige tantos heróis gregos e que é a causa tanto de sua glória quanto de sua queda.

Ele é bondoso e confiável, com vontade de trabalhar com afinco nos assuntos que lhe dizem respeito.Apesar de quase todas as figuras da mitologia grega serem culpadas de estupro, sedução, assassinato ou outro crime qualquer (psicopatas?), é peculiar o fato de Aristeu aceitar de boa vontade uma missão cansativa e detalhada, cumprindo-a impecavelmente a fim de beneficiar algumas abelhas.

Aristeu representa o nosso lado humilde o suficiente para relacionar-se com as formas mais humildes da vida e que está sempre pronto a aprender mais sobre as facetas variadas e complexas da Natureza. O Cavaleiro de Ouros não é fascinante, mas é capaz de satisfação, porque as suas realizações são sempre cingidas de realismo e de objetivos humildes. Essa é a qualidade que nos permite aceitar de bom grado a tarefa que pode ser aborrecida e que oferece muito trabalho. Ele desempenha criteriosamente as tarefas da vida cotidiana. Aristeu não tem nenhuma pretensão à divindade e, no entanto, é filho de um deus e, depois de sua morte, ele foi venerado como divino.

No sentido divinatório, quando o Rei de Ouros aparece em uma abertura de cartas, chegou o momento de o indivíduo desenvolver a dimensão da personalidade que está confortável e firmemente ancorada nas tarefas cotidianas da vida. O Cavaleiro de Ouros pode entrar em nossa vida como um jovem trabalhador, humilde e gentil, faltando-lhe talvez imaginação, mas rico nas qualidades de confiabilidade e gentileza. Se essa pessoa entrar em nossa esfera de relacionamentos, isso pode ser interpretado como uma oportunidade para aprender mais a respeito desse nosso lado pelo cataclismo de outra pessoa.


7) influências do presente: O 9 de Ouros

A carta Nove de Ouros retrata Dédalo com suas mãos cruzadas em uma postura e sorriso de satisfação. Ele abandonou a sua túnica ocre e avental de couro e agora veste um traje ocre borda¬do a ouro; em sua cabeça, uma coroa de louros. Aos seus lados, vinhas carregadas de cachos de uva sobem por uma treliça e, mais distante, um cenário de montanhas verdejantes e um calmo mar azul. Junto ao artesão, amontoados no chão, nove pentáculos dourados. O Nove de Ouros retrata um estado de grande auto-satisfação. Dédalo arriscou-se em um empreendimento perigoso, trabalhou com afinco para desenvolvê-lo, assumiu os riscos, sofreu os consequentes perigos e agora admira as recompensas que dignamente mereceu.

A importância e a diferença do Nove de Ouros são que o prazer do artesão não se refere ao aplauso e ao reconhecimento público. Essa é a satisfação solitária da realização de coisas boas, o prazer da auto-suficiência e a realização decorrente dos próprios esforços. Dédalo pode dizer honestamente "eu consegui à minha maneira", pois sua adquirida riqueza é realmente um símbolo do sentido de auto-estima que somente pode decorrer do interior do indivíduo. O artesão fez as pazes com o seu passado obscuro e com seu período de perda e de exílio; ele também conseguiu enganar o rei Minos que o perseguiu em razão da sua decisão de ajudar a rainha e seguir a vontade do deus Poseidon.

O perigo agora ficou no passado e Dédalo pode sentir satisfação pelos seus esforços e sua astúcia que asseguraram a sua sobrevivência, riqueza e posição pelo resto de sua vida. Portanto, o Nove de Ouros é uma carta de recompensa e de realização aos nossos próprios olhos, sabendo que, mesmo que ninguém reconheça o valor do que foi realizado, é bem merecido ser reconhecido por nosso próprio interior. Há uma permanência e uma indestrutibilidade acerca da satisfação representada pelo Nove de Ouros que não está presente em qualquer outra carta dos Arcanos Menores. Essa satisfação depende de nada e de ninguém além de nós mesmos. Uma vez estabelecida, não pode ser destruída, mesmo que toda a riqueza nos seja retirada.

