domingo, 26 de agosto de 2018

Abertura de cartas 9 de ago. de 18 – autocomplete weird.... {e antes que agosto acabe, analisemos novamente este "jogo"}

1- [centro da questão] – O Cinco de Paus
2- [o que cruza o x da questão] – O Ás de Copas
3- [cabeça, questões racionais] – A Temperança
4- [pés, questão emocional] – O Ás de Espadas {jumping into conclusions: cabeça e pés estão trocados! “metendo os pés pelas mãos!”]
5- [passado] – A Morte – Hades e os recomeços
6- [futuro] – O Pajem de Paus
7- [presente] – O Pajem de Copas
8- [ambiente – o que tudo o que está em volta te diz?] – A Força
9- [esperanças & temores] – O Oito de Paus
10- [fechamento da questão] – O Três de Copas

--

Agora, na iminência de iniciar a leitura, olhando para “O Cinco de Paus”, me lembrei que andei lendo sobre o 4 de paus, que um dia avistei numa carta dentro de um pequeno 'bowl', na casa de um homem que recém tinha conhecido. A carta, na verdade, era um cartão de visitas, mas não me lembro do outro lado... só me lembro que este lado era o de uma carta tradicional de 4 de paus.

Embora isso tenha me intrigado por vários meses, embora esta carta, inclusive, tenha surgido em jogos por aí, só recentemente, depois de muito ler sobre ela, comecei a ter algum juízo a respeito de seu significado de recompensa/reinício. É uma carta que fala sobre ter vencido a/s primeira/s etapa/s de conquistas, sobre ser um momento a ser celebrado, porém, não esquecer: é apenas o início, e ainda há muito trabalho a ser feito, muitos obstáculos a serem vencidos, portanto, não se abata; tome fôlego e continue a navegar.

--

1- [centro da questão] – O Cinco de Paus

A carta Cinco de Paus retrata a luta de Jasão com o dragão que vigia o Velocino de Ouro. Enorme e coberto de escamas, o dragão sopra fogo de sua boca enquanto, com suas garras, ele segura o Velocino. Jasão o enfrenta com duas tochas flamejantes. Ao seu lado, está a feiticeira Medeia, filha do rei Aetes da Cólquida, que por ele se apaixonou e o ajuda nessa empreitada. Ela é linda com seu cabelo preto, trajando um vestido vermelho e segurando três tochas flamejantes.

O Cinco de Paus representa a luta. Aqui, a visão criativa colidiu com a realidade do mundo na forma do dragão que, na Mitologia, é a força primitiva da terra que resiste à mudança. 0 problema em aplicar limites na vida prática - assim como as nossas próprias limitações da inércia regressiva - é o maior desafio para qualquer indivíduo que deseja expressar o poder de sua imaginação criativa na vida real.

Essa luta com o dragão pode assumir a forma de problemas financeiros ou o problema de habilidades insuficientes (quando o indivíduo precisa estudar ou treinar mais para dominar uma profissão), ou a dificuldade de um corpo fraco (pelo cansaço ou por doença, causado pelo excesso de esforço enquanto esteve impacientemente preso à visão), ou o dilema de ajustar a visão ao mercado prevalecente (que inevitavelmente é conservador demais, cauteloso ou desvalorizado); essa carta simboliza dificuldades em nível concreto. Muitas vezes essas dificuldades concretas coincidem e são causadas pelo medo do insucesso e por uma profunda apatia que, em si mesmos, também fazem parte da imagem do dragão. Mas o dragão deve ser enfrentado, do contrário Jasão não poderá levar o Velocino, e os obstáculos que surgem durante o trabalho criativo - interno ou externo - não podem ser evitados. Inevitavelmente, a imaginação colidirá com a resistência da realidade e, de alguma forma, as duas deverão acomodar-se.

No sentido divinatório, o Cinco de Paus prevê um período de luta durante o qual o indivíduo deve enfrentar o dragão da realidade material para alcançar a sua meta. Assuntos cotidianos podem começar a dar errado e é preciso prestar mais atenção às exigências e aos limites da realidade concreta; o indivíduo também pode ficar preso a um humor depressivo ou apático. Comprometimentos devem ser assumidos, mantendo ao mesmo tempo a integridade da visão original.

→ No tarô de Marselha:

A Carta 5 de Paus diz sobre algo que você está desprendendo muito esforço e atenção, mas não dará certo.

Ela surge como um aviso em meio a um período tempestuoso te alertando que provavelmente seja melhor você trocar de caminhos para alcançar os objetivos. Você se sentirá facilmente deslocado e as opiniões alheias te balançarão e irritarão muito. Coisas pequenas e sem grande importância gerarão desavenças e discussões.

A luta não será somente externa, mas interna também, você estará em um momento de grandes dúvidas. Todo seu esforço não traz frutos e você não sabe mais que direção seguir. O futuro será imprevisível. É o momento de lutar. Lutar contra os pensamentos e impulsos ruins, lutar para ignorar atitudes alheias e se concentrar em seus propósitos.

O Cinco de Paus dá um sinal de que você está remando o barco de sua vida de forma errada. Pior do que lutar com problemas externos é você se convencer de que você é o errado. O autoconhecimento para tomada de decisões será necessário para você poder encontrar as atitudes certas em momentos propícios. O jogo de Tarot poderá te auxiliar muito nessa fase com informações mais claras e precisas.

A imagem da carta simboliza uma disputa, isso significa que nesse momento você será muito importunado e atritos surgirão continuamente.

O Lado Negativo da Carta 5 de Paus
O 5 de Paus no Tarot quando se apresenta como sombra quer lhe dizer que você desprende forças excessivas para a realização de algo. É melhor agir com cautela nesse momento incerto e conturbado para não piorar sua situação.

Entenda a Carta 5 de Paus no Amor
No amor essa carta também não é favorável. Ela avisa que discussões irão surgir, e será necessário a reflexão para sair delas. Procure evitar atritos e desentendimentos. Você ficará facilmente zangado ou chateado com as situações, mas procure entender o lado da outra pessoa. Nesse momento é muito importante a análise antes das atitudes.

Nem sempre você estará certo, é preciso entender isso e abandonar o orgulho. Há muito mais a se perder alimentando uma discussão, do que se dando por vencida e refletindo depois sobre os fatores que a envolve.

Se está solteiro, mude suas atitudes para enxergar a realidade, talvez você esteja esperando por algo que não é seu, quando na verdade o amor está bem próximo.

Entenda a Carta 5 de Paus no Trabalho
O Cinco de Paus indica que no trabalho o momento não será favorável. Poderão surgir desentendimentos com superiores, por isso procure não retrucar muito e concentre em suas tarefas. Você ficará facilmente irritado com atitudes alheias, e terá dificuldade em entender as questões dos colegas. Faça o possível para não discutir.

Se está desempregado, este é o momento para refletir em seu posicionamento e no que está buscando em sua vida. Pense bem antes de qualquer atitude.

Apesar das mensagens negativas, essa carta surge como um alerta, um aviso para você se precaver. O 5 de Paus é um empurrão para que você se mantenha em pé diante dos problemas, também para lembrar que é tudo uma fase e poderá passar de forma natural, se você se focar no que realmente é necessário. Aceite que para alguns planos alcançarem os resultados que você almeja será necessário mudar o curso, mesmo que você já tenha o percorrido com muita luta. Voltar ao ponto inicial e procurar por outras possibilidades pode ser a chave de seu sucesso.


2- [o que cruza o x da questão] – O Ás de Copas

O NAIPE DE COPAS

As Cartas Numeradas

Na realidade, a lenda de Eros e Psique é o desenvolvimento e o amadurecimento dos sentimentos, e a capacidade do relacionamento com outra pessoa.

De certa forma é uma jornada, uma viagem, mas diferente da grande jornada do Louco pelos Arcanos Maiores, pois se trata de uma aventura específica que diz respeito ao tema central do coração humano.

Psique (em grego, a palavra significa "alma") era uma princesa de grande beleza e de quem a própria deusa Afrodite tinha ciúmes. Ela ordenou ao seu filho Eros, o deus do amor, que castigasse a audaciosa mortal. Logo depois, um oráculo mandou que o pai de Psique, ameaçado de terrível calamidade, levasse a filha a um rochedo solitário na qual ela se tornaria vítima de um monstro. Mas, quando Eros viu a jovem que deveria ser sacrificada, ficou tão surpreso com a sua beleza que levou um tombo e acabou picando-se com uma de suas flechas - aquelas que usava com tanta eficiência para incutir amor tanto em mortais quanto em deuses. E, assim, Eros apaixonou-se por quem sua mãe lhe ordenara destruir.

Tremendo, mas resignada, Psique aguardava em seu rochedo solitário a realização do oráculo quando, de repente, ela percebeu que estava sendo levada gentilmente pelos ventos a um magnífico palácio. Ao cair da noite, quando Psique quase dormia, um ser misterioso apareceu na escuridão dizendo-lhe ser o marido ao qual era destinada. Ela não podia lhe ver as feições, mas a sua voz era gentil e suas palavras eram cheias de ternura. O casamento foi devidamente realizado, mas ao alvorecer, antes de retirar-se, o estranho fez com que Psique prometesse nunca tentar ver o seu rosto.

Psique não era infeliz com a sua nova vida e nada lhe faltava, com exceção da deliciosa presença do marido que somente a visitava durante a noite. A sua felicidade teria continuado dessa maneira não fosse por suas duas invejosas irmãs, que plantaram a semente da suspeita em seu coração, dizendo que o marido devia ser um monstro horrível já que lhe escondia o rosto. Tanto insistiram que uma noite, apesar de sua promessa, Psique levantou-se da cama que compartilhava com seu marido e acendeu uma lanterna iluminando o rosto misterioso. Em vez de um monstro terrível, ela contemplou o mais lindo jovem do mundo - o próprio Eros. Ao pé da cama, estavam a sua aljava e as suas flechas. Chocada, Psique virou-se em direção à cama, mas caiu e feriu-se com uma das flechas, apaixonando-se profundamente pelo jovem deus que ela, anteriormente, havia aceitado porque ele a amava. Ao cair, ela despertou Eros, que a repreendeu por sua falta de fé e imediatamente desapareceu. O palácio também desaparecera e a pobre Psique encontrou-se novamente no rochedo solitário no seio de um apavorante isolamento.

No início, ela considerou suicidar-se e se jogou em um rio que estava próximo, mas as águas levaram-na delicadamente para a margem oposta. Dali em diante, ela passou a vaguear pelo mundo à procura do amor perdido, perseguida pela ira de Afrodite e forçada pela deusa a submeter-se a uma série de terríveis provações.

Entretanto, ela conseguiu superar todas as provas, assistida pelas criaturas da Natureza - as formigas, os pássaros, os caniços. Ela teve de descer ao Submundo, cujo acesso era proibido a qualquer ser humano. Finalmente, sensibilizado com o arrependimento de sua esposa, que nunca deixara de amar e de proteger, Eros implorou a permissão de Zeus para que Psique se reunisse a ele. Afrodite esqueceu o seu rancor e as segundas núpcias dos dois amantes foram celebradas com grande alegria.

O Ás de Copas

A carta Ás de Copas retrata uma linda mulher de cabelos pretos que emerge de um mar espumante. Ela segura uma única e grande taça dourada. Nesta carta, encontramos a deusa iniciadora que é a força ativa responsável pela lenda romântica de Eros e Psique: trata-se de Afrodite, que nasceu das águas espumantes, a deusa do amor em seus mais nobres e também mais degradantes aspectos.

Na Mitologia, o nascimento de Afrodite foi muito estranho. Quando, pela insistência de sua mãe Gaia, o astuto Cronos castrara o seu divino pai Urano, ele jogou os seus genitais ao mar. Eles flutuaram na superfície das águas produzindo uma espuma branca da qual surgiu Afrodite. Transportada pela respiração de Zéfiro, o Vento do Oeste, a deusa foi levada para as margens de Citera (Grécia) e finalmente parou nas praias de Chipre. Ela foi recebida pelas Horas, as deusas das estações, que a vestiram ricamente, enfeitaram-na com joias e a conduziram para a assembleia dos imortais.

Afrodite era uma deusa complexa. Essência da beleza feminina, tudo nela era puro charme e harmonia. Mas também podia ser ciumenta, maliciosa, vaidosa, enganadora, traiçoeira, preguiçosa e vingadora. Ela espalhou por toda a natureza a alegria de viver, embora também fosse a divindade temerosa que enchia os corações humanos com o frenesi da paixão. As vítimas escolhidas por Afrodite sofriam, pois chegavam a trair os seus próprios pais, a abandonar os seus lares ou eram acometidas por paixões animalescas ou incestuosas. Ao mesmo tempo, Afrodite protegia as uniões legítimas e presidia a santidade do casamento.

Em suma, Afrodite é a imagem da força da Natureza. O significado dos Ases nos quatro naipes dos Arcanos Menores é a erupção inicial da energia vital, e a deusa de cabelos pretos que emerge do mar segurando a taça dourada representa o surgimento do sentimento primordial. Esse é o impulso para o relacionamento e, se não estivermos prontos, então a outra pessoa não aparecerá. Na lenda, Eros
e Psique nunca teriam se encontrado se não fosse por Afrodite, pois foi o seu capricho que promoveu a ação da história. Portanto, o As de Copas implica o início da grande jornada pelo domínio do coração, no qual a abundância de sentimentos irrompe e impulsiona o indivíduo ao relacionamento.

