"I didn't see it coming"
1- [Carta de Cobertura/Significadora] - A Torre
A carta da Torre retrata um edifício de pedra construído em um alto rochedo com vistas para o mar. Das profundezas das águas, surge uma figura poderosa e ameaçadora, com uma coroa de ouro sobre os cabelos castanhos embrenhados de algas e um rabo de peixe que pode ser visto entre as ondas furiosas. Ela aponta o seu tridente ao edifício, que é atingido por um raio e fendido. O mar espuma e o céu é preto e ameaçador, iluminado pelos relâmpagos de uma tempestade.
Aqui podemos ver o famoso Labirinto do rei Minos que foi atingido por um terremoto quando o irado deus Poseidon emergiu das águas para derrubar o seu domínio. Na Mitologia, Minos era o rico e poderoso rei de Creta. Foi-lhe dado esse poder por Poseidon, deus dos terremotos e das profundezas do oceano, que concordara em tornar Minos soberano dos mares se esse lhe oferecesse em sacrifício um magnífico touro branco. Mas o rei Minos não queria se desfazer de seu touro e escondeu-o entre o rebanho, substituindo-o por um animal inferior. Furioso com o ato de arrogância e de repúdio ao pacto, Poseidon pediu ajuda a Afrodite, a deusa do amor. Afrodite fez com que a esposa de Minos, Pasifae, se apaixonasse perdidamente pelo touro branco. A rainha subornou Dédalo, o artesão do palácio, para que construísse uma vaca de madeira. Pasifae entrou na vaca e o touro branco penetrou Pasifae, e dessa união nasceu o Minotauro, a vergonha de Minos, uma criatura com o corpo de um homem e a cabeça de um touro que se alimentava de carne humana. Aterrorizado, o rei escondeu essa criatura no coração de um grande Labirinto de pedra que Dédalo construíra a pedido do rei.
Mas o reino não podia permanecer estagnado eternamente e ainda com esse vergonhoso segredo escondido em seu seio. Assim, Teseu, filho de Poseidon, com a ajuda de Ariadne, filha de Minos, entrou no Labirinto e matou o Minotauro. No mesmo instante, o deus levantou-se furioso de sua cama no oceano e atingiu o Labirinto. A construção foi reduzida a entulho pelo terremoto, enterrando o rei Minos junto ao corpo do Minotauro, e os escravos que eram mantidos sob o poder de Minos foram imediatamente libertados. Teseu foi proclamado rei de Creta, uma nova era foi inaugurada e o Labirinto nunca mais foi erguido.
No sentido interior, a Torre atingida por Poseidon é uma imagem do colapso dos velhos métodos. A Torre é a única estrutura construída pelo homem nos Arcanos Maiores e, portanto, é uma representação das estruturas interna e externa que construímos, como Minos, em defesa contra a vida e como esconderijo para ocultar das outras pessoas o nosso lado menos agradável. De várias formas, a Torre é uma imagem das fachadas socialmente aceitas que adotamos para esconder o nosso animal interior. Então usamos as nossas profissões, as nossas boas credenciais, as nossas associações com instituições e companhias respeitáveis, as nossas atitudes sociais cuidadosamente elaboradas, os nossos sorrisos educados e os nossos intercâmbios mais diplomáticos, as nossas aparências mais inspiradas e as nossas morais familiares mais rígidas, para ocultar aquele segredo vergonhoso que na carta do Diabo aguarda pelo Louco no Submundo. A Torre é uma estrutura de valores falsos ou superados, de atitudes para com a vida que não emergem de todo o ser, mas são papéis que, como em uma peça de teatro, representamos para impressionar a audiência. Da mesma forma, a Torre também representa as estruturas que construímos no mundo externo para incorporar o nosso eu incompleto.
Assim, quando o Louco confronta o grande deus Pan em nosso Labirinto interior, ele é transformado pelo encontro. Ele se torna humilde, mais completo e mais real. Inevitavelmente, essa transformação resultará em mudanças que afetarão a vida exterior. Da mesma maneira que as nossas atitudes são alteradas por qualquer encontro com o que está no subconsciente, também os estilos de vida que escolhemos são alterados. Um dos motivos de tantas pessoas temerem esse processo de olhar interiormente é que elas apenas vislumbram que, havendo descoberto a própria natureza real, não podem mais fingir aos olhos do mundo. O encontro honesto com o Diabo provoca uma profunda integridade interior e, assim, a Torre, o edifício que representa os valores do passado, deve cair. O Louco percebe as maneiras pelas quais ele traiu o seu "eu" essencial e o choque é semelhante ao tridente de Poseidon atingindo o Labirinto: derruba as defesas e liberta as nossas partes que haviam sido escravizadas. De muitas maneiras, o Minotauro é como o Diabo, porque ambos representam um segredo animal ligado ao corpo e aos vergonhosos sentimentos sexuais que devem ser escondidos, até de nós mesmos, se quisermos nos mostrar inocentes e íntegros aos olhos da sociedade.
No sentido divinatório, quando a Torre aparece em uma abertura de cartas, prevê a derrubada de formas existentes. Essa carta, como as cartas da Morte e do Diabo, depende muito da atitude do indivíduo com relação a quanto lhe é difícil e penoso lidar com ela. É claro que é mais criativo perguntarmo-nos em que ponto estamos restritos e presos a uma falsa persona ou auto-imagem, porque o desejo de romper com essas estruturas irreais pode evitar muita angústia e dor. Mas parece que a Torre cairá de qualquer maneira, independentemente de nossa vontade, não por causa de alguma maliciosa fatalidade externa, mas porque algo no indivíduo atingiu um ponto insuportável e não pode mais viver assim confinado.
2- [Carta Cruzada/Desafio] - A Rainha de Espadas
A carta da Rainha de Espadas retrata uma linda, mas fria e severa mulher, vestindo uma longa túnica azul, sóbria e simples. Ela porta uma coroa dourada sobre os seus cabelos louros e está sentada em um trono prateado. Em uma das mãos, ela segura uma espada de prata e, na outra, uma jarra da qual escorre água para o chão. Atrás dela, um cenário de picos nevados pode ser visto sob um céu calmo e azul.
Na carta da Rainha de Espadas, deparamo-nos com a dimensão estável, refletiva e contida do elemento Ar. Isso é encenado pela figura mitológica de Atalanta, a Caçadora, frustrada no amor em virtude de seus ideais demasiadamente altos.
Atalanta, cujo nome significa "Indómita", era filha do rei Jásio que esperava ansiosamente por um herdeiro. O nascimento de Atalanta o decepcionou tão cruelmente que ele a abandonou em uma colina perto de Calidonte. Mas a criança foi adotada e amamentada por uma ursa que a deusa da Lua, Ártemis-Hécate, enviou em sua ajuda. Atalanta cresceu em uma comunidade de caçadores que a encontraram e a educaram. Ela zelava por sua virgindade e sempre portava suas armas. Chegando à idade adulta, ela ainda não se reconciliara com o pai, que se recusava a reconhecê-la.
Atalanta realizou muitos feitos guerreiros famosos, inclusive a famosa caça ao javali calidoniana, durante a qual ela lutou ao lado dos homens e desferiu o primeiro golpe ao javali. Apesar de o jovem herói Melcagro, filho do deus da guerra Ares e o melhor arremessador de lanças da Grécia, apaixonar-se por ela, Atalanta recusou-se em ceder ao destino comum de uma mulher.