O Nove de Ouros é mais do que uma carta de realização material. Em um sentido mais sutil, ela implica a descoberta de um sentido profundo e permanente de auto-esti¬ma, angariado por meio do trabalho árduo ao enfrentar os desafios da vida no nível material e sobrevivendo a todos. . No sentido divinatório, o Nove de Ouros prevê um período em que o indivíduo pode estar honestamente satisfeito consigo mesmo e com o que conseguiu realizar. Muitas vezes, há um forte sentido de identidade, um sentimento de nossas habilidades especiais e o valor de nossa própria vida.
Essa carta reflete a satisfação solitária e auto-suficiente das coisas boas realizadas que não dependem da concordância e da aprovação de qualquer pessoa para promover o prazer e a profunda satisfação.

8) ambiente externo: O 6 de Copas

A carta Seis de Copas retrata Psique sentada sobre um rochedo e, atrás dela, um mar calmo. Em sua mão esquerda, ela segura e contempla o conteúdo de uma taça dourada. Em sua mão direita, os restos de seu buque de noiva de lírios brancos. Ao seu redor, outras cinco taças douradas.

O Seis de Copas é uma carta nostálgica. Aqui podemos ver Psique abandonada; o seu misterioso marido se foi e o magnífico palácio desapareceu; tudo o que ela tem são boas memórias. Entretanto, apesar da catástrofe, Psique parece estar tranquila, pois o Seis de Copas não é uma carta negativa. Com o ocorrido, Psique conseguiu
algo muito precioso. Ela realmente viu Eros e agora sabe que o ama pelo que ele é, e não pelo conforto e pelo prazer que ele lhe propor­cionava. Portanto, apesar da perda, ela descobriu algo a seu próprio respeito e é essa verdade que promove a harmonia que podemos ver nessa carta.

A calma e a serenidade que muitas vezes ocorrem depois de uma crise em nossas vidas são relacionadas a esse estágio da história. Aqui, os sonhos e as expectativas irreais do passado, por meio de provas e decepções, de certa forma se cristalizam em algo sólido e real. Psique assumiu o desafio de recuperar o seu amor perdido após o arrependimento e o remorso do Cinco de Copas e, portanto, está em paz consigo mesma. O seu amor tornou-se realidade e agora ela tem alguma coisa com que trabalhar. Nesses momentos, a nostalgia do passado sempre volta para nos assombrar, mas existe uma faísca de verdade nele e não se trata apenas de uma fantasia sentimental sem fundamento. Após a auto-recriminação do Cinco, o Seis de Co­pas representa uma retomada positiva na jornada de Psique para o seu objetivo.

No sentido divinatório, o Seis de Copas anuncia um período de serenidade que resulta das experiências dos sonhos do passado. Al­gumas vezes, um antigo amor volta do passado ou o sonho de um desejo antigo parece ser realizável em um futuro próximo. A ceguei­ra própria do estado de "estar apaixonado" solidificou-se e, apesar de o passado parecer maravilhoso, mas irrevogavelmente perdido, uma parte de sua promessa surge no presente, temperada e reforça­da. Essa carta implica a nostalgia a respeito do passado, mas com uma diferença: o passado pode levar ao futuro e o sonho passa a ser possível, e até próximo de realização.


9) esperanças e temores: O 4 de Copas

A carta Quatro de Copas retrata Psique, a recente noiva, sentada no magnífico palácio do deus Eros. Através de colunas brancas, vislumbra-se o mar. Aos dois lados de Psique, estão suas invejosas irmãs, uma vestindo preto e a outra, vermelho, ambas sussurrando que o seu noivo seria um terrível monstro; do contrário, por que haveria de ocultar-se nas sombras, visitando-a somente à noite? Psique assume um olhar descontente. À sua frente, quatro taças douradas.