No sentido divinatório, o Ás de Copas anuncia uma disseminação de sentimento que, apesar de não ter sido evidenciado, surge como primitivo, vital e, muitas vezes, avassalador. No início de um relacionamento, o potencial está implícito, embora nem sempre seja manifestado. E o indivíduo está pronto para embarcar na jornada do amor.

No tarô de Marselha:

A carta Ás de Copas no Tarot revela uma forte energia de alegria, amor, prosperidade e abundância que poderão contagiar aqueles que viraram a carta e também os que convivem com o consulente.
Uma taça única e grande ocupando a imagem do Ás de Copas demonstra a abundância e a possibilidade de regozijo pela conquista de algo e a realização dos sonhos planejados.

A resolução de todos os problemas com força vital, energia, ímpeto e equilíbrio trazem proteção para os objetivos, plenitude e estratégia nas diretrizes que se deseja traçar e o estabelecimento da alegria pessoal.

A carta sugere diversos aspectos positivos e aconselha sobre a busca da felicidade e a harmonia que deve ser prioridade para atingir o equilíbrio. É importante ressaltar que um cálice é demonstrado de forma grande para apontar a abundância e o equilíbrio.

Fortes amizades, boas relações e sociedades também são expressões desse arcano 1 de Copas do Tarot. Os envolvimentos que se iniciarem nessa fase serão cheias de bons sentimentos e conexões.

O Lado Negativo da Carta Ás de Copas
Como aspecto negativo este arcano fala sobre desengano, tristeza e até a possibilidade de uma situação de falsidade ocorrendo na vida do consulente. Vale a pena abrir os olhos e não se deixar enganar por situações que pareçam de confiança mas que podem ser ilusões.

Entenda o Ás de Copas no Amor
No Tarot o Ás de Copas é um prenúncio para o amor em diversos aspectos. Demonstra que o sentimento existente pode se fortalecer e trará cada vez mais alegria e plenitude. Além disso, para aqueles que estão em busca da pessoa ideal esse é o momento propício para manter os olhos abertos. A pessoa esperada poderá em breve cruzar o seu caminho, permita viver essa felicidade em sua vida, não reprima seus sentimentos.

O 1 de Copas fala sobre um mundo de libido pleno de fantasias íntimas, paixões intensas e fortes relações. A água, que é o elemento da carta, demonstra as emoções contidas nesse cálice que apresentam-se repletas e demonstram a plenitude do amor. Aproveite para realizar desejos e se divertir com o seu parceiro.

Entenda o Ás de Copas no Trabalho
No mundo do trabalho este arcano demonstra que as pessoas que prendiam e impossibilitavam o seu crescimento não serão páreos para a sua energia. Aproveite para colocar as boas ideias em prática e demonstrar todo o seu potencial. Você não precisa se sentir aprisionado pois o Universo está abrindo as portas para novas possibilidades.

Caso você esteja em busca de um novo desafio (desempregado ou procurando encontrar um novo emprego) existem grandes chances de que isso ocorra o mais rápido que você imagina.

O arcano Ás de Copas do Tarot tem aspectos positivos e demonstra o equilíbrio e abundância provenientes da água e chegando em sua vida. É o momento certo para fortalecer relações, novos inícios e plenitude. Não se esqueça de praticar também a gratidão sempre, para manter para toda a vida essa boa energia!


3- [cabeça, questões racionais] – A Temperança

A carta da Temperança retrata uma linda e jovem mulher de cabelos pretos, trajando túnicas com as cores do arco-íris, e asas com cores de várias tonalidades. Ela está com um dos pés dentro de um rio, límpido e o outro sobre a terra seca. Ao longo das margens do rio crescem lírios vermelhos. Atrás dela, um arco-íris estende-se pelo céu. Em suas mãos ela segura dois cálices, um de ouro e outro de prata, e despeja água de um para o outro.

Aqui encontramos íris, a deusa do arco-íris e mensageira de Hera, rainha dos deuses. íris era a contraparte feminina de Hermes, o emissário de Zeus, e era amada tanto pelos deuses quanto pelos mortais por causa de sua natureza bondosa e afetuosa. Se Hera ou Zeus quisesse transmitir uma mensagem aos homens, íris voava ligeiramente para a Terra, onde assumia feições humanas ou aparecia em sua forma divina. Ela fendia o ar tão rápido quanto o próprio vento Zéfiro, que era o seu consorte. Outras vezes ela deslizava pelo arco-íris que fazia ponte entre o Céu e a Terra. Ela transpunha as águas com a mesma facilidade e, até o Submundo abria-se para ela quando, a pedido de Zeus, ali se dirigia para reabastecer o seu cálice com água do rio Estige, da qual os imortais se serviam para se proteger dos feitiços malignos. Quando os deuses voltavam de suas jornadas para o Olimpo, íris desatrelava os cavalos de suas carruagens e servia néctar e ambrósia aos viajantes.

íris não somente entregava as mensagens de Hera, mas também executava as suas vinganças, apesar de, mais frequentemente, oferecer ajuda e assistência. Ela preparava o banho de Hera, ajudava-a com a sua toalete e, dia e noite, permanecia ao pé do trono de sua patroa. Em uma versão da Mitologia, foi íris e não Afrodite que deu à luz Eros, o deus do amor.

No sentido interior, íris, deusa do arco-íris, é uma imagem da segunda das qualidades ou faculdades que o Louco deve aprender para formar uma individualidade estável: um coração equilibrado.

Enquanto Atena, que incorpora a Justiça, é justa e objetiva, íris, que incorpora a Temperança, é boa e misericordiosa, e a sua compaixão não é enjoativa nem sentimental. íris está ligada à função do sentimento, que é diferente do que chamamos de emoção, pois esta é a reação visceral de uma situação, enquanto o sentimento é uma ativa e inteligente faculdade de escolha. A função do sentimento é ser ponte em constante mudança entre os opostos, um atencioso sentido das necessidades de uma situação particular visando à harmonia e ao relacionamento como meta final. E assim, íris despeja água incessantemente de um cálice para o outro, porque o sentimento deve fluir de modo constante e ser renovado de acordo com os requisitos de cada momento. Se os preceitos éticos de Atena são necessariamente estáticos e universais, o objetivo da harmonia de íris exige um perpétuo ajuste fluido de sentimento, algumas vezes positivo e outras vezes negativo. Dessa forma, ela pode oferecer uma atenciosa assistência ou executar a vingança de Hera. Mas derradeiramente ela serve aos propósitos femininos em vez dos masculinos, e qualquer que seja a resposta mutante do fluxo - até mesmo raiva e conflito, a meta é sempre a cooperação, a harmonia e um relacionamento melhor.

Geralmente não pensamos em sentimento como uma função inteligente, como ocorre com o pensamento racional. No entanto, as duas cartas, a Justiça e a Temperança, são consideradas tanto opostas quanto complementares. Atena e íris são duas imagens contraditórias, uma servindo o Pai de cuja cabeça nascera; a outra, a Mãe; uma sustentando a verdade abstraía mesmo à custa do coração individual, a outra protegendo o coração individual mesmo à custa da verdade abstrata. Apesar de essas duas deusas não serem inimigas na Mitologia - pois íris não tinha inimigos, no entanto elas podem ser inimigas dentro de nós, pois muitas vezes oferecerão diferentes soluções para um mesmo problema. Em que se baseia a nossa decisão: no pensamento racional ou nos ditames do que os nossos sentimentos indicam ser o caminho apropriado para a preservação do relacionamento? A presença dessas duas figuras em sequência nos Arcanos Maiores sugere que o Louco, representando cada um de nós, deve integrar ambas. Por isso, tendo aprendido por meio de Atena a pensar claramente, o Louco encontra íris, a deusa do arco-íris, e deve aprender a delicada avaliação do sentimento que é tão diferente da primitiva emoção reativa ou do sentimentalismo hipócrita.

Mas até íris, a deusa do arco-íris, pode ser ambivalente. A constante mudança de sentimento para preservar o relacionamento pode produzir a estagnação, porque nada além do sentimento pode fazer com que seja impossível respirar. Nada pode ser falado a respeito, nenhuma diferença discutida, nenhum conflito que possa levar ao crescimento, porque a harmonia é tudo. Esse estado não permite espaço para a separação porque ela ameaça a solidão, e íris, amiga tanto dos deuses como dos mortais, podendo funcionar em todos os níveis da vida, deverá sempre servir alguém com devoção e não pode existir em seu próprio direito. Portanto, a Temperança sem a Justiça torna-se água estagnada, na qual nenhuma mudança é permitida ocorrer e a mente sufoca de mero tédio.

No sentido divinatório, quando aparece a Temperança na abertua de cartas, ela implica a necessidade de um fluxo de sentimento no relacionamento. íris, a guardiã do arco-íris, sugere o potencial para a harmonia e a cooperação, resultando em um bom relacionamento ou em um casamento feliz. Somos desafiados com o problema de aprender a desenvolver um coração equilibrado e, ao mesmo tempo, sermos gentilmente lembrados de que o Louco não pode permanecer para sempre até mesmo com a linda íris, e deve passar adiante para a Lição Moral seguinte.

No tarô de Marselha:

Uma mulher com rosto feminino e traços masculinos derrama água de um vaso para o outro. As polaridades reveladas na carta A Temperança do Tarot mostram a renovação da vida, alquimia, flexibilidade e equilíbrio.

A Temperança traz a conexão com o mundo espiritual, principalmente com os anjos que são mensageiros divinos que transitam entre os mundos dos vivos e dos seres superiores. A água que flui de um vaso para o outro é o símbolo do fluxo da vida e do movimento que vive a espiritualidade do homem.

Razão, emoção, espírito… Os três elementos ponderados e equilibrados em uma pirâmide revelam o que você deverá alcançar nos próximos tempos de sua vida.

A possibilidade alquímica e a transformação da água refletem a capacidade de transmutação que todos possuímos dentro de nós e nos indica como poderemos utilizar essa energia para mudarmos. As palavras principais que definem essa carta são: transmutação, trégua, temporalidade e transformação.

Os quatro pilares que coordenam a forma que lidamos com as nossas vidas são: material, sentimental, mental e espiritual. A carta A Temperança no Tarot demonstra os pontos em que esses elementos são afetados pela energia da carta.

Para o futuro o arcano A Temperança demonstra a necessidade de prestar a atenção para não cair em desordem e em desequilíbrio. É importante não ser passivo e não se submeter aos percursos e aspirações que podem se basear em areia e não em concreto.

O futuro pede para que o exercício da paciência, aceitação, flexibilidade e felicidade sejam exercidos com cuidado. Ao mesmo tempo a conciliação e a moderação são fundamentais para o equilíbrio com o outro.

O Lado Negativo da Carta A Temperança
Você é uma pessoa muito maleável e os outros conseguem te persuadir facilmente. Costuma dar ouvidos e atenção a todos somente para agradá-los. Tome frente as suas decisões, exponha seu ponto de vista quando necessário, não viva a sombra dos outros nem seja tão facilmente influenciado. Quanto mais você viver baseado em percepções de outras pessoas, mais você irá perder a sua identidade e se magoar.

{{{{estou lendo sobre a carta Temperança no livro do Jung. Ao longo da leitura tive vários insights sobre morte e vida e divindade (vale dizer já que a carta da Morte está logo à frente desta abertura de cartas, na posição do Passado. E vale relembrar também que me confundiu, antecipadamente, a Temperança na carta de cabeça, e o Ás de Espadas (Atena) na carta de pé – parece trocado o racional com o emocional – isso poderia significar que me emociono de modo muito controlado, e acabo por deixar tanta reflexão me paralisar e me impedir de lidar com os fatos quando eles se apresentam? – a Temperança fala sobre 3 virtudes cardeais: Moderação, Fortaleza e Prudência (vale dizer, outra vez no mesmo tom, que a carta da Força está logo adiante, na posição do Ambiente).

Ao longo desta leitura sobre a Temperança, diversas vezes me vi confrontando a questão do Divino, e deus, em si. Achei curioso e controverso, por exemplo, como escrevi Divino com maiúscula e deus com minúscula. E também usei os adjetivos no feminino. A Temperança para mim é essa confusão de símbolos e significados, que eu, de algum modo, antecipei nos meus exercícios prévios de desenho e escrita. Por exemplo, há alguns meses eu iniciei uma série de desenhos dípticos, absolutamente sem pensar nisso, e a primeira dupla que pintei foi “O oposto do AMOR é o MEDO”, e pintei com as palavras em caixa alta, grandes, e pintadas em cores opostas, azul e vermelho, exatamente como opostos são exaltados nesta carta do tarô de Marselha, inclusive nessas cores. Antes de ler sobre esta carta, chamei a série de desenhos em lápis e aquarela, já bastante adiantados, de “Dípticos Incongruentes”. A Temperança fala disso, sobre o medo ser o oposto paralisante do amor, e também sobre a dualidade de tudo o que fazemos na vida.

Outra coisa que costumo dizer bastante, e não sei bem de onde vem, é sobre a energia espiral. Sempre digo que se você está num bom astral, uma espécie de espiral te puxa para cima e os eventos positivos vão se encadeando. E o contrário também acontece do mesmo modo; se você entra numa onda negativa, tudo começa a dar errado e ficar ruim e você se sente sendo sugado num redemoinho água abaixo. É desesperador – vem daí os ataques de pânico, talvez? Eu sempre associei ao pânico extremo o afogamento, a falta de ar. E só agora me ocorreu que todos morremos sem ar. Antes disso, porém, quando estamos num espiral negativo e violento desses sugando para baixo, é muito importante lembrar que podemos perfeitamente nadar contra a maré. Na maioria das vezes dá certo e saímos vivos. É importante encontrar aquele “turning point” e mudar a direção do curso.}}}}}

A carta de cabeça fala sobre equilíbrio, comunicação e capacidade de manter as coisas acontecendo.