Finalmente, orgulhoso pelo feito, seu pai reconheceu-a e prometeu encontrar-lhe um marido nobre. Mas ela protestou dizendo: "Pai, concordo, mas com uma condição. Qualquer pretendente à minha mão deve primeiro derrotar-me em uma corrida a pé. Se não conseguir, deixe-me matá-lo". Como consequência, muitos príncipes infelizes perderam suas vidas, porque ela era a mortal mais veloz da Terra. Apesar do perigo e querendo competir pela mão de Atalanta, um jovem chamado Melânio invocou a ajuda de Afrodite. A deusa lhe deu três maçãs douradas dizendo-lhe que, para atrasá-la durante a corrida, deixasse cair as maçãs uma de cada vez. O estratagema teve sucesso e o casamento se realizou.
Mas ele estava malfadado, pois Melânio persuadiu Atalanta a se deitar com ele no recinto consagrado a Zeus que, irado pelo sacrilégio, os transformou em leões. Os gregos acreditavam que os leões não faziam sexo entre si, mas com leopardos e, dessa maneira, o casal estava condenado a nunca mais provar das delícias do amor.
Atalanta, a Rainha de Espadas, é a imagem do isolamento e da intocabilidade da mente que pode manter um ideal de perfeição a ponto de excluir e desvalorizar todos os aspectos sensuais. A Rainha de Espadas é uma figura fria porque o seu perfeccionismo e a sua identificação com o mundo masculino da mente e do espírito a tornam própria para a amizade, mas não para o amor erótico. Portanto, a Rainha de Espadas é uma figura régia e solene, mas também solitária, e essa solidão, muitas vezes acompanhada de orgulho e integridade, não surge tanto das circunstâncias, mas da relutância em permitir que as coisas mundanas demais prejudiquem o ideal da perfeição. O idealismo da Rainha de Espadas é sublime e nobre, e há uma lealdade que pode resistir a muitas das provas mais difíceis da vida. Entretanto, trata-se de um idealismo que não permite qualquer fracasso humano.
O mito de Atalanta pode ser encontrado em muitos dos nossos populares contos de fadas, como na imagem da princesa fria que exige que os seus pretendentes tentem realizar tarefas impossíveis para poder conquistá-la. Essa exigência pode ser sutil e até inconsciente, e fazer com que o amor seja excluído da vida do indivíduo. Por outro lado, ela pode ser uma exigência criativa, porque incentiva as pessoas a serem melhores do que realmente são. Entretanto, é uma visão fria e solitária, pois pretendente algum - ou nós mesmos -pode derradeiramente passar pelas provas impossíveis, senão nos contos de fadas.
E esses contos que se identificam com Atalanta, na vida real, tendem a esperar a vida inteira enquanto a vida mortal transcorre e a água do sentimento escorre desperdiçada da jarra para o chão do tempo e do espaço. Portanto, a Rainha de Espadas, que possui as grandes virtudes da lealdade e da integridade, assim como a capacidade de suportar a tristeza sem esmorecer, é a imagem da frustração e do isolamento emocionais, por ela ser intocável.
Assim como o Rei de Copas é uma figura ambivalente porque o papel masculino da realeza está assentado de maneira desconfortável ao lado do essencialmente feminino elemento Água, assim também é a Rainha de Espadas, pois o papel feminino da realeza está, da mesma maneira, ao lado do essencialmente masculino elemento Ar.
O mito de Atalanta nos transmite algo profundo e sutil a respeito da psicologia da Rainha de Espadas, pois seu pai deseja um herdeiro e recusa-se a aceitar o seu valor como mulher; e foi somente depois de ela provar o seu valor por meio de feitos de armas próprias de um homem que ele a reconheceu. O esforço para a perfeição expresso na imagem da Rainha de Espadas é, de certa forma, o esforço para sermos reconhecidos por um deus-pai que sempre está além do nosso alcance, pois não somos bons o suficiente simplesmente porque somos feitos de carne. Assim, a Rainha de Espadas aceitará nada menos que a perfeição, porque ela mesma devia ser supostamente perfeita e falhou.
No sentido divinatório, quando a Rainha de Espadas aparece em uma abertura de cartas, ela anuncia que chegou o momento de o indivíduo encontrar a sua dimensão presa indomitamente a uma fé irremovível em altos ideais. Esses ideais podem ser nobres e dignos e podem ajudar a melhorar a consciência e a qualidade de vida. Mas também podem rejeitar a vida e representar uma defesa contra o medo do ser humano e, portanto, vulnerável à dor. O indivíduo precisa ver onde ele poderia criar problemas em sua exigente busca da perfeição humana nas pessoas ou nele mesmo.
Se a Rainha de Espadas entrar em nossa vida como uma mulher forte, idealista e solitária, ela pode ser considerada um catalisador por meio do qual podemos descobrir esse aspecto em nós mesmos.
3- [Carta da Cabeça/Influências racionais ou internas] - O Ás de Paus
A carta Ás de Paus retrata um homem maduro de porte poderoso, barba e cabelos castanhos, uma coroa dourada na cabeça e uma túnica púrpura imperial. Ele está em pé diante de um cenário de altos picos nevados. Em seu ombro e descendo até o chão, a pele dourada de um carneiro. Em sua mão direita, ele segura o globo do mundo e, na esquerda, uma tocha acesa.
No Ás de Paus, encontramos novamente Zeus, rei dos deuses, o iniciador e a força motriz na lenda de Jasão e o Velocino de Ouro. Trata-se do Velocino sagrado do próprio Zeus que o herói deve resgatar e é esse Velocino que serve de símbolo da visão criativa que nos impulsiona a afastar-nos do mundo seguro e convencional para um objetivo imaginado, por caminhos desconhecidos.
Zeus é um deus antigo e poderoso, e uma de suas mais antigas representações era a divindade com cabeça de carneiro, o invisível poder criativo que gerou o Universo manifestado. Em nosso interior, Zeus incorpora o invisível poder criativo da imaginação, que não pode ser compreendido, mas é responsável por todos os esforços e produtos concretos de nossas vidas. Não é somente o artista que usa a imaginação criativa, apesar de que no artista podemos enxergar o seu poder - e a sua impressionante autonomia - bem claramente.
Na carta do Imperador dos Arcanos Maiores, deparamo-nos com o lado patriarcal de Zeus, o Pai de Todos. No Ás de Paus, encontramos o seu espírito volátil e esse Zeus, tal como Afrodite, é uma força da Natureza. Todos temos essa força dentro de nós. Zeus é a capacidade de visualizar um potencial futuro diferente e maior do que a realidade concreta na qual nos encontramos - quer seja um plano para redecorar uma sala de estar ou o conceito para um novo negócio. Muitas pessoas não confiam nessa faculdade imaginativa, acreditando ser "boba" ou "infantil", ou não assumem o risco da ideia nova com medo de que fracasse. Mas o grande Zeus não é "bobo", nem tampouco "infantil", e o Ás de Paus que retrata o surgimento inicial da energia criativa primitiva é uma carta poderosa. A nova ideia ainda não foi formulada, mas há um profundo sentido de nervosismo e um sentimento de abertura na vida. É esse sentido que impulsiona Jasão para a sua missão do Velocino de Ouro. F.le poderia ter simplesmente deposto o seu tio Pélias e ficado em casa, em Iolkos. Portanto, o Ás de Paus implica o início da grande jornada no mundo da visão e da imaginação, no qual as limitações concretas são desafiadas e superadas e a vida, depois, nunca mais será igual.