Os Quatro de todos os naipes dos Arcanos Menores são aqueles do descontentamento divino. Apesar de tudo parecer alegre e compensador, ainda existem dúvida e suspeita. O Quatro de Copas retrata esse descontentamento em nível de sentimento. Psique vive na opulência e é visitada à noite pelo marido amante e carinhoso, mas mesmo assim não está satisfeita. Suas invejosas e ciumentas irmãs, de certa forma, são os impulsos interiores da própria alma, pois, apesar de negativos e de provocar-lhe dúvidas, sondam um pro­blema real: a cegueira e a ignorância de Psique quanto a quem e o que é o seu verdadeiro consorte.

Assim, a realização inicial do Três provou ser uma decepção, pois há uma crescente percepção de que alguma coisa está errada, algo que não está sendo considerado. Todos temos essas horríveis irmãs dentro de nós, uma espécie de lado sombra de nossa personalidade que mais parece desejar-nos o mal e, no entanto, somente quer o nosso bem, porque ele nos obriga a analisar mais profundamente e a exigir mais honestidade em nosso tratamento emocional com as pes­soas. Caso Psique tivesse permanecido em seu estado cego e satis­feito de ignorância, ela nunca teria crescido e todo o potencial de seu relacionamento com Eros e o seu próprio "eu" nunca seria alcança­do. Portanto, o Quatro de Copas, a carta dos sentimentos desconten­tes e da insatisfação emocional, por nenhuma razão aparente, é tanto negativo quanto positivo. Ele retrata todas as nossas vãs suspeitas e dúvidas a respeito das outras pessoas; e isso resulta na semente de todas as traições. Entretanto, ele ainda retrata uma misteriosa força inteligente funcionando no indivíduo que, de alguma forma, sabe que ainda há um longo caminho pela frente.

No sentido divinatório, o Quatro de Copas prevê um período de insatisfação, de tédio e de depressão em um relacionamento. Há um sentimento de ter sido abandonado ou trapaceado, apesar de que os trapaceiros somos nós mesmos, graças às nossas expectativas irreais. Essa insatisfação pode levar a um demorado e tácito ressentimento ou pode levar a uma análise mais profunda dos relacionamentos, um ca­minho mais árduo porque as suposições e fantasias anteriores serão então desafiadas.


10) fechamento: Os Namorados

A carta dos namorados retrata um jovem formoso vestido em simples trajes de pastor, segurando um cajado na mão direita; em sua mão esquerda, uma maçã dourada. Três mulheres se exibem, pois se trata de um concurso de beleza e a maçã dourada será o prémio da escolhida. A mulher à esquerda tem um porte majesto­so e maduro, com cabelos castanhos e olhos claros, um vestido de cor púrpura e porta um diadema dourado na cabeça. Ela oferece ao jovem o globo do mundo. A mulher ao centro é jovem, sedutora e de cabelos pretos. Sua túnica transparente cor-de-rosa revela mais do que esconde. Ela oferece um cálice de ouro. A mulher à direita é fria e casta, vestida com armadura completa de luta; seus cabelos claros estão quase totalmente cobertos pelo elmo de guerreiro. Ela oferece uma espada. Atrás das quatro figuras, estende-se um cenário ondulante de colinas verdejantes.

Aqui encontramos o príncipe Paris que foi incumbido por Zeus de presidir um concurso de beleza entre as três deusas - Hera, Afrodite e Atena. Quando Paris nasceu, um oráculo previu que um dia ele representaria a derrocada do império do pai. Com medo dessa pro­fecia, o rei Príamo, seu pai, sentenciou-o à morte, abandonando-o à sua própria sorte no topo de uma colina. Mas um pastor que por ali
passava o salvou e criou. Ele cresceu pastando ovelhas e passava horas a imaginar conquistas românticas, pois era um jovem bonito e encantador.

Quando, no Monte Olimpo, uma disputa ocorreu entre Hera (rai­nha dos deuses), Afrodite (deusa do amor sensual) e Atena (deusa da justiça) quanto à mais bela das três, Zeus decidiu que Paris, com sua rica e vasta experiência do assunto, seria o melhor juiz para o concurso. Hermes foi enviado para informar o jovem dessa dúbia honra que lhe era conferida pelo rei dos deuses.