4- [pés, questão emocional] – O Ás de Espadas {jumping into conclusions: cabeça e pés estão trocados! “metendo os pés pelas mãos!”]

A carta do Ás de Espadas retrata uma linda mulher em armadura completa e elmo de batalha. Ela assume uma postura ameaçadora e segura uma espada de gume duplo. Atrás dela, um cenário de picos nevados e um céu cinzento carregado de nuvens.

No As de Espadas, encontramos novamente Atena, a deusa da justiça, com a qual nos deparamos na carta da Justiça dos Arcanos Maiores. Apesar de não ter sido a iniciadora da maldição da Casa de Atreu, assim mesmo é ela quem a soluciona quando Crestes a ela se dirige em seu desespero. A espada de Atena é de gume duplo, pois o poder de corte da mente, com a sua especial capacidade humana de formular ideias e convicções que estimulam as ações e as consequências dessas ações, pode gerar um terrível sofrimento e, ao mesmo tempo, soluções novas e sublimes. Por conseguinte, a espada de Atena corta dos dois lados, pois a apaixonada e até rígida aderência a um princípio é quem dá início ao conflito da lenda; e é o surgimento de um novo e mais viável princípio que resolve e acaba com ele.

Tal como o Ás de Copas e o Ás de Paus, o Ás de Espadas anuncia o surgimento de energia primordial e, aqui, ela é a erupção inicial de uma nova visão do mundo. Mas essa nova percepção ameaça imediatamente a antiga ordem e, dessa forma, o Ás de Espadas, apesar de sua energia ser poderosa e potencialmente criativa, assinala o início de um grande conflito. Muitas vezes, o despertar dos poderes mentais significa um inevitável embate com as crenças que, anteriormente, fizeram parte de nossas vidas.

Uma nova visão das coisas não é tão simples quanto parece, pois nós, seres humanos, somos famosos por provocar guerras e sermos indulgentes com os terríveis atos de selvageria em nome de um novo princípio. É só olhar para a Revolução Francesa de 1789 e para a Revolução Russa de 1917 para entender a força de uma nova ideia, e a frequência com a qual ela provoca um grande conflito antes de ser integrada na vida. Até em um nível mais pessoal, a nova energia primordial da mente que desperta à vida geralmente precipita argumentos, debates e disputas, pois devemos experimentar tudo o que é novo e fazer valer a nossa autonomia mental antes de qualquer possível diálogo ou comprometimento.

Portanto, o Ás de Espadas é realmente a carta de duplo gume: o arauto de uma tremenda energia nova pronta para ser transformada em vida, mas também a advertência do advento de um conflito.

No sentido divinatório, o Ás de Espadas sugere que, de um conflito, alguma nova opinião criativa possa surgir. Os poderes mentais estão despertando e isso significa mudança em nossa vida; a antiga ordem é ameaçada e conflitos certamente surgirão. Finalmente, uma solução será possível, mas existe a inevitabilidade de colisão e de disputa antes de essa paz ser visível

- E novamente eu te pergunto: na rota de colisão, quem é você, o que sai da frente ou o que se impõe no caminho?

No tarô de Marselha:

O que você guarda precisa fluir e exteriorizar, essa é a mensagem que a carta Ás de Espadas no Tarot quer lhe passar.

De elemento ar, geralmente as cartas com este naipe trazem uma mensagem de perdas, mas o Ás de Espadas é uma carta positiva. Ela diz que você tem em sua mente tudo que é necessário para alcançar o sucesso, você só precisa colocar isso para fora. Lhe falta motivação e coragem, mas você precisa agir.

Não guarde nada que te pesa, se desprenda do que é problema, pois isso virará solução se extravasado. Se você não sabe ao certo o que tem que solucionar, com certeza está com aquela sensação ruim de algo te prendendo, saiba que logo mais você conseguirá ver o caminho e quando isso acontecer, será necessário a determinação para colocar em prática.

No Tarot o 1 de Espadas diz que será crucial para o sucesso que você acredite em sua capacidade, seu poder de intuição e sua sabedoria, o tempo que você levará para localizar o foco do problema e solucioná-lo será fundamental para o triunfo em sua jornada, por isso não existe.

Uma boa forma de não errar é sendo lógico, desligue um pouco as emoções, não as deixe te dominar e te impedir de lutar, veja a situação com clareza e frieza necessária para manter os pés no chão. Seja honesto com seu projeto, com as pessoas e com você mesmo, assim os erros não te seguirão.

O Lado Negativo do Ás de Espadas no Tarot
Essa carta quando apresentada em forma de obstáculo tem o significado totalmente contrário, ela diz que não lhe falta coragem de agir, que você está totalmente lógico e focado, tanto que excede os limites. Você está virando uma pessoa obcecada com o resultado e não tem a delicadeza e limites necessários para agir.

Entenda o Ás de Espadas no Amor
A carta Ás de Espadas do Tarot, pede que seja racional, pense de forma lógica e não deixe que seu coração dite todas as regras. Essa carta simboliza a conquista, que pode ser ela de qualquer coisa referente ao relacionamento, ou seja: se você deseja um divórcio, provavelmente o conseguirá, se está apaixonado por alguém, pode conquistá-lo. Cuidado com a falta de sensibilidade para não machucar o parceiro.

Entenda o Ás de Espadas no Trabalho
No trabalho o Ás de Espadas representa o sucesso através de um árduo trabalho. Será um momento de conquistas alcançadas depois de muito empenho. Desfrute desse momento, tudo que conseguir é devido a sua capacidade, foi porque você lutou por isso, é sua conquista e você a merece. Mesmo que novos desafios surjam você saberá se defender e seguir em frente, pois você tem valor pelo o que você faz e tudo que plantar, colherá.

O Arcano Menor Ás de Espadas lhe traz boas notícias. Ele quer te fortalecer em suas decisões e mostra que você é capaz de tirar as pedras do seu caminho, basta ter atitude que não te permitirá cair em nenhuma armadilha. Portanto utilize a lógica para buscar soluções, tenha coragem e fé, esse não será seu único desafio na vida, e para que tudo dê certo só precisa acreditar em você mesmo.

As cartas de Paus indicam o fogo, a paixão e motivação, já as de Espadas dão um alerta sobre momentos difíceis que precisarão de discernimento e calma.

{{{{{enquanto eu lia sobre a carta da Temperança, nos escritos de Jung, não pude deixar de pensar na morte, em si, e também na carta, A Morte, toda hora mencionada porque antecede a Temperança e arma com ela, no tarô de Marselha, uma espécie de dança. Mesmo com o Ás de Espadas (Atena, a razão) entre elas, percebo as cartas interligadas. Minha dificuldade em aceitar a morte e minha (repentina) descrença da continuação da vida num mesmo ser, ou numa mesma alma... essa busca infinita pelas palavras; e entre elas encontro como se fosse um farol em alto mar: “existe sentido no sofrimento”.

Na carta d’A Temperança, atesta-se que “O Sol é o alquimista da Natureza”. É a Temperança quem introduz o discurso fluído entre os reinos celeste e terrestre; entre o EU e o EGO.

A fileira do meio no mapa da jornada fala sobre o MOVIMENTO. – O Enforcado, na verdade, está dançando.

O motivo da dança é importante no tarô. A dança é uma forma de arte, em que corpo e alma interagem de modo individual e expressivo [talvez seja por isso que, quando estamos super estimulados com álcool e outras drogas, o corpo queira “dançar sozinho”. Talvez exista nessa hora uma aproximação brutal do corpo e alma, nem sempre tão comum e perceptível assim.]

Seja como for, segundo Jung, a Temperança é a dança entre a vida e a morte. Entre o mundano e o divino.}}}}}

E agora, como se nada houvera, vamos falar sobre a morte.

E como não posso me conter dos pensamentos fúteis, fui buscar na galeria de imagens a carta d'A Morte. Estava certa de que tinha. Não tenho. Vou buscar. Mais uma vez, vou buscar A Morte.


5- [passado] – A Morte – Hades e os recomeços {a morte é invisível e sempre repentina}

{haha, preciso comentar, agora, dias depois de ter escrito sobre as cartas, estou inserindo a imagem das cartas e não pude deixar de pensar sobre 'estar buscando a morte, enquanto procurava a carta...}

A carta da Morte retrata uma figura envolta em uma túnica preta e seu rosto escondido por um elmo escuro. Suas mãos estão abertas para receber os presentes oferecidos pelos pequenos humanos que se ajoelham diante dela. Um deles lhe oferece uma coroa dourada e outro, uma pilha de moedas. O terceiro, uma criança, oferece-lhe uma flor. Atrás dessa figura sombria, flui um rio escuro. Do lado mais próximo do rio, a terra é seca e árida. Do outro lado, a terra verdejante é gradativamente iluminada pelo Sol que está apenas surgindo no horizonte.

Aqui encontramos Hades, o deus sombrio e senhor do Submundo, com o qual nos deparamos na carta da Imperatriz como o raptor de Perséfone, filha de Deméter. Na Mitologia, Hades era conhecido como o Invisível. Ele também era chamado de Plutão, que significa "riqueza", porque o seu reino era repleto de riquezas escondidas. Hades, filho dos Titãs Cronos e Réa, foi salvo por seu irmão Zeus quando Cronos engolira os seus filhos. Zeus então concedeu a Hades o domínio do Submundo como parte da herança. Sobre esse mundo, o deus sombrio governava como dominador absoluto. Quando emergia para o mundo da luz, o seu elmo o tornava invisível para que nenhum mortal o visse. Os rituais da morte exigiam que uma moeda de ouro fosse colocada na boca do morto, pois sem essa oferta a Hades a alma seria condenada a vagar eternamente às margens do rio Estige, à beira do reino do Submundo.

Apesar de ser-lhe conferido menos status do que ao seu irmão Zeus, ele tinha um poder maior, porque a sua lei era irrevogável. Uma vez que uma alma entrava no domínio de Hades, nenhum deus, nem sequer o rei dos deuses, poderia resgatá-la. Apesar de alguns heróis, como Orfeu e Teseu, entrarem ilicitamente no reino de Hades enganando o barqueiro Caronte e conseguindo passar por Cérbero, o cão que guarda a entrada, nenhum deles voltou para o mundo da luz da mesma forma. O poder irrevogável de Hades era tal que os deuses juravam seus votos solenes e suas maldições pelas águas do rio Estige, que era veneno puro e, ao mesmo tempo, conferia a imortalidade.

No sentido interior, Hades, o Senhor da Morte, é a figura permanente e final do ciclo da vida. Quando mudamos, uma nova atitude ou circunstâncias novas podem surgir, mas o caminho anterior está morto e nunca mais voltará à sua forma original. Portanto, Hades é o símbolo daquela finalidade que experimentamos em todos os encerramentos, assim como sua túnica preta é o símbolo do luto, necessário para o preparo do novo ciclo.

Na carta do Enforcado, deparamo-nos com a experiência da submis¬ão voluntária às leis ocultas da psique - a decisão de abandonar algo na esperança de que uma nova fase da vida possa emergir. Hades, o Senhor da Morte, representa aquele estado intermediário o qual somos levados a enfrentar com a total finalidade de nossa perda, antes do início de uma nova evolução.

A carta da Morte não simboliza necessariamente um final "negativo". A experiência do final irrevogável pode significar acontecimentos alegres como um casamento ou o nascimento de uma criança. Mas esses acontecimentos não somente têm a conotação de um novo início, como também podem significar a morte de um velho estilo de vida e essa perda deve ser reconhecida e lamentada. E é por isso que temos os modernos rituais como, por exemplo, a despedida de solteiros, que reconhece a perda de um estado civil.

Muitas vezes as mulheres (como também os homens) ficam terrivelmente deprimidas com o nascimento de uma criança, porque ainda não houve o reconhecimento de que uma fase da vida morreu e que algo novo nasceu. Assim, uma moeda deve ser paga a Hades, porque ele preside a todos os finais e aos novos começos, sendo que o final é tão importante quanto o começo, devendo ser reconhecido e sentido. Vamos para o Submundo totalmente nus, pois não podemos levar conosco os antigos padrões e atitudes que nos haviam proporcionado segurança.

Por conseguinte, a carta da Morte não é uma descrição da morte física, mas a inevitável mudança dos ciclos da vida que sempre envolvem uma finalização. Aos olhos de Hades, a vida pode ser considerada como uma sequência de mortes, começando com o abandono das águas reconfortantes do útero para a cruel realidade da separada existência física. Nunca mais viveremos no paraíso abençoado do corpo de nossa mãe. A infância deve morrer para que a adolescência e o desenvolvimento sexual se iniciem, e a juventude, por mais tempo que a prolonguemos com dietas, exercícios e cosméticos, finalmente morrerá para dar lugar à maturidade da meia-idade. Todo relacionamento, até o melhor, tem os seus ciclos de começo e fim, pois os nossos sentimentos mudam com o passar do tempo e à medida que cresce a nossa compreensão das outras pessoas. Com o casamento, deixamos para trás o nosso estado de solteiro, assim como deixamos a nossa juventude para trás com o nascimento de nossos filhos, o que nos lembra a nossa mortalidade. E assim, Hades, o Senhor da Morte, é o nosso companheiro invisível durante toda a vida e para quem devemos pagar o nosso tributo.