No sentido divinatório, o As de Paus anuncia o surgimento da energia criativa, apesar de cia ainda não ter sido formulada como uma meta ou um projeto. O nervosismo e a insatisfação com as presentes circunstâncias são acompanhados de um forte sentimento de que coisas novas são possíveis. O indivíduo está prestes a embarcar em uma aventura em busca de um sonho.
4- [Base da Questão/Subconsciente] - Os Namorados
A carta dos namorados retrata um jovem formoso vestido em simples trajes de pastor, segurando um cajado na mão direita; em sua mão esquerda, uma maçã dourada. Três mulheres se exibem, pois se trata de um concurso de beleza e a maçã dourada será o prémio da escolhida. A mulher à esquerda tem um porte majestoso e maduro, com cabelos castanhos e olhos claros, um vestido de cor púrpura e porta um diadema dourado na cabeça. Ela oferece ao jovem o globo do mundo. A mulher ao centro é jovem, sedutora e de cabelos pretos. Sua túnica transparente cor-de-rosa revela mais do que esconde. Ela oferece um cálice de ouro. A mulher à direita é fria e casta, vestida com armadura completa de luta; seus cabelos claros estão quase totalmente cobertos pelo elmo de guerreiro. Ela oferece uma espada. Atrás das quatro figuras, estende-se um cenário ondulante de colinas verdejantes.
Aqui encontramos o príncipe Paris que foi incumbido por Zeus de presidir um concurso de beleza entre as três deusas - Hera, Afrodite e Atena. Quando Paris nasceu, um oráculo previu que um dia ele representaria a derrocada do império do pai. Com medo dessa profecia, o rei Príamo, seu pai, sentenciou-o à morte, abandonando-o à sua própria sorte no topo de uma colina. Mas um pastor que por ali
passava o salvou e criou. Ele cresceu pastando ovelhas e passava horas a imaginar conquistas românticas, pois era um jovem bonito e encantador.
Quando, no Monte Olimpo, uma disputa ocorreu entre Hera (rainha dos deuses), Afrodite (deusa do amor sensual) e Atena (deusa da justiça) quanto à mais bela das três, Zeus decidiu que Paris, com sua rica e vasta experiência do assunto, seria o melhor juiz para o concurso. Hermes foi enviado para informar o jovem dessa dúbia honra que lhe era conferida pelo rei dos deuses.
Inicialmente, Paris recusou o pedido, sabendo muito bem que, ao escolher uma delas, as outras duas nunca o perdoariam. Mas Hermes o ameaçou com a ira de Zeus e Paris então sugeriu dividir a maçã em três partes, pois de que forma ele poderia fazer uma escolha entre tais beldades? Mas Hermes também não aceitou essa desculpa. Por conseguinte, as deusas se exibiram perante o jovem. Hera ofereceu-lhe o governo do mundo, caso a escolhesse; Atena ofereceu torná-lo o mais poderoso e justo dos guerreiros; e Afrodite simplesmente abriu a sua túnica e ofereceu-lhe o cálice do amor, prometendo-lhe a mulher mortal mais bonita do mundo como esposa.
O resultado era previsível. Sendo jovem e inexperiente com respeito aos seus valores internos, Paris escolheu Afrodite sem qualquer hesitação.
O seu prémio foi a famosa Helena, rainha de Esparta, que, inconvenientemente, era casada. Hera e Atena sorriram e prometeram que não o culpariam por sua escolha e, em seguida, saíram de braços dados confabulando a ruína de Tróia. E assim começou a conflagração da guerra troiana, que se iniciou com a raiva do marido traído e terminou com a ruína total da cidade de Tróia e de toda a casa real. O oráculo comprovou a sua autenticidade.
No sentido interno, o Juízo de Paris, como ficou conhecido na Mitologia, é uma imagem do primeiro grande desafio da vida em face do desenvolvimento individual: o problema da escolha no amor. Esse dilema não diz respeito unicamente à decisão entre duas mulheres ou dois homens, também se refere aos nossos valores, porque as escolhas refletem o tipo de pessoa que queremos ser. Por ser jovem e em razão de suas necessidades sexuais, Paris não pôde realmente escolher de uma perspectiva madura; sua escolha derivou de seus desejos e não de suas verdadeiras necessidades. Aqui está o problema do livre-arbítrio contra as compulsões dos instintos.
As consequências das escolhas no amor são enormes, pois afe-tam todos os níveis da vida. A compulsiva escolha de Paris resulta derradeiramente no grande conflito da Guerra de Tróia. Aqui não se trata da escolha "errada", pois ele ainda não está centrado o suficiente para comparar a atração erótica de Afrodite com a sedução da esposa de outra pessoa. Também pouco conhece de si mesmo para decidir se o poder terreno ou a liderança de um guerreiro são igualmente importantes para ele. O concurso lhe é imposto assim como os desafios que surgem para todos nós antes que estejamos prontos para eles e, de certa maneira, o seu "erro" é necessário e inevitável.
O desejo por outra pessoa implica o desenvolvimento dos valores individuais e o autoconhecimento por meio das confusões e dos conflitos que derivam de nossas escolhas. Essa situação não pode ser evitada, por ser arquetípica. Paris é a nossa parte que, governada pela incontida necessidade da satisfação do desejo, ainda não pode enxergar que todas as opções têm consequências pelas quais somos, no fim, responsáveis. Sem passar por meio da iniciação pelo fogo, não podemos entender como criamos o nosso futuro, mas colocamos a culpa no destino, no acaso ou em outra pessoa, em vez de colocá-la em nossa própria falta de reflexão.
No sentido divinatório, quando a carta dos Namorados aparece em uma abertura de cartas, ela prevê a necessidade de algum tipo de escolha, geralmente no amor. O Louco, que descobriu a sua própria dualidade, agora deve colocar os seus valores em teste. Às vezes isso significa um triângulo amoroso, mas também pode significar o problema de um casamento apressado ou a escolha entre o amor e uma carreira profissional ou alguma outra atividade criativa. Essa carta implica a necessidade de analisar cuidadosamente as consequências de nossas próprias escolhas, em vez de sermos cegamente impelidos, como Paris, a uma conflagração de graves consequências.
5- [Influências do Passado] - O Oito de Copas
A carta Oito de Copas retrata Psique executando a última tarefa de Afrodite: a viagem ao Submundo para resgatar um pote de creme de beleza de Perséfone. Psique apresenta-se de mãos vazias ao descer os degraus que levam à escuridão do Submundo; seu rosto está triste, mas resignado, pois sabe que provavelmente não sobreviverá à viagem. Atrás dela, abandonadas, oito taças douradas cuidadosamente arrumadas.
O Oito de Copas é a fase mais difícil da jornada de Psique para o seu objetivo de recuperar o relacionamento com Eros: a desistência voluntária da esperança no futuro.
Nenhum mortal vivo pode descer ao reino de Hades e, no que diz respeito a Psique, essa última tarefa que Afrodite lhe impôs deve significar a sua morte. No entanto, ela obedece à deusa por ser leal ao seu compromisso com o amor. Dessa maneira, trata-se da desistência da esperança. Todas as tarefas tão meticulosamente executadas sugerem, pelas oito taças cuidadosamente arrumadas, que de nada serviram. Ela enxerga a situação como realmente é - que Afrodite jamais cederá - e, desesperada, ela desiste e abandona todas as suas esperanças passadas.