Inicialmente, Paris recusou o pedido, sabendo muito bem que, ao escolher uma delas, as outras duas nunca o perdoariam. Mas Her­mes o ameaçou com a ira de Zeus e Paris então sugeriu dividir a maçã em três partes, pois de que forma ele poderia fazer uma esco­lha entre tais beldades? Mas Hermes também não aceitou essa descul­pa. Por conseguinte, as deusas se exibiram perante o jovem. Hera ofereceu-lhe o governo do mundo, caso a escolhesse; Atena ofereceu torná-lo o mais poderoso e justo dos guerreiros; e Afrodite simples­mente abriu a sua túnica e ofereceu-lhe o cálice do amor, prometendo-lhe a mulher mortal mais bonita do mundo como esposa.
O resultado era previsível. Sendo jovem e inexperiente com respeito aos seus valores internos, Paris escolheu Afrodite sem qual­quer hesitação.

O seu prémio foi a famosa Helena, rainha de Esparta, que, inconvenientemente, era casada. Hera e Atena sorriram e pro­meteram que não o culpariam por sua escolha e, em seguida, saíram de braços dados confabulando a ruína de Tróia. E assim começou a conflagração da guerra troiana, que se iniciou com a raiva do marido traído e terminou com a ruína total da cidade de Tróia e de toda a casa real. O oráculo comprovou a sua autenticidade.

No sentido interno, o Juízo de Paris, como ficou conhecido na Mitologia, é uma imagem do primeiro grande desafio da vida em face do desenvolvimento individual: o problema da escolha no amor. Esse dilema não diz respeito unicamente à decisão entre duas mu­lheres ou dois homens, também se refere aos nossos valores, porque as escolhas refletem o tipo de pessoa que queremos ser. Por ser jovem e em razão de suas necessidades sexuais, Paris não pôde realmente escolher de uma perspectiva madura; sua escolha derivou de seus desejos e não de suas verdadeiras necessidades. Aqui está o problema do livre-arbítrio contra as compulsões dos instintos.

As consequências das escolhas no amor são enormes, pois afe-tam todos os níveis da vida. A compulsiva escolha de Paris resulta derradeiramente no grande conflito da Guerra de Tróia. Aqui não se trata da escolha "errada", pois ele ainda não está centrado o sufi­ciente para comparar a atração erótica de Afrodite com a sedução da esposa de outra pessoa. Também pouco conhece de si mesmo para decidir se o poder terreno ou a liderança de um guerreiro são igualmente importantes para ele. O concurso lhe é imposto assim como os desafios que surgem para todos nós antes que estejamos prontos para eles e, de certa maneira, o seu "erro" é necessário e inevitável.

O desejo por outra pessoa implica o desenvolvimento dos valores individuais e o autoconhecimento por meio das confusões e dos conflitos que derivam de nossas escolhas. Essa situação não pode ser evitada, por ser arquetípica. Paris é a nossa parte que, go­vernada pela incontida necessidade da satisfação do desejo, ainda não pode enxergar que todas as opções têm consequências pelas quais somos, no fim, responsáveis. Sem passar por meio da iniciação pelo fogo, não podemos entender como criamos o nosso futuro, mas colocamos a culpa no destino, no acaso ou em outra pessoa, em vez de colocá-la em nossa própria falta de reflexão.

No sentido divinatório, quando a carta dos Namorados aparece em uma abertura de cartas, ela prevê a necessidade de algum tipo de escolha, geralmente no amor. O Louco, que descobriu a sua própria dualidade, agora deve colocar os seus valores em teste. Às vezes isso significa um triângulo amoroso, mas também pode significar o problema de um casamento apressado ou a escolha entre o amor e uma carreira profissional ou alguma outra atividade criativa. Essa carta implica a necessidade de analisar cuidadosamente as conse­quências de nossas próprias escolhas, em vez de sermos cegamente impelidos, como Paris, a uma conflagração de graves consequências.