No sentido divinatório, a carta da Morte implica algo que deve chegar ao fim. Se essa experiência será penosa ou não, depende da capacidade da pessoa em aceitar e reconhecer a necessidade de encerramentos e finalizações. A carta da Morte prevê a oportunidade de uma nova vida, caso a velha possa ser abandonada. E, dessa maneira, o Louco avança no Submundo deixando para trás a sua vida anterior e preparando-se para um futuro ainda desconhecido.

No tarô de Marselha:

A Morte no Tarot é uma carta impactante e que assusta. Mas, nem sempre essa carta indica somente males. Ela não simboliza perder a vida e sim, uma transformação gigante. É colocar um fim definitivo a algo, sem nada que o prenda ao que passou. É aceitar que o seu passado não lhe serve mais de nada, é o aprender a se desprender.

No tarot A Morte é o Arcano Maior 13, e está ligada ao Renascimento. As pessoas que tiram essa carta, geralmente estão muito frágeis sentimentalmente, pois passam por um período de mágoas ou sofrimento. Isso tudo é fruto do desprendimento que será necessário para que o novo aconteça.
É o momento de se libertar de tudo que te prende ao passado. Por isso, essa carta é muito positiva, por ser um momento de trabalhar a auto confiança, te amadurece. Poderá haver dúvidas em que caminho seguir nesse momento, pois tudo acontecerá de repente, então sempre acredite em sua intuição.

Limpe sua alma das energias ruins e aproveite o fluxo de mudanças para viver o novo. Mas não se assuste nunca com a Carta de Tarot A Morte, pois ela colocará tudo em fluxo, te afastando dos momentos negativos se você estiver os vivenciando, e te tirando da monotonia.

É sempre estranho imaginar que a Morte significa vida, mas podemos entender quando pensamos que para o novo surgir, o velho tem que partir. Tente não interpretar a força da carta por conta do peso da palavra. Aceite as mudanças que esse novo ciclo te trará e tudo terá um fluxo muito mais fácil de lidar.

A imagem do esqueleto passando a foice sobre um campo de pessoas é bastante forte, mas seu significado nada mais é do que a passagem por tudo aquilo que te prendia, que te fazia mal. Às vezes estamos ligados a ideias ou pessoas e nunca percebemos que isso não faz bem à nós. A carta avisa que é hora de mudar, e que para isso as energias do Universo te ajudarão. Seu número 13 significa uma energia de superação.

O Lado Negativo da Carta A Morte
A Carta a Morte representa obstáculo quando você não aceita os desafios e mudanças que a vida gostaria de te proporcionar. Não tente se prender ao passado, veja o que o futuro tem a te oferecer.

Entenda a Carta A Morte no Amor
Essa carta poderá apresentar significados de favorecimento, ou desfavorecimento à relação em que você vive. Mas entenda que o que acontecer, era o necessário para no final trazer algo melhor em sua vida.

Favorecimento: pode ser o início de um novo ciclo, o renascimento do amor, da paixão. A renovação de tudo aquilo que os faz bem, ambos estarão em ascensão espiritual, uma nova fase cheia de positividade surgirá, ou também um novo e grande amor para quem está solteiro;

Desfavorecimento: indica a perda. Será um momento difícil e triste. Você passará um período sentimental bastante frágil. Mas nunca se esqueça que isso faz parte de uma evolução. Algum propósito ou motivo existia para que isso acontecesse, e no futuro você descobrirá.

Entenda a Carta A Morte no Trabalho
A Carta A Morte, no âmbito de trabalho significa que se você estava passando por um período problemático, essa situação será resolvida. Deverá haver um empenho seu para que novos caminhos apareçam, seja em sua carreira, ou na área financeira em geral. Ela indica o começo de uma nova etapa no meio profissional. Pode ser até mesmo a mudança de emprego ou o encontro de um novo para quem está desempregado. Confie mais em você mesmo!

Resumindo, A Morte no Tarot é como toda carta, sempre há maneiras diferentes de interpretá-la. O importante é entender o novo ciclo que surgirá e procurar extrair o melhor dele. Renasça mais uma vez, ganhe mais sabedoria e muita luz na sua vida.

{{{{A morte não me ronda. A morte me acompanha. – pensamento que tive enquanto estudava esta carta}}}}}


6- [futuro] – O Pajem de Paus

A carta do Pajem de Paus retrata um garoto de cerca de 12 anos, de cabelos castanhos e vestindo uma túnica laranja. Ele monta um carneiro de pele dourada que voa sobre rios e campos verdes e amarelos, segurando uma tocha flamejante. A sua frente, o Sol aparece espalhando a sua luz alaranjada sobre o cenário.

Na carta do Pajem de Paus, deparamo-nos com o elemento Fogo em seu mais delicado e frágil início - os primeiros movimentos da inspiração criativa que, geralmente, se manifesta com certa excitabilidade e desconforto com as condições existentes. O Pajem é encenado por Frixo, com o qual já nos deparamos na história de Jasão e o Velocino de Ouro. Ele realmente inicia essa história, apesar de não ser um dos heróis que dela participam nem tampouco o deus que a preside, mas é quem leva o Velocino de Ouro para o distante reino da Cólquida e longe do perigo.

Frixo era filho do rei Atamas que, por ordem de Zeus, se casara com a mulher fantasma chamada Néfíle, que lhe deu dois filhos: o menino Frixo e a menina Hele. Finalmente, a mulher fantasma desapareceu e Atamas casou-se com uma mortal, Ino, que tinha ciúmes tanto de sua antecessora quanto das crianças. Ino convenceu as mulheres locais a ressecar secretamente as sementes de trigo para prejudicar a safra do grão e espalhou o comentário de que o oráculo de Delfos exigia o sacrifício de Frixo a Zeus para neutralizar a "maldição". Sua intenção era eliminar Frixo para que um filho seu pudesse ser o herdeiro do trono.

Mas Zeus zangou-se com o fato de seu nome ler sido envolvido nessa tentativa de vingança e enviou o seu carneiro alado para salvar Frixo, que montou o animal e puxou a irmã atrás dele. O carneiro dirigiu-se para o leste, em direção à Cólquida. Infelizmente, Hele perdeu o seu ponto de apoio e caiu no mar. Mas Frixo conseguiu chegar à Cólquida, onde sacrificou o carneiro a Zeus. Assim, Frixo é considerado o mensageiro e o cenógrafo que prepara a ação antes de os conhecidos heróis entrarem no palco da história.

Frixo, o Pajem de Paus, é a imagem daquele frágil início da imaginação criativa que muitas vezes encontra dificuldades entre as pessoas mais realistas e nas exigências c responsabilidades do mundo material. O perigo no qual o garoto se encontra é característico do Pajem de Paus, pois essa figura, apesar de prometer um potencial futuro que ainda não emergiu, frequentemente se manifesta de início como uma irritabilidade e um nervosismo que provocam as pessoas e causam problemas na vida e no trabalho pessoal.

Mas Frixo é inocente e, portanto, Zeus o favorece concedendo-lhe um precioso presente. O Pajem de Paus marca o início do surgimento de uma nova ideia criativa, mas, como todos os Pajens dos Arcanos Menores, precisa de cuidados, proteção e orientação para que essa pequena chama não seja apagada pelo ciúme e pela inveja de outras pessoas ou pelo sentido de negatividade e de dúvida do próprio indivíduo. Zeus, rei dos deuses e incorporação do fogoso espírito criativo, é o único que enxerga o verdadeiro valor de Frixo e é preciso que tenhamos algum contato com esse princípio arquetípico dentro de nós mesmos antes de poder valorizar esse delicado início da expressão imaginativa.

Frixo abre a história, mas não participa dela e desaparece diante do esplendor e do poder do herói Jasão. Isso também reflete algo a respeito do Pajem de Paus. Muitas vezes as primeiras ideias refletidas por essa carta são infantis e não representam suas formas finais, que acabam resultando em um importante esforço criativo.

Frequentemente, o conceito inicial desaparece para ser substituído por algo melhor e mais sólido. Mas esse início permite que o processo seja ativado e, sem esses movimentos frágeis, nada seria desenvolvido na esfera das novas ideias criativas. Afinal, não é a personalidade de Frixo que nos chega pela Mitologia - ele é imaturo e jovem demais para realmente possuir uma personalidade -, mas é o seu papel de mensageiro e guardião inicial do Velocino de Ouro, que pertence a Zeus, o emblema do grande poder criativo do deus. Portanto, o Pajem de Paus pode não indicar um novo projeto ou ideia com sucesso garantido e a sua agitação pode ser facilmente descartada como "ingénua" ou "fantástica". Ele pode apontar para o poder da imaginação, avisando-nos que há muito mais no local do qual surgiu a primeira ideia.

No sentido divinatório, quando o Pajem de Paus aparece em uma abertura de cartas, ele anuncia que chegou o momento de o indivíduo descobrir esses impulsos de potencial criativo dentro dele mesmo. Muitas vezes podem se manifestar por um certo nervosismo no trabalho, um sentimento vago de insatisfação não suficientemente forte para motivar uma mudança c uma indicação de que temos a capacidade de expandir, de alguma forma, a própria vida.

As fantasias iniciais que acompanham essa agitação não têm o poder impulsionador do Ás de Paus e, no final, podem vir a ser impraticáveis ou impossíveis. Mas é importante que sejam consideradas seriamente, pois elas são os arautos de uma fonte mais forte de inspiração e precisam ser alimentadas e não rejeitadas, como se essa excitação fosse meramente "uma má fase" em vez do prenúncio de algo mais criativo.


7- [presente] – O Pajem de Copas

A carta do Pajem de Copas retrata um garoto de aproximadamente 12 anos, de cabelos pretos e trajando uma túnica lilás; ele está ajoelhado à beira de um lindo lago azul. No chão, uma taça dourada cujo conteúdo o garoto olha atentamente, pois está estudando o reflexo de seu próprio rosto e está maravilhado com sua beleza. Ao seu redor, tufos de botões de íris e narcisos ainda não desabrochados. No cenário, uma vegetação que esconde um céu azul.

As cartas da corte do naipe de Copas são representadas por figuras mitológicas que incorporam as características típicas do naipe. Na carta do Pajem de Copas, deparamo-nos com o mutável, vulnerável e sutil início do elemento ar: a emergência nascente da capacidade do sentir. Isso é encenado pela figura mitológica do lindo jovem Narciso. Ele era um tespiano, filho do deus-rio Cefiso e de uma ninfa. Qualquer um poderia se apaixonar por Narciso, mesmo como criança, e seu caminho estava repleto de pretendentes de ambos os sexos que se apaixonavam pela beleza do garoto. Mas sua mãe, advertida pelo adivinho Tirésias, nunca permitira que o garoto visse o seu próprio reflexo. Portanto, ele não tinha noção de sua própria identidade.

Um dia, passeando pela campina tespiana, Narciso chegou a um lago. Esse lago era alimentado por uma fonte de água cristalina e nunca fora perturbado por gado, pássaros, animais selvagens, homens e nem mesmo pelos galhos das árvores que o sombreavam. Procurando saciar a sua sede, ele se ajoelhou e viu o seu reflexo na água, pelo qual se apaixonou imediata e perdidamente. Primeiro ele procurou abraçar e beijar o lindo rapaz que o confrontava, mas logo ele se reconheceu e ficou se admirando naquele lago, hora após hora.

Finalmente, Narciso não conseguia mais suportar a agonia desse inatingível amor. Ele sacou a sua adaga e feriu o seu peito, exclamando: "Oh, jovem, amado em vão, adeus!", e expirou. O seu sangue ensopou a terra e dela brotou a flor branca que foi chamada narciso.

Narciso, o Pajem de Copas, inicialmente parece ser simplesmente a imagem de um fútil auto-amor. Mas também pode ser visto como uma imagem de autodescoberta, pois para amar outra pessoa é preciso antes o reconhecimento e o amor de si mesmo; do contrário, é um exercício triste e muitas vezes infrutífero procurar na outra pessoa o que o indivíduo ainda não encontrou em si. Esses relacionamentos são destinados ao fracasso, e o egoísmo aparente de Narciso, na realidade, é o início da descoberta do nosso próprio merecimento de sermos amados.

Frequentemente, esse é o início da genuína capacidade de amar outra pessoa individualmente, em vez de um potencial fornecedor de qualidades que precisamos para nos sentir completos. Assim Narciso, o Pajem de Copas, é uma figura ambígua. De um lado, como imagem de um sutil início nascente do sentimento da vida, ele sugere o nascimento de algo novo - a capacidade de amar ou a renovação da fé no amor que anteriormente poderia ter sido prejudicada ou traumatizada por um relacionamento infeliz. De outro lado, o sentido do auto-amor que Narciso incorpora é o início da cura, por mais fútil e infantil que ele pareça. Depois de uma penosa separação ou da perda de um ser amado, muitas pessoas passam um longo tempo em uma espécie de crepúsculo emocional, durante o qual elas têm o sentimento de não ter mais nada para dar aos outros. Nesse período, o indivíduo tampouco cuida de si mesmo. Mas os gentis e delicados movimentos dessa renovação da capacidade de amar muitas vezes assume a forma de um interesse lento e gradativo por si -no próprio corpo, no ambiente que o cerca, tentando agradar e alimentar a si mesmo com coisas que proporcionem prazer em vez de dor ou de lembranças da dor. Esse é um processo que deve ocorrer antes de o indivíduo estar pronto para arriscar outro encontro emocional.