Esse estágio do relacionamento é um dos mais penosos, porque significa que nada mais pode ser feito. Esforços maiores de nada servirão; devemos desistir e começar tudo de novo. Muitas pessoas, quando são confrontadas com o dilema refletido pelo Oito de Copas, recusam-se a aceitar o impasse e continuam a suplicar, ameaçar, coagir e a chantagear o parceiro, na esperança de uma resposta que não é mais possível nas atuais circunstâncias. O Submundo, como vimos na carta da Morte dos Arcanos Maiores, é o símbolo de luto e o abandono do controle; é o lugar da morte e da transformação de nossas velhas atitudes. Portanto, quando não há mais o que fazer, devemos desistir voluntariamente, não a título de "negociação" para garantir uma futura reconciliação - pois esse não é um autêntico abandono -, mas porque é a única coisa a ser feita. Essa é a aceitação do que parece ser o destino, a aceitação do fim. Não importa o que aconteça depois, a desistência nos transformará porque é a sujeição ao que é maior e não à boa vontade do parceiro, mas à vontade do divino, aqui representada pela grande deusa do amor.
No sentido divinatório, o Oito de Copas implica a necessidade de desistir de alguma coisa. A verdade da situação deve ser enfrentada; não há o que fazer e não existe outra forma senão desistir. Muitas vezes, a situação leva à depressão, pois o Submundo é um lugar de luto. O futuro não pode ser manipulado e para o desconhecido nos dirigimos de mãos vazias.
6- [Influências do Futuro] - O Rei de Copas
A carta do Rei de Copas retrata um homem de pele clara, com cabelos e barba pretos, e grandes e compassivos olhos pretos. Ele veste uma túnica azul-escura e porta uma coroa dourada. Ele está sentado em um trono dourado cujos braços são entalhados com dois caranguejos dourados. Na mão direita, ele segura uma taça dourada e, na esquerda, uma lira. A seus pés, degraus levam para a água de uma enseada da qual emerge um caranguejo. Atrás dele, além do promontório em que está assentado o trono, é possível vislumbrar um mar revolto.
Na carta do Rei de Copas, deparamo-nos com a dimensão ativa e dinâmica da água que procura evidentemente formar relacionamentos, e até mesmo guiar e ajudar as pessoas. Esse quadro incorpora a figura mitológica de Orfeu, o cantor, que era sacerdote e curador, mas cuja história é triste e solitária, apesar de ter proporcionado consolo aos seus semelhantes. Orfeu era filho do rei Eagro da Trácia e da musa Calíope, sendo o mais famoso poeta e músico que jamais existiu. Apolo presenteou-o com uma lira e as musas o ensinaram a tocar, de forma tal que ele não somente encantava as feras, mas fazia até as árvores e as pedras se moverem para seguir o som de suas músicas. Ele se juntou aos Argonautas na busca do Velocino de Ouro e a sua música os ajudou a superar muitas dificuldades. Ao voltar, ele casou-se com Eurídice e estabeleceu-se na Trácia.
Contudo, a sua vida não estava destinada a felicidade. Um dia, um homem procurou assaltar Eurídice no vale do rio Peneu e, ao tentar fugir, ela pisou em uma cobra que a picou, causando-lhe a morte. Mas Orfeu ousadamente desceu para o Submundo procurando trazê-la de volta. Ele não somente encantou o barqueiro Caronte; Cérbero, o cão de três cabeças; e os três Juízes dos Mortos, com a sua música melodiosa, como também conseguiu suspender temporariamente as torturas dos condenados e tanto consolou o coração negro de Hades que obteve permissão de resgatar Eurídice ao mundo superior. Mas Hades exigiu uma condição: Orfeu não deveria olhar para trás enquanto ela não estivesse segura de volta à luz do Sol. Eurídice seguiu Orfeu pelas passagens escuras guiada pelo som de sua lira. Mas, no último momento, ele perdeu-a confiança e olhou para trás para ver se ela ainda o seguia e, dessa vez, perdeu-a para sempre.
A partir de então, Orfeu assumiu o papel de sacerdote, ensinando os mistérios e pregando os malefícios dos sacrifícios aos homens da Trácia. Porém, o deus Dionísio enciumou-se dele por causa de sua fama entre os homens, que começaram a adorá-lo como se fosse divino. O deus enviou as suas loucas Bacantes ao seu encalço e elas, furiosas que eram, reduziram-no a pedaços. Lamentando e chorando o ocorrido, as Musas recolheram seus restos mortais e os enterraram ao pé do Monte Olimpo, onde os rouxinóis agora cantam mais docemente do que em qualquer outro lugar do mundo.
Orfeu, o Rei de Copas, é a imagem do curador ferido, a figura que, pela compaixão e pela empatia, pode curar os outros, mas não pode curar a própria ferida no domínio do coração. De muitas maneiras, ele é o antigo equivalente dos modernos assistentes sociais e dos psicoterapeutas - o indivíduo que almeja estar em contato com o mundo do sentimento e procura incessantemente ajudar as pessoas a se relacionarem, mas ao qual, às vezes, falta confiança em sua vida pessoal e, portanto, não consegue alcançar a realização tão desejada.
O Rei de Copas coloca o relacionamento e o amor humanos acima de tudo e empenha todos os seus esforços para iniciar e para preservar esse contato emocional. Entretanto, ele permanece curiosamente desconfortável e deve sempre olhar para trás para ver se o que iniciou continua acompanhando-o ainda intacto. E, assim, ele frequentemente perde o que mais deseja.
A figura é profundamente paradoxal, como se o elemento água - que, de muitas formas, é uma imagem do mundo feminino do sentimento - estivesse desconfortavelmente sentado na presença da imagem masculina e dinâmica do Rei. Juntas, ambas ficam estranhas e criam uma peculiar ambivalência.
O Rei de Copas é uma figura de temperamento inconstante e sensível, e muitas vezes de sentimento profundo e um raro dom em comunicar esse sentimento para afetar e influenciar as pessoas. Ele mesmo nunca abre mão do controle.
É por isso que as Bacantes de Dioniso, a multidão de mulheres extáticas que segue a corte do deus, o desmembram, pois, de certa forma, ele deve se tornar inofensivo e metaforicamente reduzido a pedaços, antes de se tornar algo além de conselheiro para as dores alheias.
O próprio Orfeu não se realiza realmente na vida, já que colocou em risco a oportunidade da felicidade pessoal por meio de sua desconfiança na palavra de Hades. Isso, em si mesmo, nos mostra muito a respeito do Rei de Copas, pois, apesar de poder iniciar relacionamentos e falar constantemente a esse respeito, ele não confia totalmente no mundo do inconsciente que não pode enxergar. E, assim, o lugar de seu trono é perto da água, mas não pode mergulhar nela com medo de se afogar, o que significaria passar o controle para outra pessoa.
No sentido divinatório, quando o Rei de Copas aparece em uma abertura de cartas, indica que chegou o tempo de o indivíduo experimentar esse lado ambivalente de si mesmo - o dotado conselheiro e curador que pode empatizar e ajudar as pessoas, mas que não pode confiar na vida o suficiente para seguir o seu curso.
É característico o fato de que muitas pessoas, cuja profissão se relaciona com a assistência social, escolhem essa vocação pois foram feridas em relacionamentos pessoais, dos quais permanecem em controle para não serem profundamente feridas novamente.
Apesar de essa espécie de dinâmica poder ser uma grande contribuição para os outros, o indivíduo engana a si mesmo. Caso o Rei de Copas entre na vida do indivíduo na forma de uma pessoa que incorpore essas qualidades, então isso pode ser considerado como uma indicação de que seja o momento de encontrar-se com essa sua própria dimensão.