O Pajem de Copas, tal como os outros pajens dos Arcanos Menores, sugere alguma coisa frágil e delicada, facilmente mal-interpretada e prejudicada. Assim também é o nosso sentido nascente do auto-amor, que pode levar a uma relação mais gratificante com a vida. Podemos facilmente chamar Narciso de fútil e egoísta por ele se preocupar unicamente consigo mesmo.

Mas ele precisa começar dessa maneira antes de poder enxergar qualquer outra pessoa e é interessante observar que, na Mitologia, é a sua mãe que tenta mantê-lo afastado do autoconhecimento e do auto-reconhecimento.

O triste final da história de Narciso também pode ser interpretado em vários níveis. De alguma forma, o Pajem de Copas e tudo o que representa deve ser transformado ou "morrer" - antes que o amor por outra pessoa possa desenvolver-se totalmente. Mas é necessário que esse seja um auto-sacrifício, um movimento genuíno da autopreocupação para a percepção das outras pessoas. Portanto, é próprio e correto que Narciso ponha um fim à sua própria existência, transformando-se no Cavaleiro de Copas, que permitirá ao sentimento da vida mover-se livremente para o exterior e para as outras pessoas.

Quando o Pajem de Copas aparece em uma abertura de cartas, ele sugere algo novo em nível de sentimento. Isso pode representar um novo relacionamento, uma nova qualidade de sentimento em um relacionamento e até o nascimento de uma criança. Muitas vezes, o Pajem de Copas prevê uma renovação da capacidade de amar, começando pelo amor por si mesmo, após um período de dor e de isolamento. Essa qualidade delicada deve ser logo alimentada, do contrário pode desaparecer rapidamente.


8- [ambiente – o que tudo o que está em volta te diz?] – A Força

A carta da Força retrata um homem musculoso e poderoso com cabelos castanhos encaracolados, vestindo apenas uma tanga vermelha. Ele está embrenhado em uma luta selvagem com um leão envolvendo seus fortes braços no pescoço do animal; no momento crítico ele está vencendo a luta. Rodeando os dois, as paredes rochosas de uma caverna escura. Pela entrada da caverna é possível ver um cenário árido de colinas marrons.

Aqui encontramos o grande guerreiro Heracles chamado Hercules pelo romanos, que na Mitologia era o herói invencível. Ele era o filho de Zeus, rei dos deuses, com uma mortal chamada Alcmena. A esposa de Zeus estava, como de costume, com ciúme da criança nascida do adultério do marido, dessa maneira o perseguiu com terríveis castigos. Ela fez com que ficasse louco e, em sua loucura, inadvertidamente assassinou a sua esposa e seus filhos. Héracles pediu aos deuses que lhe dessem alguma tarefa para expiar os seus crimes, e o oráculo de Delfos ordenou-lhe que se sujeitasse a 12 anos de trabalhos forçados a serviço do terrível rei Euristeus que Hera favorecia. E assim, o herói sujeitou-se voluntariamente a servir o favorito da deusa, que o perseguiu em reparação de um crime do qual ela era, definitivamente, a responsável.

O primeiro dos famosos Doze Trabalhos que o rei Euristeus exigiu de Héracles era a conquista do Leão da Neméia, um enorme animal cuja pele era à prova de ferro, bronze e pedra. Como o leão havia despovoado a vizinhança, Héracles não pôde encontrar ninguém que o dirigisse à sua toca. Finalmente, ele encontrou o animal lambuzado de sangue de sua última vítima. Héracles disparou uma série de flechas, que não conseguiam penetrar a sua grossa pele. Em seguida, usou a sua espada, que simplesmente acabou se dobrando; depois usou o seu bastão, que se despedaçou na cabeça do leão. Então Héracles cobriu uma das entradas da caverna em que o leão se escondia com uma rede e entrou na caverna pelo outro lado. O leão arrancou-lhe um dos dedos, mas Héracles conseguiu agarrá-lo pelo pescoço e o sufocou até a morte com suas próprias mãos. Ele então lhe cortou a pele com uma de suas e afiadas garras e passou a usá-la sempre como armadura e a cabeça como elmo, tornando-se tão invencível quanto o próprio leão.

No sentido interior, Héracles lutando com o Leão da Neméia é a imagem do problema em conter o poderoso e selvagem animal dentro de nós, preservando, ao mesmo tempo, as qualidades animais que são criativas e vitais. O leão é um tipo especial de animal e reflete um aspecto diferente da psique humana, quando o comparamos aos cavalos fogosos da carta do Carro. Na Mitologia, o leão sempre foi associado com a realeza, mesmo quando está em seu estado mais destrutivo, e esse rei dos animais é, ainda, a imagem de um início infantil, selvagem e totalmente egocêntrico de uma especial individualidade. Portanto, o Leão da Neméia não é totalmente mau e possui uma pele mágica que pode oferecer invencibilidade. Essa invencibilidade está ligada ao sentido de permanência interior que procede de um sólido sentido do "eu". Quando vestimos a pele do leão que conquistamos, as opiniões das outras pessoas - os grandes "Eles" que amedrontam os corações dos tímidos - pouco significam, pois estamos armados com o nosso próprio sentido indestrutível de identidade.

Por mais prometedor que seja o seu potencial, o leão é selvagem e cruel em sua forma animal. Esse lado de uma pessoa descontrolada é o impulso do "eu primeiro" que, sem pensar duas vezes, destrói qualquer um ou qualquer coisa em seu caminho, desde que a sua gratificação seja assegurada. A raiva é uma das manifestações desse impulso - não uma raiva sadia que seria apropriada para a situação, mas explosiva e furiosa quando não conseguimos o nosso intento. O orgulho implacável é outra de suas facetas - não o auto-respeito, mas uma bombástica e inchada auto-importância que pode nos tornar selvagens e rígidos com aqueles dos quais dependemos ou que nos roubam o centro das atenções. De muitas formas, o leão, como a criança irada em nós, exige que o mundo esteja à nossa volta, destruindo cega e aleatoriamente quando isso não acontece. Mas, se esse animal for conquistado, então podemos apropriar-nos de sua pele mágica que, em termos psicológicos, significa integrar o poder vital da besta, fazendo com que sirva a um ego consciente e responsável. Por conseguinte, a conquista do leão não é verdadeiramente uma morte, mas uma espécie de transformação, de maneira que a força e a determinação do animal sejam expressas por um humano, e não por um animal. Aqui está a ambivalência da carta da Força, pois Héracles poderia simplesmente destruir o animal sem que qualquer benefício fosse extraído do massacre. Essa é a faceta negativa de Héracles dentro de nós: o tipo de força que reprime todo instinto sem qualquer transformação, deixando para trás uma concha dentro da qual vive uma alma sem paixão, sem ira e sem uma verdadeira identidade.

No sentido divinatório, quando a carta da Força aparece em uma abertura de cartas, ela implica uma situação na qual um embate com o leão interior é inevitável, sendo necessário o controle da raiva e do orgulho insensato. Coragem, força e autodisciplina são solicitadas para enfrentar a situação. Por meio dessa experiência podemos entrar em contato com o animal, mas também com uma parte nossa que é representada por Héracles, o herói que pode domá-la. Portanto, tendo desenvolvido as faculdades da mente e o sentimento, o Louco agora aprende a lidar com o seu próprio exclusivismo, surgindo desse encontro com confiança em si e integridade para com o próximo.


9- [esperanças & temores] – O Oito de Paus

A carta Oito de Paus retrata a viagem de volta de Jasão após a sua fuga bem-sucedida do irado rei Aetes. Podemos ver o Argo com todas as velas içadas e oito tochas acesas em sua ponte. Acompanhando o navio, golfinhos brincam nas ondas.

O Oito de Paus representa uma liberação de energia criativa depois que as ansiedades e os esforços do Sete de Paus foram superados. O conflito estimula a imaginação e, se tivermos a capacidade de enfrentá-lo e atravessá-lo, sempre haverá um período de trégua quando os nossos planos prosseguem cm direção da meta a passos largos, com um sentimento de leveza e de confiança. Essa liberação de energia somente surge das tensões que estão amainando, como se a confiança resultasse unicamente da superação de obstáculos.

A experiência da liberação de uma nova energia criativa pode ser vista em muitos esportes competitivos nos quais, após um conjunto de dificuldades, há um brusco impulso e o indivíduo ou a equipe se lança para a meta. Também é uma experiência comum para o pintor, o escritor, o ator e o músico - e qualquer artista criativo que atravessou o bloqueio e está "a caminho de casa". A euforia desse estado não surge simplesmente do nada; ela é o preço que pagamos ao enfrentar o desafio da competição e da dúvida, das quais nos levantamos com energia renovada. Isso nos diz algo a respeito de por que precisamos dos conflitos em nossas vidas para poder criar e porque tantos artistas parecem cortejar os conflitos e a competição com outros. Há um misterioso relacionamento entre os trabalhos da imaginação criativa e a presença de um conflito saudável em nossas vidas.

A Mitologia também conta a respeito desse relacionamento, pois o deus Zeus, que preside a história de Jasão, existe em um estado de constante tensão e luta com a sua esposa Hera. Ela, incorporando as leis do matrimónio e da vida doméstica, eternamente o restringe e, ao mesmo tempo, desafia-o a criar. Da mesma forma, nós também precisamos de restrição e de desafios para poder gozar o fluxo excitante da energia que o Oito de Paus retrata por meio da imagem de Jasão e de sua tripulação em seu caminho de volta para casa.

No sentido divinatório, o Oito de Paus anuncia um período de ação depois de um atraso ou de uma luta. Uma viagem pode ser implicada ou um longo trecho de frutífera atividade criativa durante o qual a imaginação flui desimpedida depois que as ansiedades e as tensões foram superadas ou resolvidas.


10- [fechamento da questão] – O Três de Copas

A carta Três de Copas retrata o casamento de Eros e Psique. Em pé, no rochedo cercado de água, Psique está com seu vestido de noiva e seus cabelos enfeitados de flores; ela segura um buque de lírios brancos. Atrás dela, está o noivo que ela ainda não pode ver -Eros, o radiante deus do amor, com seu arco e aljava com flechas douradas. Três ondinas ou ninfas dançam em um círculo ao seu redor, cada qual emergindo da água e segurando uma taça dourada em comemoração do casamento.

Os Três de todos os naipes dos Arcanos Menores representam o estágio de uma conclusão inicial. Uma nova dimensão de vida está por começar, enquanto a primeira parte da jornada foi completada.

Portanto, o Três de Copas é uma carta de comemoração, representando uma experiência de realização emocional e a conclusão da atração inicial. O casal uniu-se e há um sentimento de alegria e de promessas. Mas a história de Eros e Psique conta algo muito importante sobre esse estágio inicial de realização e de conclusão. Psique ainda não viu o seu noivo nem, no mito, questiona a falta de um encontro real. Inicialmente ela se contenta em viver com Eros em uma espécie de estado onírico no qual ele volta para ela na escuridão da noite. Portanto, junto com a alegria e a comemoração desse casamento, paira uma certa ingenuidade. Esse é o estado imediatamente reconhecível de "estar apaixonado", no qual estamos fascinados pela nossa imagem refletida na outra pessoa, mas também é aquele estado em que o verdadeiro parceiro ainda não é visível aos nossos olhos. O encontro inicial é uma experiência alegre, uma comemoração do amor e da vida, um excitante início. Grande parte da literatura e do drama do mundo retrata a felicidade desse mesmo estado.

Mas a mensagem é: aproveite-o enquanto puder. Há muito mais à frente, alegrias e tristezas, antes que a jornada pelo naipe de Copas se complete e que o amor de Eros e Psique surja com todo o seu potencial humano e divino. O Três de Copas é uma iniciação à vida, cheio de promessas. A virgem casa-se e deixa para trás a sua virgindade e a sua inocência. Essa é a carta da transição anunciando outros desenvolvimentos futuros. A jornada ainda não terminou e há muito trabalho à frente.

No sentido divinatório, o Três de Copas sugere a comemoração de um casamento, o início de um caso de amor, o nascimento de uma criança ou alguma outra situação de realização emocional e de promessas. Mas cada uma dessas situações também é um início, uma iniciação para níveis mais profundos de experiências do coração e o prenúncio de explorações futuras.

quinta-feira, 10 de maio de 2018

A agente infiltrada no esquema russo

O que poderiam dizer as cartas à ela?

1) carta central: O 6 de Paus

A carta Seis de Paus retrata Jasão vitorioso após a sua luta com o dragão. O herói levanta o Velocino de Ouro em triunfo. Atrás dele, seis dos seus amigos-heróis estão festejando, cada um segurando uma tocha acesa.

O Seis de Paus representa uma experiência de triunfo, de reconhecimento e de aclamação pública. A luta com o dragão já aconte­ceu e Jasão fez jus à sua recompensa; o Velocino está em suas mãos e seus amigos levantam suas tochas para honrá-lo em reconheci­mento. Essa carta representa um momento inebriante para o indiví­duo que se esforçou para expressar uma nova ideia ou uma visão criativa para as outras pessoas, pois é o momento em que somos reco­nhecidos pela coletividade por nossos esforços. O empreendimento criativo foi aprovado não somente pelos nossos entes queridos, mas pelo mundo exterior, que na carta do Cinco de Paus apareceu, inicial­mente, como o terrível dragão-terra que parecia frustrar todos os es­forços.