7- [Posição Atual/Atitude - autoimagem] - O Cavaleiro de Copas
A carta do Cavaleiro de Copas retrata um lindo jovem de pele clara, cabelos pretos e olhos profundos, montado em um elegante cavalo branco. Ele traja uma túnica roxa e uma armadura prateada toda escamada, e sobre a cabeça porta um elmo com um enfeite em formato de cauda de peixe. Ele conduz o seu cavalo elegantemente ao longo de um riacho borbulhante no qual os peixes saltam da água. Ao seu redor, um cenário romântico de bosques e colinas verdes e, ao longe, o. mar pode ser visto sob um céu azul-claro. Com a sua mão esquerda, ele segura uma taça dourada.
Na carta do Cavaleiro de Copas, deparamo-nos com a dimensão volátil, sensível e mutável do elemento água que, como o riacho, está cheio de vida e em movimento constante. Essa é a representação do herói mitológico Perseu, motivado em todas as suas aventuras pelo amor às mulheres e que, em suas jornadas, deve enfrentar as várias facetas do feminino, tanto obscuras quanto claras, antes de poder reunir-se com o seu amor. Perseu era filho de Zeus e de uma mulher mortal chamada Danae, para quem o deus apareceu em uma chuva de ouro. O pai de Danae, Acrísio, havia sido avisado pelo oráculo de Delfos que sua filha daria à luz um filho que o mataria. Para que isso fosse evitado, ele encerrou Danae e o filho em uma arca e jogou-os ao mar. Protegidos pelas divindades da água, eles foram levados às margens de Sérifos e para a proteção do rei Polidetes. O rei apaixo-nou-se por Danae e a perseguiu durante todos os anos da infância e adolescência de Perseu. Finalmente, Polidetes resolveu matar Perseu porque o jovem era contrário a seu casamento, acreditando que a sua mãe merecia algo melhor. Portanto, o rei enviou o jovem na aparente missão impossível de trazer-lhe a cabeça da terrível Medusa.
Em todo o seu trajeto, Perseu foi protegido pelas deusas. As Gréias, três bruxas que compartilhavam de um único olho, conheciam os segredos do futuro e disseram-lhe onde encontrar Medusa; Atena armou-o com um escudo mágico e foi dessa maneira que o jovem conseguiu matar a górgona, olhando o seu reflexo no escudo espelhado, a fim de proteger sua mãe. Ele levou consigo a cabeça da Medusa e em seu caminho de volta para Sérifos passou pela Etiópia, onde salvou a linda Andrômeda das garras de um monstro marinho. Ele matou o monstro, libertou-a e casou-se com a jovem. Ele então voltou para Sérifos e matou Polidetes que, entrementes, tentara seduzir Danae. Isso feito, juntamente com sua mãe e sua esposa, Perseu empreendeu o caminho de volta para o lugar de seu nascimento onde Acrísio, o seu avô, tentara matá-lo.
Apesar de não procurar vingar-se dele deliberadamente, ele acabou matando-o acidentalmente, tornando-se, dessa forma, rei de Argos. Mas o lugar era repleto de memórias tristes então decidiu transferir-se para Tirinto, onde fundou uma gloriosa dinastia.
Perseu, o Cavaleiro de Copas, é a imagem do verdadeiro espírito romântico, o herói das mulheres em dificuldades, o adorador do amor, da beleza e da verdade, e o defensor dos altos ideais que busca incessantemente o amor perfeito que somente existe no espírito e que sempre parece estar muito próximo, no ser amado seguinte. O espírito romântico do Cavaleiro de Copas incorpora tudo o que é gentil, idealista e bom; não se trata de uma personalidade fraca, ao contrário, ele é capaz de sacrificar tudo em nome de seu ideal ou do ser amado.
Em certo sentido, essa é a imagem do estado de "estar apaixonado", uma experiência que todo realista presume que, com a familiaridade do casamento, com os filhos e as obrigações familiares, acabe morrendo, mas que todo romântico acredita que possa e deva perdurar para sempre. Quando isso não ocorre, o Cavaleiro de Copas. pode seguir em frente, buscando ainda a derradeira experiência do amor sagrado.
É claro que a santidade do Cavaleiro de Copas não exclui o sexo, mas os relacionamentos sexuais para essa figura devem necessariamente estar associados ao amor e ao êxtase espiritual. A "mera" satisfação física não lhe interessa. Historicamente, os ideais do amor romântico que floresceram na Idade Média refletem o espírito do Cavaleiro de Copas. O jovem cavaleiro sempre adorava a sua amada de longe; ele não a contagiaria com seus desejos carnais, mas lhe escreveria poesias e, muitas vezes, dedicaria a sua vida para protegê-la.
Perseu é diferente dos outros heróis em virtude, justamente, desse alto idealismo e veneração pelas mulheres. Diferentemente das figuras como Héracles que enfrenta seus desafios porque tenta expiar um pecado ou como Teseu que os enfrenta por serem excitantes, Perseu segue o seu destino pelo amor, principalmente começando pelo amor de sua mãe. Essa qualidade de venerar e de idealizar a mãe é característica do Cavaleiro de Copas, pois, apesar de sua força, ele se ajoelha aos pés de uma rainha uma mulher de maior poder do que ele.
Muitas vezes, a qualidade do amor representado pelo Cavaleiro de Copas contém esse elemento de adoração por uma pessoa diante da qual nos sentimos um tanto indignos - ou por uma pessoa que já esteja casada. Esse ainda não é um amor entre iguais, que encontraremos mais adiante na Rainha e no Rei de Copas. Mas, à sua maneira, é amor e não deveria ser ridicularizado como adolescente ou imaturo. Sem o Cavaleiro de Copas, viveríamos em um mundo insípido e desprovido de brilho.
Quando o Cavaleiro de Copas aparece em uma abertura de cartas, indica que chegou o momento de o indivíduo experimentar essa dimensão inebriante e romântica do amor. Frequentemente, o Cavaleiro prevê uma proposta de casamento ou a experiência de uma paixão. Em outro nível, às vezes ele implica uma proposta artística, um relacionamento diferente, não menos exaltado e idealista. Ele ainda pode entrar na vida de um indivíduo como um jovem poético e sensível, um arauto do nosso próprio romantismo emergente.
8- [Fatores Ambientais - como os outros nos veem] - O Sete de Espadas
A carta Sete de Espadas retrata Orestes, oculto em seu manto, dirigindo-se sorrateiramente para o palácio de Argos. Em seus braços, ele carrega sete espadas. A rua é escura e a entrada do palácio é negra e sinistra. Ao longe, além do palácio, uma fina lua crescente brilha no céu escuro sobre picos nevados.
O Sete de Espadas representa a aplicação da energia de maneira cautelosa, astuta e diplomática para conseguir o objetivo desejado. Aqui a mensagem é "cérebro" em vez de "força", e a vida pode exigir que o indivíduo desenvolva malícia, sagacidade e esperteza. O sentimento do Sete de Espadas é ambivalente, pois não podemos ter certeza da retidão ou da integridade moral do objetivo. E certamente, para Orestes, a sua volta sorrateira para Argos é motivada pela violência, pois, obedecendo à vontade do radiante deus do Sol, ele está por cometer um matricídio.
Existe alguma coisa um tanto questionável a respeito do Sete de Espadas, mesmo que o objetivo seja aparentemente justificado, e isso levanta o problema da amoralidade essencial da mente. Não contaminado pelos valores dos sentimentos, o intelecto pode ser frio e manipulador, e os fins justificam os meios, mesmo quando se trata de um objetivo digno. Mas essa carta sugere que a vida pode exigir que desenvolvamos tais atributos, mesmo que a nossa natureza seja contrária a essa óbvia astúcia. Para poder alcançar um objetivo são necessários tato, charme e até subterfúgio, que nos deixa desconfortáveis, caso sejamos éticos em nosso tratamento com as outras pessoas.
Mas Orestes não pode entrar em Argos com toda a pompa e glória, pois Clitemnestra e seu amante o aprisionariam e provavelmente o matariam, o que o impediria de cumprir a vontade do deus. Portanto, ele deve controlar a sua personalidade e isso parece ser um requisito do estágio da jornada refletida pelo Sete de Espadas.
A astúcia é um dos atributos da mente e, algumas vezes, deve ser usada na vida. Ela é necessária em qualquer troca de opiniões, do contrário estaremos simplesmente intimidando e reprimindo-as, e nada realizando. Os políticos conhecem bem essa qualidade, assim como os sacerdotes e os advogados, pois tato é a versão mais agradável da astúcia e ideias devem ser apresentadas de forma tática para ser transmitidas tanto positiva quanto negativamente.
No sentido divinatório, o Sete de Espadas anuncia um período no qual é necessário usar astúcia, tato, diplomacia e esperteza, em vez de usar a força e a imposição para alcançar os nossos objetivos. Isso pode provocar um sentimento desconfortável de falsidade, mas que pode ser exigido pela própria vida.
9- [Esperanças e Temores] - A Estrela
A carta da Estrela retrata uma jovem linda, de cabelos compridos e claros, ajoelhada diante de uma arca aberta da qual sai um enxame de criaturas voadoras que escurece o ambiente. Mas o olhar da jovem está fixo na estrela brilhante, em que pode ser vista uma figura feminina em brilhantes vestes brancas.
Aqui encontramos Pandora que, segundo a Mitologia, abriu uma arca que Zeus havia maliciosamente doado à humanidade, liberando assim todos os males. Depois que Prometeu roubou o fogo sagrado dos deuses para doá-lo aos homens, o rei dos deuses resolveu punir severamente a raça humana, o que culminou em uma grande inundação, descrita na carta do Enforcado. Entretanto, antes dessa inundação, a sua raiva foi mais sutil, mas não o aplacou. Zeus pediu a Hefesto, o deus ferreiro, para fazer um corpo de argila e água, dar-lhe força vital e voz humana, e fazer dele uma virgem de grande beleza equiparada à das deusas do Olimpo. Todas as divindades cumularam a criatura de dons especiais e foi-lhe dado o nome de Pandora. Mas Hermes colocou traição em seu coração e mentiras em sua boca. Zeus enviou essa mulher para Epimeteu, irmão de Prometeu, juntamente com uma grande arca. Mas Epimeteu, que havia sido avisado por seu irmão a não aceitar qualquer presente de Zeus, inicialmente a recusou. Mas depois, lembrando-se da terrível vingança que o rei dos deuses havia infligido a Prometeu, apressou-se em se casar com Pandora.
Antes de ser aprisionado e acorrentado em seu pico solitário, Prometeu conseguiu advertir Epitemeu a não tocar no cofre e este, por sua vez, avisou Pandora. Mas, apesar de sua beleza, Pandora era preguiçosa, perversa e ignorante. Não levou muito tempo para que a curiosidade a fizesse abrir a arca, e os terríveis males que Zeus havia ali colocado escaparam e se espalharam sobre toda a Terra, contagiando a humanidade. Somente a esperança, que, de alguma forma, havia sido presa na arca com os males, não fugiu.
No sentido interior, a imagem de Pandora e da Estrela da Esperança é o símbolo da nossa parte que, apesar da decepção, da depressão e da perda, ainda pode prender-se a um sentido de significado e de futuro que poderia surgir da infelicidade passada. A Estrela não representa uma convicção plena de planos futuros ou uma solução para os problemas, ou ainda um guia para a ação. Tal como as cartas do Eremita e do Enforcado, a carta da Estrela recomenda a espera, pois o sentido da esperança é uma ténue luz que brilha e guia, mas não dissipa totalmente a escuridão. Portanto, a Esperança é apresentada como uma figura feminina, porque é o nosso lado irracional - a intuição - que percebe a Estrela no meio de um enxame de males indesejáveis.
A esperança não afugenta os males ou desfaz a vingança que Zeus planejou. Mas, de alguma forma, e misteriosamente, ela oferece fé e, portanto, os olhos de Pandora na figura não olham para a infelicidade da condição humana, mas para o vago, irracional e inexplicável sentido de que o Sol está prestes a surgir.
Essa qualidade de esperança nada tem a ver com expectativas planejadas. Ela é ligada com algo bem fundo dentro de nós que, algumas vezes, foi chamado de vontade de viver e que - mesmo sendo uma experiência subjetiva sem qualquer razão visível e concreta -muitas vezes pode representar a diferença entre a vida e a morte. Os médicos conhecem bem essa vontade nos pacientes - a esperança e a vontade de viver no indivíduo que frequentemente encontra os recursos internos para lutar contra a doença que, do contrário, o mataria.
Da mesma forma, indivíduos que sofreram circunstâncias trágicas ou se confrontaram com desafios maiores do que a capacidade humana pode suportar - como aquelas pessoas que passaram pela experiência do aprisionamento em campos de concentração na Alemanha e na Polónia durante a Segunda Grande Guerra, ou presenciaram a destruição de famílias nas invasões russas da Tchecoslováquia em 1948 e da Hungria em 1956 - muitas vezes expressaram a sua crença em um sentimento interior de fé e de significado que fizeram a diferença entre a sobrevivência e o completo colapso e a morte.
A Esperança é algo misterioso e profundo, pois parece transcender qualquer coisa que a vida nos apresente na forma de catástrofe. No entanto, ela não surge por um ato de vontade, assim como a Estrela não aparece, no mito de Pandora, por meio de qualquer ato deliberado de sua parte. Ela simplesmente está ali, misteriosamente presa na arca, com todos os males, e caso o indivíduo possa vislumbrar o seu brilho delicado, a resposta às dificuldades pode ser radicalmente alterada. Por conseguinte, a Estrela, a visão norteadora da esperança e da promessa, não surge de uma intenção, mas das cinzas da Torre que foi destruída.
O Louco aguarda, no meio do entulho, sem saber como e o que reconstruir. No meio dessa confusão e do colapso de velhas atitudes e estruturas, surge a débil e evasiva, mas potente, Estrela da Esperança.
No sentido divinatório, quando a Estrela aparece em uma abertura de cartas, ela é um indício de esperança, significado e fé em meio a dificuldades. Mas a Estrela também é ambivalente e pode prevenir contra a esperança cega que não prevê qualquer ação necessária. A carta da Estrela anuncia o advento de promessas, uma experiência positiva para o Louco que passou pelo colapso de tudo o que acreditava ter valor em sua vida.
10- [Resultado Final] - O Oito de Espadas
A carta Oito de Espadas retrata Orestes em uma postura de medo, com suas mãos levantadas tentando afastar o seu destino. Ele está cercado por um anel de oito espadas fincadas no chão. À sua esquerda, Apolo olha para ele de modo severo e zangado. À sua direita, as três Fúrias vestidas de preto, com rostos brancos e feios, e asas de morcego. Ao longe, nuvens ameaçadoras sobre picos nevados.