O estágio, um tanto inebriante, refletido pelo Seis de Paus pode assumir muitas formas, de acordo com o nível do objetivo e das aspi­rações do indivíduo. O atleta que treinou e se preparou durante can­sativos meses e até anos sabe disso quando vence uma competição, assim como o indivíduo que almeja uma promoção também o reco­nhece quando, finalmente, uma nova posição lhe é oferecida. O es­critor aprecia-o quando o seu livro é publicado e aclamado, e assim também o estudante, quando finalmente recebe o seu diploma. Inde­pendentemente da dimensão, a meta aqui é alcançada e reconhecida pelos outros. Portanto, o Seis de Paus é uma das cartas dos Arcanos Menores que mais proporciona satisfação individual, pois significa a validação pública de uma visão criativa que se iniciou em meio à ansiedade e à incerteza.

Mas até o Seis de Paus deve ceder o seu lugar para a carta seguinte, pois Jasão ainda não levou o Velocino de volta para Iolkos. O reconhecimento público provoca os seus próprios dilemas, apesar de representar um pico na vida criativa, pois a imaginação é fértil, e novos desafios - de forma particular a inveja e o sentido de compe­tição - podem surgir no momento do triunfo.

No sentido divinatório, o Seis de Paus prevê a aceitação pública e o reconhecimento de alguma espécie. Isso pode assumir a forma de uma promoção, uma qualificação ou o reconhecimento de algum tra­balho criativo.


2) carta cruzada: O Diabo

A carta do Diabo retrata um Sátiro, uma criatura metade homem e metade bode, dançando à música de uma siringe (flauta de sete tubos) que ele segura em sua mão esquerda. Com a mão direita, ele segura duas correntes, cada uma presa a um colar ao redor do pescoço de uma figura humana nua. As figuras - um homem e uma mulher - têm pequenos chifres como aqueles do Sátiro. Apesar de suas mãos e pernas estarem livres para dançar, eles estão presos às suas correntes de medo e de fascinação pela música. Ao redor, aparecem as paredes escuras da caverna.

Aqui encontramos o grande deus Pan que os gregos veneravam como o Grande Todo. Na Mitologia, Pan era filho de Hermes e da ninfa Dríope. Quando nasceu, ele era tão feio - com chifres, barba, cauda e patas de bode - que a sua mãe fugiu apavorada e Hermes o levou para o Olimpo para entreter os deuses. Pan assombrava os bosques e os pastos da Arcádia, e personificava o espírito fértil e fálico da natureza selvagem e indomada. Ocasionalmente ele podia ser amigável com os homens, vigiando seus rebanhos, gado e col­meias. Também participava das festas das ninfas das montanhas e ajudava os caçadores a encontrarem suas presas. Em certa ocasião, ele perseguiu a casta ninfa Siringe até o rio Ladon, onde ela se trans­formou em um feixe de caniços para fugir dos indesejáveis abraços peludos. Como não podia individualizá-la dos outros, ele cortou vá­rios caniços, dos quais fez uma siringe ou flauta de Pan.

Do nome Pan derivamos a palavra "pânico", afinal ele se divertia provocando pequenos sustos aos viajantes solitários. Ele era despre­zado pelos outros deuses que, no entanto, exploravam os seus pode­res. Apolo, o deus-Sol, adulando-o, conseguiu dele a arte da profe­cia; Hermes copiou uma flauta que ele havia deixado cair, declarou ser sua a invenção e vendeu-a a Apolo. E foi assim que o deus-Sol recebeu ilicitamente a sua música e o seu dom da profecia do deus da natureza com aspecto de bode, feio e indomado.

No sentido interior, Pan, o Diabo, é a imagem da sujeição ao mais rude e instintivo aspecto da natureza humana. Como o deus era ve­nerado pelo medo, em cavernas e grutas, sua imagem dentro de nós sugere algo que tanto tememos quanto nos fascinam os rudes e pri­mitivos impulsos sexuais que consideramos "maus" em razão de sua natureza compulsiva.

Desde o início da Era Cristã, o deus Pan foi estabelecido como a figura do Diabo, completo com seus chifres e trejeito irónico, e des­prezado pelas pessoas "espirituais", como Apolo o desprezou, na Mitologia grega. Plutarco conta que, durante o domínio do imperador Tibério, um marinheiro que passava perto das Ilhas Equinades, no Mar Egeu, ouviu uma voz misteriosa chamando-o três vezes, dizen­do: "Quando chegar a Palodes, proclame que o deus Pan está mor­to". Isso ocorria no exato momento em que o Cristianismo* nascia na Judeia.

Mas a presença dessa carta entre os Arcanos Maiores do Tarô sugere que Pan não morrera, mas havia sido relegado aos recessos mais profundos do inconsciente, representando tudo aquilo que te­memos, odiamos, desprezamos e, no entanto, nos mantém presos pelo próprio medo e desgosto.

O problema da vergonha do corpo e dos impulsos sexuais, parti­cularmente os que a psicanálise tanto fez para trazer à luz neste século - fantasias de incesto, fascinação pelas funções corporais e excreções, o sentimento de ser sujo e mau, peludo, feio e inferior -, são os que Pan, o Diabo, personifica. Até o homem, ou a mulher, mais "liberado" sexualmente pode sentir essa vergonha secreta a respeito de seu corpo. Podemos sentir alguma nobreza e romantismo no leão furioso na carta da Força ou nos obstinados cavalos da carta do Carro. Contudo, é mais difícil perceber nobreza em Pan. Mas, na Mitologia, Pan não era ruim, ele só era indomado, amoral e natural. A paralisia dos humanos que os leva ao terror e à fascinação cria o problema. A carta do Diabo implica bloqueios e inibições, geralmente sexuais, que surgem pela falta de compreensão do deus. Apesar de feio, ele é o Grande Todo - a vida nua e crua do próprio corpo, amoral e rude, mas assim mesmo um deus. A energia empregada em manter o Diabo em sua caverna, vergonhoso e oculto, é energia per­dida para a personalidade, mas que pode ser liberada com um efeito imensamente poderoso se tivermos a coragem de encarar Pan.

Por conseguinte, o Louco deve aprender a enfrentar com humil­dade seus próprios aspectos mais inferiores e mais vergonhosos, ou permanecerá eternamente preso aos seus próprios medos. Então, para poder esconder esse segredo vergonhoso, ele deve pretender ser superior e, assim, projeta a sua parte animal em outras pessoas, levando ao preconceito, à inveja e até a perseguição de indivíduos e de raças que, para ele, são "maus".

No sentido divinatório, a carta de Pan, o Diabo, implica a necessi­dade de um confronto com tudo o que na personalidade seja sombrio, vergonhoso e inferior. O Louco deve libertar-se adquirindo conheci­mento e, por meio da aceitação honesta e humilde de Pan, deve liberar o poder criativo que está acorrentado ao seu próprio pânico e autodesprezo. E, assim, ele chega ao coração do Labirinto e enfren­ta a sua própria escuridão nas sombras essenciais de seu corpo para tornar-se o que ele sempre foi - simplesmente natural.


3) carta de cabeça: A Lua

A carta da Lua retrata uma misteriosa figura feminina com três rostos, coroada com um diadema da Lua em suas três fases. O seu cabelo é prateado e ela veste uma longa túnica que flui em uma poça de água a seus pés. A sua frente, há um cão de três cabeças e na poça um caranguejo procura sair da água. Atrás dela, o céu é escuro e iluminado somente pela luminescência de sua coroa.

Aqui encontramos Hécate, a antiga deusa do Submundo, regente da Lua, da magia e dos feitiços. Na Mitologia, Hécate era, às vezes, confundida com Artemis, a deusa da Lua, uma divindade bem mais antiga e poderosa tanto no céu quanto embaixo da terra. Filha de Zeus c Hera, incorreu na ira da mãe ao roubar-lhe um pote de ruge.

Ela fugiu para a Terra c escondcu-se na casa de uma mulher que estava para dar à luz. A experiência com o nascimento tornou-a im­pura e, como consequência, foi levada ao Submundo para que a mancha fosse lavada. Ao contrário, ela se tornou uma das soberanas do Submundo e veio a ser chamada a Rainha Invencível, presidindo as purificações e as expiações. Como deusa dos feitiços, ela enviava demónios à Terra para atormentar os homens em seus sonhos; era acompanhada de Cérbero, o guardião de três cabeças do portal do Submundo, que era a sua forma anima! e seu espírito familiar. Os lugares que ela mais assombrava eram as encruzilhadas, tumbas e cenas de crimes; por isso é que imagens sagradas eram erigidas nas encruzilhadas e veneradas na véspera da lua cheia.

O próprio Zeus honrou Hécate de tal forma que nunca lhe negou o antigo poder que sempre possuiu: de conceder ou de negar os de­sejos dos mortais. Suas companheiras no Submundo eram as três Erínias ou Fúrias, que castigavam as ofensas contra a natureza e representavam, de maneira ameaçadora, as três Moiras ou o Desti­no. E, assim, Hécate é uma das mais antigas imagens da Mitologia, presidindo a magia, o nascimento, a morte, o Submundo e o destino.

No sentido interior, Hécate, a deusa da Lua, é uma imagem das profundezas misteriosas do inconsciente. Já nos deparamos com esse estranho e fugaz reino em duas outras cartas dos Arcanos Maiores: a Sacerdotisa e a Roda da Fortuna. Essas três cartas estão ligadas em significado e representam uma progressão no aprofundamento da compreensão e da experiência do mundo do inconsciente.

Por meio de Perséfone, a Sacerdotisa, o Louco conscientizou-se de uma intuição de suas profundezas pessoais, um "eu" secreto por Irás da vida cotidiana. E, por meio das Moiras que presidem a Roda da For­tuna, ele experimentou o poder do Destino por intermédio de mudan­ças bruscas que revelam uma lei invisível ou um padrão intencional interior. Na carta da Lua, encontramos na imagem de Hécate o oceano da grande coletividade do inconsciente, do qual não somente o indiví­duo, mas a própria vida emergiu.

Hécale é muito mais do que um retrato das profundezas pessoais. Ela encarna o princípio feminino da própria vida e os três rostos, as três fases da Lua, refictem o seu poder multifacetado sobre o Céu, a Terra e o Submundo. Em lermos psicológicos, é desse reino oceânico da imaginação humana que os grandes mitos, os símbolos religiosos e as obras de arte sempre nasceram. E um mundo caótico, confuso c sem limites, do qual o indivíduo com sua jornada pessoal e a sua busca do "eu" é somente uma pequena parte.

O encontro com Hécate, a deusa da Lua, é uma confrontação com o mundo transpessoal no qual os limites individuais se dissolvem e o sentido de direção e do ego se perdem. É como se devêssemos esperar, submersos nas águas desse mundo, enquanto os novos po­tenciais surgem para, eventualmente, tornar-se o nosso futuro. Mas as águas escuras do inconsciente coletivo contêm tanto o positivo quanto o negativo e, às vezes, é difícil distinguir seus movimentos alternados de loucura e de delírio. Ele pode ser um mundo apavoran­te c cheio de ansiedade, pois viver no reino presidido por Hécate significa viver sem conhecimento e sem compreensão. Algo pas­sou por nós e levou consigo o passado, preparando o caminho para o futuro; mas devemos esperar, assim como o feto espera no útero da mãe.

O único caminho para o reino de Hécate é o "Caminho Real" dos sonhos que, como o caranguejo, nos atormenta com um vislumbre c depois volta para a água. A carta da Lua é uma carta de gestação cheia de confusão, ansiedade e perplexidade. Temos apenas o mun­do dos sonhos e a Estrela da Esperança para nos guiar, pois essa imagem do feminino não é pessoal como a da Sacerdotisa. E vaga, ilusória, impessoal e incorpora os humores alternados e a confusão. Hécate não pode ser realmente compreendida, pois é a deusa da magia e inicia o Louco em um mundo maior do que ele próprio, aque­la água primordial que dá origem à vida.

No sentido divinatório, a carta de Hécate, a deusa da Lua, prevê um período de confusão, flutuação e incerteza. Estamos presos ao inconsciente e somente podemos esperar e agarrarmo-nos às imagens incertas dos sonhos e ao sentido de esperança e de fé. Assim, o Louco aguarda o seu renascimento nas águas de um útero maior, apenas consciente de que a sua jornada de desenvolvimento pessoal é tão-somente uma pequena fração de uma vida ampla e desconheci­da que abrange milénios, seguindo eternamente fértil, mas incompleta.


4) base da questão: O Cavaleiro de Copas

A carta do Cavaleiro de Copas retrata um lindo jovem de pele clara, cabelos pretos e olhos profundos, montado em um elegante cavalo branco. Ele traja uma túnica roxa e uma armadura prateada toda escamada, e sobre a cabeça porta um elmo com um enfeite em formato de cauda de peixe. Ele conduz o seu cavalo elegantemente ao longo de um riacho borbulhante no qual os peixes saltam da água. Ao seu redor, um cenário romântico de bosques e colinas verdes e, ao longe, o. mar pode ser visto sob um céu azul-claro. Com a sua mão esquerda, ele segura uma taça dourada.