O Oito de Espadas retrata uma situação de servidão em função do medo. Diferentemente da paralisia apresentada pela carta Dois de Espadas, essa servidão envolve um total conhecimento da situação e as prováveis consequências de qualquer escolha.
Aqui Orestes sabe muito bem o que acontecerá se assassinar a sua mãe ou se ele se recusar a fazê-lo, pois, qualquer que seja a sua escolha, sairá perdendo. Assim, ele fica paralisado tentando afastar de si o momento da escolha. Apesar de as escolhas não serem geralmente tão sutis quanto as de Orcstes, entretanto o Oito de Espadas reflete uma situação de indecisão paralisante. Parle do desconforto surge da percepção do indivíduo quanto à exata maneira de como chegou a essa situação, mas já é tarde para remorsos ou para retroceder.
Diferentemente também da cegueira da carta Dois de Espadas, o Oito de Espadas retrata a consciência dolorosa de nossa parte na criação de toda a atual confusão. Esse é o momento anterior a difícil escolha, exacerbado pela realização desagradável de que nós mesmos a provocamos.
Existem muitas situações típicas na vida, nas quais surgem a servidão e a paralisia do Oito de Espadas. Urna das situações mais características é o problema do indivíduo que esteve manipulando duas pessoas uma contra a outra - uma esposa e um amante, um marido c um pai, dois amigos -, tentando adiar a decisão de uma escolha ou de um compromisso.
A tentativa de manter oculto o fato um do outro pode fazer com que a tomada de decisão possa ser mantida em aguardo durante um certo tempo, mas cedo ou tarde haverá uma confrontação e consequentemente o momento de choque, quando se descobre que esse subterfúgio somente piorou a situação.
Desse modo, o Oito de Espadas surge naturalmente do Sete de Espadas, como se a astúcia e a sutileza, apesar de utilizadas por bons motivos e necessárias no momento, tivessem criado a própria armadilha. Então, devemos aceitar a responsabilidade por todo o ocorrido, procurar compreender o que realmente desejamos e agir imediata e definitivamente. Dessa maneira, uma solução é possível.
No sentido divinatório, o Oito de Espadas anuncia uma situação pela qual o indivíduo é impossibilitado de agir por causa do medo das consequências. Uma tomada de decisão é necessária, mas qualquer que seja a escolha, provocará problemas. Existe a conscientização de que o dilema foi causado pelo próprio indivíduo, pois houve um longo passado de recusa, duplicidade, cegueira e medo da confrontação, muitas vezes para "evitar ferir" alguém, que sempre está presente no impasse. É importante enfrentar honestamente o nosso próprio envolvimento no problema.
CARTAS CAÍDAS
Enquanto embaralhava o deck, algumas cartas pularam dele como se tivessem vida própria e quisessem me contar algo. Não se pode ignorar o que as cartas querem dizer - já diria a cigana.
O Ás de Ouros
A carta do Ás de Ouros retrata um homem moreno e forte com longos cabelos encaracolados e uma cauda de peixe, emergindo das profundezas do mar e erguendo um grande pentáculo dourado. Ao seu redor, rochedos ricamente recobertos de vinhas com cachos de uva amadurecendo. A distância, um cenário de verdes e férteis colinas rodeando uma baía.
Aqui nos deparamos com o deus Poseidon, o qual encontramos na carta da Torre dos Arcanos Maiores. Poseidon era um dos filhos de Cronos e Réa e participou do destino de seus irmãos e irmãs, sendo engolido pelo pai ao nascer. Mas a bebida que Zeus serviu a Cronos fez com que ele regurgitasse todos os filhos que havia engolido. Após a vitória sobre Cronos, a herança paterna foi dividida em três partes: Zeus tomou posse dos vastos céus; Hades, do sombrio Submundo; e Poseidon, dos mares, lagos, rios e de toda a superfície da Terra, visto que ela era apoiada sobre as suas águas e ele podia fazê-la tremer à vontade. Ele ficou famoso entre os deuses pelo seu anseio por terras e entrava em conflito com muitos deles por tentar apossar-se de ilhas e partes da costa da Grécia.
Poseidon era um deus da fertilidade, marido da grande Mãe-Terra e Senhor do Universo físico. Ele era chamado de "agitador da Terra" e venerado na forma de um touro, um grande animal preto com olhos flamejantes, que vivia nas entranhas da Terra; com suas pisoteadas ele fazia com que as montanhas se movessem e os mares inundassem a Terra. Portanto, Poseidon é uma das forças primitivas da natureza e, no Ás de Ouros, ele mostra o seu poder como o impulso de uma nova energia para a criação material.
Em contraste com o Ás de Paus, que se ergue como o nascimento de uma nova visão criativa, o Ás de Ouros volta a sua imensa potência criativa para a Terra, e essa emergente necessidade de concretizar c criar no mundo manifesto é aquela que dá suporte às nossas ambições materiais. O indivíduo que ambiciona riquezas e faz as coisas acontecerem em nível material experimenta algo do poder desse antigo deus terreno e o Ás de Ouros anuncia a erupção de uma nova ambição para a criação e o sucesso material.
No sentido divinatório, o Ás de Ouros prevê a possibilidade de uma realização material porque, agora, a energia primitiva para esse trabalho está disponível ao indivíduo. Muitas vezes dinheiro vêm na forma de uma herança ou de qualquer outra fonte, acompanhado da engenhosidade e da persistência em utilizar esses recursos efetiva e eficientemente.
A Rainha de Copas
A carta da Rainha de Copas retrata uma mulher misteriosamente linda, com longos cabelos pretos, um longo vestido verde-turquesa banhado pela água do rio a seus pés e uma coroa dourada. Está sentada em um trono dourado em cujos braços são entalhadas duas serpentes douradas. Na mão direita, ela segura uma taça dourada e, na esquerda, uma maçã. Seu olhar concentra-se no conteúdo da taça. Atrás dela, além dos férteis campos verdes, é possível ver o mar azul sob um céu claro.
Aqui, na carta da Rainha de Copas, deparamo-nos com as profundezas estáveis, contidas e introvertidas do elemento água - o particular mundo interior do sentimento abismal e derradeiramente insondável. O quadro é representado pela figura mitológica de Helena, com a qual nos encontramos na carta dos Namorados dos Arcanos Maiores e cuja beleza era tão grande que a Guerra de Tróia ocorreu por sua causa.
Helena era filha de Zeus e Leda e, ao atingir a idade adulta no palácio de seu padrasto, o rei Tíndaro de Esparta, todos os príncipes da Grécia, como seus pretendentes, ofereceram-lhe ricos presentes. Finalmente, casou-se com Menelau, que se tornou rei de Esparta após a morte de Tíndaro. Mas o casamento estava fadado a fracassar, pois Afrodite prometera a Paris, o príncipe troiano, a mais linda mulher do mundo se ele a escolhesse no concurso de beleza mencionado na carta dos Namorados. E Helena era essa mulher.
No devido tempo, Paris e Helena encontraram-se e se apaixonaram, e Helena fugiu com ele. O insulto causado ao rei Menelau provocou a Guerra de Tróia, na qual Paris foi morto. Finalmente, a beleza de Helena atraiu para si três outros amantes, sem mencionar o herói Teseu, que a sequestrou quando ainda era adolescente. Todos esses outros amantes tiveram os seus favores enquanto ela ainda estava em Tróia e, dessa forma, Helena desfrutou de um período de dez anos de guerra. Quando os troianos foram derrotados, Menelau procurou Helena, a quem havia jurado matar por adultério. Mas, ao vê-la, se apaixonou novamente e a levou de volta a Esparta. Se ela lhe foi fiel ou não durante o resto da vida é algo que a Mitologia não revela.