Na carta do Cavaleiro de Copas, deparamo-nos com a dimensão volátil, sensível e mutável do elemento água que, como o riacho, está cheio de vida e em movimento constante. Essa é a representação do herói mitológico Perseu, motivado em todas as suas aventuras pelo amor às mulheres e que, em suas jornadas, deve enfrentar as várias facetas do feminino, tanto obscuras quanto claras, antes de poder reunir-se com o seu amor. Perseu era filho de Zeus e de uma mulher mortal chamada Danae, para quem o deus apareceu em uma chuva de ouro. O pai de Danae, Acrísio, havia sido avisado pelo oráculo de Delfos que sua filha daria à luz um filho que o mataria. Para que isso fosse evitado, ele encerrou Danae e o filho em uma arca e jogou-os ao mar. Protegidos pelas divindades da água, eles foram levados às margens de Sérifos e para a proteção do rei Polidetes. O rei apaixo-nou-se por Danae e a perseguiu durante todos os anos da infância e adolescência de Perseu. Finalmente, Polidetes resolveu matar Perseu porque o jovem era contrário a seu casamento, acreditando que a sua mãe merecia algo melhor. Portanto, o rei enviou o jovem na aparente missão impossível de trazer-lhe a cabeça da terrível Medusa.

Em todo o seu trajeto, Perseu foi protegido pelas deusas. As Gréias, três bruxas que compartilhavam de um único olho, conheciam os segredos do futuro e disseram-lhe onde encontrar Medusa; Atena armou-o com um escudo mágico e foi dessa maneira que o jovem conseguiu matar a górgona, olhando o seu reflexo no escudo espelhado, a fim de proteger sua mãe. Ele levou consigo a cabeça da Medusa e em seu caminho de volta para Sérifos passou pela Etiópia, onde sal­vou a linda Andrômeda das garras de um monstro marinho. Ele ma­tou o monstro, libertou-a e casou-se com a jovem. Ele então voltou para Sérifos e matou Polidetes que, entrementes, tentara seduzir Danae. Isso feito, juntamente com sua mãe e sua esposa, Perseu empreendeu o caminho de volta para o lugar de seu nascimento onde Acrísio, o seu avô, tentara matá-lo.

Apesar de não procurar vingar-se dele deliberadamente, ele acabou matando-o acidentalmente, tor-nando-se, dessa forma, rei de Argos. Mas o lugar era repleto de memórias tristes então decidiu transferir-se para Tirinto, onde fun­dou uma gloriosa dinastia.

Perseu, o Cavaleiro de Copas, é a imagem do verdadeiro espírito romântico, o herói das mulheres em dificuldades, o adorador do amor, da beleza e da verdade, e o defensor dos altos ideais que busca incessantemente o amor perfeito que somente existe no espírito e que sempre parece estar muito próximo, no ser amado seguinte. O espírito romântico do Cavaleiro de Copas incorpora tudo o que é gentil, idealista e bom; não se trata de uma personalidade fraca, ao contrário, ele é capaz de sacrificar tudo em nome de seu ideal ou do ser amado.

Em certo sentido, essa é a imagem do estado de "estar apaixona­do", uma experiência que todo realista presume que, com a familia­ridade do casamento, com os filhos e as obrigações familiares, acabe morrendo, mas que todo romântico acredita que possa e deva perdu­rar para sempre. Quando isso não ocorre, o Cavaleiro de Copas. pode seguir em frente, buscando ainda a derradeira experiência do amor sagrado.

É claro que a santidade do Cavaleiro de Copas não exclui o sexo, mas os relacionamentos sexuais para essa figura devem necessaria­mente estar associados ao amor e ao êxtase espiritual. A "mera" satisfação física não lhe interessa. Historicamente, os ideais do amor romântico que floresceram na Idade Média refletem o espírito do Ca­valeiro de Copas. O jovem cavaleiro sempre adorava a sua amada de longe; ele não a contagiaria com seus desejos carnais, mas lhe escre­veria poesias e, muitas vezes, dedicaria a sua vida para protegê-la.

Perseu é diferente dos outros heróis em virtude, justamente, desse alto idealismo e veneração pelas mulheres. Diferentemente das figuras como Héracles que enfrenta seus desafios porque tenta expiar um pecado ou como Teseu que os enfrenta por serem excitantes, Perseu segue o seu destino pelo amor, principalmente começando pelo amor de sua mãe. Essa qualidade de venerar e de idealizar a mãe é característica do Cavaleiro de Copas, pois, apesar de sua força, ele se ajoelha aos pés de uma rainha uma mulher de maior poder do que ele.

Muitas vezes, a qualidade do amor representado pelo Cavaleiro de Copas contém esse elemento de adoração por uma pessoa diante da qual nos sentimos um tanto indignos - ou por uma pessoa que já esteja casada. Esse ainda não é um amor entre iguais, que encontra­remos mais adiante na Rainha e no Rei de Copas. Mas, à sua manei­ra, é amor e não deveria ser ridicularizado como adolescente ou ima­turo. Sem o Cavaleiro de Copas, viveríamos em um mundo insípido e desprovido de brilho.

Quando o Cavaleiro de Copas aparece em uma abertura de car­tas, indica que chegou o momento de o indivíduo experimentar essa dimensão inebriante e romântica do amor. Frequentemente, o Cava­leiro prevê uma proposta de casamento ou a experiência de uma paixão. Em outro nível, às vezes ele implica uma proposta artística, um relacionamento diferente, não menos exaltado e idealista. Ele ainda pode entrar na vida de um indivíduo como um jovem poético e sensível, um arauto do nosso próprio romantismo emergente.


5) influências do passado: O 4 de Espadas

A carta Quatro de Espadas retrata Crestes no exílio, em Fócida. Ele está sentado tranquilamente no chão contemplando quatro espadas que formam um padrão à sua frente.
Atrás dele, um céu pálido e calmo com pequenas nuvens e um cenário de picos nevados.
O Quatro de Espadas reflete um período calmo de retiro e de contemplação.

Aqui podemos ver Orestes em seu exílio. Ele ainda não recebeu a ordem do deus Apolo e, portanto, está em paz, apesar de não lhe ser permitido voltar para casa. O Quatro de Espadas sugere um período de introversão e de reflexão, de recuperação emocional após o surgimento do conflito no Três de Espadas. O ve­neno foi liberado e agora existe a oportunidade para refletir sobre o que aconteceu. Esse é um período de preparação que precede a tarefa de praticar as mudanças necessárias à vida como resultado do conflito. Há um incremento de força, um controle das reservas internas em uma situação de calma e de introspecção.

Procuramos instintivamente esse lugar de quietude depois de um evento turbulento e penoso em nossas vidas. O indivíduo que passou pela separação ou pelo divórcio, ou até por uma discussão exacerba­da, frequentemente precisa de um tempo sozinho para analisar o padrão do que aconteceu; isso também ocorre com a pessoa sobre­carregada ou aquela que foi demitida de seu trabalho, ou se separou de um amigo ou de um relacionamento amoroso. Frequentemente não reconhecemos o valor desse período de quietude e nos precipita­mos e procuramos cercar-nos de pessoas que farão com que nos sintamos melhor e que nos ajudem a esquecer o que aconteceu. Mas o exílio de Orcstes é imposto e, de certa maneira, somos forçados à introversão pela descoberta de que essa precipitação nervosa não cura absolutamente nada.

Muitas vezes isso piora a nossa situação, até reconhecermos a necessidade do silêncio e da solidão antes de voltarmos à vida novamente. Essa reflexão pode revelar o significa­do que fundamenta a separação ou o conflito, porque qualquer difi­culdade refletida pelo naipe de Espadas inevitavelmente apontará para algum estágio do passado no qual um novo conceito da vida começou a surgir e está desequilibrando todos os nossos padrões preexistentes da vida.

No sentido divinatório, o Quatro de Espadas anuncia um período de recuperação silenciosa e de introversão, no qual o indivíduo pode armazenar energia preparando-se para maiores esforços. Quando o Quatro de Espadas aparece em uma abertura de cartas, talvez seja melhor aceitar a solidão ou o retiro e não procurar preencher o tem­po com atividades, pois alguma quietude é necessária para controlar os pensamentos c organizar a própria vida.


6) influências do futuro: O Cavaleiro de Ouros

A carta do Cavaleiro de Ouros retrata um jovem forte de cabelos castanhos, montado em um grande cavalo marrom. Ele veste uma túnica verde-limão, uma armadura e um elmo em couro marrom. Em sua mão direita ele segura um pentáculo dourado e, em sua esquerda, um feixe de trigo. Ao seu redor, ovelhas espalhadas em grandes pastos verdejantes e um pequeno bosque de oliveiras com colmeias. Acima dele, um céu de azul-brilhante. Na carta do Cavaleiro de Ouros deparamo-nos com a dimensão laboriosa, versátil e mutável do elemento Terra que está cm constante movimento. Ele é representado pela figura mitológica de Aristeu, chamado de "Guardião dos Rebanhos".

Aristeu era filho do deus-Sol Apolo e de uma mortal chamada Cirene. Ainda criança, ele foi entregue à Mãe-Terra, que o alimentou com néctar e ambrósia. As dríades ou três ninfas ensinaram Aristeu como coagular o leite para fazer queijo, construir colmeias e fazer a oliveira produzir a azeitona cultivada. Ele ensinou essas artes úteis às pessoas enquanto jovem ainda, viajando incessantemente pela África do Norte e Grécia, e angariando honras em seu caminho.

Quando Aristeu alcançou a maturidade, as Musas lhe ensinaram as artes da cura e da profecia, e o encarregaram de vigiar suas ovelhas que pastavam na Planície de Ftia. Foi ali que ele aperfeiçoou a arte da caça. Um dia Aristeu consultou o oráculo de Delfos, de seu pai Apolo, que lhe disse para visitar a Ilha de Keas (atual Zea ou Tzia), onde ele seria muito prestigiado. Embarcando imediatamente, Aristeu soube que uma praga havia atingido os ilhéus, pelo fato de criminosos secretos haverem se infiltrado entre eles. Aristeu condenou à morte os criminosos e a praga foi eliminada. Os keanos cumularam-no de gratidão. Ele então visitou a Arcádia e mais tarde a cidade de Tempe, na Tessália, onde as suas abelhas começaram a morrer e ele foi avisado por sua mãe a visitar o velho deus marinho Proteu, que era profeta, e forçá-lo a explicar o motivo da catástrofe. Aristeu saiu à sua procura e, encontrando-o, capturou-o. Forçado a responder, Proteu disse que a doença das abelhas foi causada por um infeliz episódio amoroso que resultou na morte acidental da mulher.

Em vista disso, Aristeu estava sendo castigado pelos deuses. Como reparação, ele ofereceu vários animais em sacrifício às divindades ofendidas, e das carcaças desses animais surgiu um enxame de abelhas que ele capturou e colocou em suas colmeias. Então, continuou suas viagens para a Líbia, dali para a Sardenha e, finalmente, para a Sicília. Depois se dirigiu para a Trácia, ainda irrequieto e em busca de outras tarefas. E, finalmente, fundou uma cidade com o seu nome, onde morreu respeitado por sua sabedoria. Aristeu, o Cavaleiro de Ouros, é a imagem da capacidade humana pelo trabalho e pelo serviço diligente. Ele não é realmente um herói, pois não enfrenta dragões ou missões perigosas, e o seu maior desafio é a cura de abelhas doentes. Mas, assim mesmo, ele é uma figura poderosa e criativa. A personalidade de Aristeu é aquela do amante do campo e amigo dos animais e das criaturas selvagens, considerando que todo trabalho é importante, desde que sirva a vida da Natureza. Apesar da limitação de seus objetivos, Aristeu nunca pôde ser acusado do grandioso orgulho que aflige tantos heróis gregos e que é a causa tanto de sua glória quanto de sua queda.

Ele é bondoso e confiável, com vontade de trabalhar com afinco nos assuntos que lhe dizem respeito.Apesar de quase todas as figuras da mitologia grega serem culpadas de estupro, sedução, assassinato ou outro crime qualquer (psicopatas?), é peculiar o fato de Aristeu aceitar de boa vontade uma missão cansativa e detalhada, cumprindo-a impecavelmente a fim de beneficiar algumas abelhas.

Aristeu representa o nosso lado humilde o suficiente para relacionar-se com as formas mais humildes da vida e que está sempre pronto a aprender mais sobre as facetas variadas e complexas da Natureza. O Cavaleiro de Ouros não é fascinante, mas é capaz de satisfação, porque as suas realizações são sempre cingidas de realismo e de objetivos humildes. Essa é a qualidade que nos permite aceitar de bom grado a tarefa que pode ser aborrecida e que oferece muito trabalho. Ele desempenha criteriosamente as tarefas da vida cotidiana. Aristeu não tem nenhuma pretensão à divindade e, no entanto, é filho de um deus e, depois de sua morte, ele foi venerado como divino.

No sentido divinatório, quando o Rei de Ouros aparece em uma abertura de cartas, chegou o momento de o indivíduo desenvolver a dimensão da personalidade que está confortável e firmemente ancorada nas tarefas cotidianas da vida. O Cavaleiro de Ouros pode entrar em nossa vida como um jovem trabalhador, humilde e gentil, faltando-lhe talvez imaginação, mas rico nas qualidades de confiabilidade e gentileza. Se essa pessoa entrar em nossa esfera de relacionamentos, isso pode ser interpretado como uma oportunidade para aprender mais a respeito desse nosso lado pelo cataclismo de outra pessoa.


7) influências do presente: O 9 de Ouros

A carta Nove de Ouros retrata Dédalo com suas mãos cruzadas em uma postura e sorriso de satisfação. Ele abandonou a sua túnica ocre e avental de couro e agora veste um traje ocre borda¬do a ouro; em sua cabeça, uma coroa de louros. Aos seus lados, vinhas carregadas de cachos de uva sobem por uma treliça e, mais distante, um cenário de montanhas verdejantes e um calmo mar azul. Junto ao artesão, amontoados no chão, nove pentáculos dourados. O Nove de Ouros retrata um estado de grande auto-satisfação. Dédalo arriscou-se em um empreendimento perigoso, trabalhou com afinco para desenvolvê-lo, assumiu os riscos, sofreu os consequentes perigos e agora admira as recompensas que dignamente mereceu.

A importância e a diferença do Nove de Ouros são que o prazer do artesão não se refere ao aplauso e ao reconhecimento público. Essa é a satisfação solitária da realização de coisas boas, o prazer da auto-suficiência e a realização decorrente dos próprios esforços. Dédalo pode dizer honestamente "eu consegui à minha maneira", pois sua adquirida riqueza é realmente um símbolo do sentido de auto-estima que somente pode decorrer do interior do indivíduo. O artesão fez as pazes com o seu passado obscuro e com seu período de perda e de exílio; ele também conseguiu enganar o rei Minos que o perseguiu em razão da sua decisão de ajudar a rainha e seguir a vontade do deus Poseidon.

O perigo agora ficou no passado e Dédalo pode sentir satisfação pelos seus esforços e sua astúcia que asseguraram a sua sobrevivência, riqueza e posição pelo resto de sua vida. Portanto, o Nove de Ouros é uma carta de recompensa e de realização aos nossos próprios olhos, sabendo que, mesmo que ninguém reconheça o valor do que foi realizado, é bem merecido ser reconhecido por nosso próprio interior. Há uma permanência e uma indestrutibilidade acerca da satisfação representada pelo Nove de Ouros que não está presente em qualquer outra carta dos Arcanos Menores. Essa satisfação depende de nada e de ninguém além de nós mesmos. Uma vez estabelecida, não pode ser destruída, mesmo que toda a riqueza nos seja retirada.

O Nove de Ouros é mais do que uma carta de realização material. Em um sentido mais sutil, ela implica a descoberta de um sentido profundo e permanente de auto-esti¬ma, angariado por meio do trabalho árduo ao enfrentar os desafios da vida no nível material e sobrevivendo a todos. . No sentido divinatório, o Nove de Ouros prevê um período em que o indivíduo pode estar honestamente satisfeito consigo mesmo e com o que conseguiu realizar. Muitas vezes, há um forte sentido de identidade, um sentimento de nossas habilidades especiais e o valor de nossa própria vida.
Essa carta reflete a satisfação solitária e auto-suficiente das coisas boas realizadas que não dependem da concordância e da aprovação de qualquer pessoa para promover o prazer e a profunda satisfação.

8) ambiente externo: O 6 de Copas

A carta Seis de Copas retrata Psique sentada sobre um rochedo e, atrás dela, um mar calmo. Em sua mão esquerda, ela segura e contempla o conteúdo de uma taça dourada. Em sua mão direita, os restos de seu buque de noiva de lírios brancos. Ao seu redor, outras cinco taças douradas.

O Seis de Copas é uma carta nostálgica. Aqui podemos ver Psique abandonada; o seu misterioso marido se foi e o magnífico palácio desapareceu; tudo o que ela tem são boas memórias. Entretanto, apesar da catástrofe, Psique parece estar tranquila, pois o Seis de Copas não é uma carta negativa. Com o ocorrido, Psique conseguiu
algo muito precioso. Ela realmente viu Eros e agora sabe que o ama pelo que ele é, e não pelo conforto e pelo prazer que ele lhe propor­cionava. Portanto, apesar da perda, ela descobriu algo a seu próprio respeito e é essa verdade que promove a harmonia que podemos ver nessa carta.

A calma e a serenidade que muitas vezes ocorrem depois de uma crise em nossas vidas são relacionadas a esse estágio da história. Aqui, os sonhos e as expectativas irreais do passado, por meio de provas e decepções, de certa forma se cristalizam em algo sólido e real. Psique assumiu o desafio de recuperar o seu amor perdido após o arrependimento e o remorso do Cinco de Copas e, portanto, está em paz consigo mesma. O seu amor tornou-se realidade e agora ela tem alguma coisa com que trabalhar. Nesses momentos, a nostalgia do passado sempre volta para nos assombrar, mas existe uma faísca de verdade nele e não se trata apenas de uma fantasia sentimental sem fundamento. Após a auto-recriminação do Cinco, o Seis de Co­pas representa uma retomada positiva na jornada de Psique para o seu objetivo.

No sentido divinatório, o Seis de Copas anuncia um período de serenidade que resulta das experiências dos sonhos do passado. Al­gumas vezes, um antigo amor volta do passado ou o sonho de um desejo antigo parece ser realizável em um futuro próximo. A ceguei­ra própria do estado de "estar apaixonado" solidificou-se e, apesar de o passado parecer maravilhoso, mas irrevogavelmente perdido, uma parte de sua promessa surge no presente, temperada e reforça­da. Essa carta implica a nostalgia a respeito do passado, mas com uma diferença: o passado pode levar ao futuro e o sonho passa a ser possível, e até próximo de realização.


9) esperanças e temores: O 4 de Copas

A carta Quatro de Copas retrata Psique, a recente noiva, sentada no magnífico palácio do deus Eros. Através de colunas brancas, vislumbra-se o mar. Aos dois lados de Psique, estão suas invejosas irmãs, uma vestindo preto e a outra, vermelho, ambas sussurrando que o seu noivo seria um terrível monstro; do contrário, por que haveria de ocultar-se nas sombras, visitando-a somente à noite? Psique assume um olhar descontente. À sua frente, quatro taças douradas.

Os Quatro de todos os naipes dos Arcanos Menores são aqueles do descontentamento divino. Apesar de tudo parecer alegre e compensador, ainda existem dúvida e suspeita. O Quatro de Copas retrata esse descontentamento em nível de sentimento. Psique vive na opulência e é visitada à noite pelo marido amante e carinhoso, mas mesmo assim não está satisfeita. Suas invejosas e ciumentas irmãs, de certa forma, são os impulsos interiores da própria alma, pois, apesar de negativos e de provocar-lhe dúvidas, sondam um pro­blema real: a cegueira e a ignorância de Psique quanto a quem e o que é o seu verdadeiro consorte.

Assim, a realização inicial do Três provou ser uma decepção, pois há uma crescente percepção de que alguma coisa está errada, algo que não está sendo considerado. Todos temos essas horríveis irmãs dentro de nós, uma espécie de lado sombra de nossa personalidade que mais parece desejar-nos o mal e, no entanto, somente quer o nosso bem, porque ele nos obriga a analisar mais profundamente e a exigir mais honestidade em nosso tratamento emocional com as pes­soas. Caso Psique tivesse permanecido em seu estado cego e satis­feito de ignorância, ela nunca teria crescido e todo o potencial de seu relacionamento com Eros e o seu próprio "eu" nunca seria alcança­do. Portanto, o Quatro de Copas, a carta dos sentimentos desconten­tes e da insatisfação emocional, por nenhuma razão aparente, é tanto negativo quanto positivo. Ele retrata todas as nossas vãs suspeitas e dúvidas a respeito das outras pessoas; e isso resulta na semente de todas as traições. Entretanto, ele ainda retrata uma misteriosa força inteligente funcionando no indivíduo que, de alguma forma, sabe que ainda há um longo caminho pela frente.

No sentido divinatório, o Quatro de Copas prevê um período de insatisfação, de tédio e de depressão em um relacionamento. Há um sentimento de ter sido abandonado ou trapaceado, apesar de que os trapaceiros somos nós mesmos, graças às nossas expectativas irreais. Essa insatisfação pode levar a um demorado e tácito ressentimento ou pode levar a uma análise mais profunda dos relacionamentos, um ca­minho mais árduo porque as suposições e fantasias anteriores serão então desafiadas.


10) fechamento: Os Namorados

A carta dos namorados retrata um jovem formoso vestido em simples trajes de pastor, segurando um cajado na mão direita; em sua mão esquerda, uma maçã dourada. Três mulheres se exibem, pois se trata de um concurso de beleza e a maçã dourada será o prémio da escolhida. A mulher à esquerda tem um porte majesto­so e maduro, com cabelos castanhos e olhos claros, um vestido de cor púrpura e porta um diadema dourado na cabeça. Ela oferece ao jovem o globo do mundo. A mulher ao centro é jovem, sedutora e de cabelos pretos. Sua túnica transparente cor-de-rosa revela mais do que esconde. Ela oferece um cálice de ouro. A mulher à direita é fria e casta, vestida com armadura completa de luta; seus cabelos claros estão quase totalmente cobertos pelo elmo de guerreiro. Ela oferece uma espada. Atrás das quatro figuras, estende-se um cenário ondulante de colinas verdejantes.

Aqui encontramos o príncipe Paris que foi incumbido por Zeus de presidir um concurso de beleza entre as três deusas - Hera, Afrodite e Atena. Quando Paris nasceu, um oráculo previu que um dia ele representaria a derrocada do império do pai. Com medo dessa pro­fecia, o rei Príamo, seu pai, sentenciou-o à morte, abandonando-o à sua própria sorte no topo de uma colina. Mas um pastor que por ali
passava o salvou e criou. Ele cresceu pastando ovelhas e passava horas a imaginar conquistas românticas, pois era um jovem bonito e encantador.

Quando, no Monte Olimpo, uma disputa ocorreu entre Hera (rai­nha dos deuses), Afrodite (deusa do amor sensual) e Atena (deusa da justiça) quanto à mais bela das três, Zeus decidiu que Paris, com sua rica e vasta experiência do assunto, seria o melhor juiz para o concurso. Hermes foi enviado para informar o jovem dessa dúbia honra que lhe era conferida pelo rei dos deuses.

Inicialmente, Paris recusou o pedido, sabendo muito bem que, ao escolher uma delas, as outras duas nunca o perdoariam. Mas Her­mes o ameaçou com a ira de Zeus e Paris então sugeriu dividir a maçã em três partes, pois de que forma ele poderia fazer uma esco­lha entre tais beldades? Mas Hermes também não aceitou essa descul­pa. Por conseguinte, as deusas se exibiram perante o jovem. Hera ofereceu-lhe o governo do mundo, caso a escolhesse; Atena ofereceu torná-lo o mais poderoso e justo dos guerreiros; e Afrodite simples­mente abriu a sua túnica e ofereceu-lhe o cálice do amor, prometendo-lhe a mulher mortal mais bonita do mundo como esposa.
O resultado era previsível. Sendo jovem e inexperiente com respeito aos seus valores internos, Paris escolheu Afrodite sem qual­quer hesitação.

O seu prémio foi a famosa Helena, rainha de Esparta, que, inconvenientemente, era casada. Hera e Atena sorriram e pro­meteram que não o culpariam por sua escolha e, em seguida, saíram de braços dados confabulando a ruína de Tróia. E assim começou a conflagração da guerra troiana, que se iniciou com a raiva do marido traído e terminou com a ruína total da cidade de Tróia e de toda a casa real. O oráculo comprovou a sua autenticidade.

No sentido interno, o Juízo de Paris, como ficou conhecido na Mitologia, é uma imagem do primeiro grande desafio da vida em face do desenvolvimento individual: o problema da escolha no amor. Esse dilema não diz respeito unicamente à decisão entre duas mu­lheres ou dois homens, também se refere aos nossos valores, porque as escolhas refletem o tipo de pessoa que queremos ser. Por ser jovem e em razão de suas necessidades sexuais, Paris não pôde realmente escolher de uma perspectiva madura; sua escolha derivou de seus desejos e não de suas verdadeiras necessidades. Aqui está o problema do livre-arbítrio contra as compulsões dos instintos.

As consequências das escolhas no amor são enormes, pois afe-tam todos os níveis da vida. A compulsiva escolha de Paris resulta derradeiramente no grande conflito da Guerra de Tróia. Aqui não se trata da escolha "errada", pois ele ainda não está centrado o sufi­ciente para comparar a atração erótica de Afrodite com a sedução da esposa de outra pessoa. Também pouco conhece de si mesmo para decidir se o poder terreno ou a liderança de um guerreiro são igualmente importantes para ele. O concurso lhe é imposto assim como os desafios que surgem para todos nós antes que estejamos prontos para eles e, de certa maneira, o seu "erro" é necessário e inevitável.

O desejo por outra pessoa implica o desenvolvimento dos valores individuais e o autoconhecimento por meio das confusões e dos conflitos que derivam de nossas escolhas. Essa situação não pode ser evitada, por ser arquetípica. Paris é a nossa parte que, go­vernada pela incontida necessidade da satisfação do desejo, ainda não pode enxergar que todas as opções têm consequências pelas quais somos, no fim, responsáveis. Sem passar por meio da iniciação pelo fogo, não podemos entender como criamos o nosso futuro, mas colocamos a culpa no destino, no acaso ou em outra pessoa, em vez de colocá-la em nossa própria falta de reflexão.

No sentido divinatório, quando a carta dos Namorados aparece em uma abertura de cartas, ela prevê a necessidade de algum tipo de escolha, geralmente no amor. O Louco, que descobriu a sua própria dualidade, agora deve colocar os seus valores em teste. Às vezes isso significa um triângulo amoroso, mas também pode significar o problema de um casamento apressado ou a escolha entre o amor e uma carreira profissional ou alguma outra atividade criativa. Essa carta implica a necessidade de analisar cuidadosamente as conse­quências de nossas próprias escolhas, em vez de sermos cegamente impelidos, como Paris, a uma conflagração de graves consequências.