Helena, a Rainha de Copas, é mais do que a imagem da atraente beleza feminina. Ela incorpora o hipnótico poder do mundo feminino dos sentimentos, um poder mágico e magnético que desafia a mera perfeição física.
Como na lenda, inúmeros homens perseguem Helena e, no entanto, ninguém sabe realmente, pela Mitologia, o que a própria Helena almejava ou que tipo de mulher era realmente. E como se ela mesma fosse água e todos os homens a percebessem no reflexo da profundeza de suas próprias almas. Ela é um código, um mistério, motivada por seus propósitos e sentimentos secretos. Pode ser considerada uma prostituta por oferecer os seus favores a tantos homens, dentre eles inimigos de sua própria terra natal.
Entretanto, temos a impressão de que, por mais apaixonada que estivesse, Helena somente faz o que gosta. Para ela, até a escolha de marido é uma opção livre, pois na história ela mostra o seu favoritismo por Menelau ao colocar uma coroa de flores em sua cabeça, um fato inusitado para uma mulher daquela época que, geralmente, era obrigada a se casar com a pessoa escolhida pelo pai ou pelos irmãos. Quando se cansa de Menelau, intrepidamente ela persegue a sua grande aventura amorosa com Paris, em vez de recorrer a encontros clandestinos. Independentemente de quem seja o homem que ama, ela se entrega totalmente a ele. Ela conquista os homens com facilidade, pois incorpora todas as íntimas fantasias inconscientes da mulher perfeita que eles sempre procuram.
A figura de Helena é tanto a de uma virgem como a de uma prostituta, uma calculadora e uma vítima. Resumindo, ela é um conjunto de paradoxos, pois, apesar de a lógica do coração ser indiscutível, ela ainda desafia a análise racional e, frequentemente, enfrenta a própria moralidade. A Rainha de Copas possui uma característica indefinida e, no entanto, ela provoca problemas onde quer que esteja, ativando as profundezas dos outros e promovendo a ação e o conflito sem fazer absolutamente nada. Portanto, ela pode ser considerada uma imagem do inconsciente, perseguindo seus propósitos secretos sem conhecimento da mente consciente e levando o indivíduo a uma crise ou um conflito, e para uma intensa paixão e destino por meio de seu misterioso poder sedutor.
Quando a Rainha de Copas aparece em uma abertura de cartas, ela indica um período para o indivíduo encontrar o mundo profundo, desconhecido e paradoxal do sentimento em si mesmo. A Rainha de Copas pode entrar na vida do indivíduo como uma mulher misteriosa e enigmática, não necessariamente como uma evidente sedutora, mas estranhamente perturbadora e um catalisador para o surgimento de fantasias e sentimentos profundos que, até então, permaneciam ocultos à consciência. Ela pode aparecer na forma de um ser amado ou como rival; de qualquer maneira, esse encontro não é uma mera casualidade. Ao contrário, é o prenúncio do surgimento dessas qualidades da alma que se encontram no indivíduo.
Para a mulher que não tem consciência da Helena em si mesma e se identifica com os lados maternais ou práticos da feminilidade, a Rainha de Copas indica que é o momento certo para encontrá-la, mesmo que o catalisador seja a "outra mulher".
Para o homem que não tem consciência da profundeza de sua alma e baseia sua realidade no pensamento racional e nos fatos concretos, a Rainha de Copas anuncia um aprofundamento e desenvolvimento da vida interior, quer o catalisador seja ou não uma mulher.
O Seis de Paus
A carta Seis de Paus retrata Jasão vitorioso após a sua luta com o dragão. O herói levanta o Velocino de Ouro em triunfo. Atrás dele, seis dos seus amigos-heróis estão festejando, cada um segurando uma tocha acesa.
O Seis de Paus representa uma experiência de triunfo, de reconhecimento e de aclamação pública. A luta com o dragão já aconteceu e Jasão fez jus à sua recompensa; o Velocino está em suas mãos e seus amigos levantam suas tochas para honrá-lo em reconhecimento. Essa carta representa um momento inebriante para o indivíduo que se esforçou para expressar uma nova ideia ou uma visão criativa para as outras pessoas, pois é o momento cm que somos reconhecidos pela coletividade por nossos esforços. O empreendimento criativo foi aprovado não somente pelos nossos entes queridos, mas pelo mundo exterior, que na carta do Cinco de Paus apareceu, inicialmente, como o terrível dragão-terra que parecia frustrar todos os esforços.
O estágio, um tanto inebriante, refletido pelo Seis de Paus pode assumir muitas formas, de acordo com o nível do objetivo e das aspirações do indivíduo. O atleta que treinou e se preparou durante cansativos meses c até anos sabe disso quando vence uma competição, assim como o indivíduo que almeja uma promoção também o reconhece quando, finalmente, uma nova posição lhe é oferecida. O escritor aprecia-o quando o seu livro é publicado e aclamado, e assim também o estudante, quando finalmente recebe o seu diploma. Independentemente da dimensão, a meta aqui é alcançada e reconhecida pelos outros. Portanto, o Seis de Paus é uma das cartas dos Arcanos Menores que mais proporciona satisfação individual, pois significa a validação pública de uma visão criativa que se iniciou em meio à ansiedade e à incerteza.
Mas até o Seis de Paus deve ceder o seu lugar para a carta seguinte, pois Jasão ainda não levou o Velocino de volta para Iolkos. O reconhecimento público provoca os seus próprios dilemas, apesar de representar um pico na vida criativa, pois a imaginação é fértil, e novos desafios - de forma particular a inveja e o sentido de competição - podem surgir no momento do triunfo.
No sentido divinatório, o Seis de Paus prevê a aceitação pública e o reconhecimento de alguma espécie. Isso pode assumir a forma de uma promoção, uma qualificação ou o reconhecimento de algum trabalho criativo.
O Sete de Paus
A carta Sete de Paus retrata a luta de Jasão com o rei Aetes da Cólquida, que ele deve derrotar para poder levar de volta o Velocino de Ouro. Jasão, segurando duas tochas flamejantes, luta com o rei que veste uma túnica vermelho-fogo e segura outra tocha flamejante. Dois dos amigos-heróis de Jasão - Héracles e Teseu - estão em combate com dois guerreiros do rei que, vestindo armaduras, surgiram dos dentes do dragão. Os dois heróis e os dois guerreiros do rei seguram tochas flamejantes.
Tal como o Cinco de Paus, o Sete de Paus retrata uma lula, mas aqui se trata de um combate entre homens, diferentemente do combate do herói contra o estranho dragão-terra. A visão criativa do Velocino de Ouro conquistado em triunfo das garras do dragão aqui leva para o que poderíamos chamar de pura competição, pois Aetes também quer o Velocino e está preparado para lutar por ele.
Portanto, o reconhecimento inerente ao Seis de Paus provoca a inevitável resposta: mais alguém quer o que trabalhamos tão arduamente para conseguir, e somos mergulhados em uma competição que nos desafia a empenhar mais esforços.
A mensagem é que não podemos permanecer estagnados com os nossos louros ou alguém virá para roubá-los. O problema da inveja e da competição é um fato da vida criativa que o indivíduo que trabalha nessa esfera deverá aceitar. A imaginação não somente concentra a visão em uma pessoa, mas também estimula a visão de outras. A competição é a companheira inevitável do sucesso criativo e, frequentemente, é o próprio medo de não consegui-lo que faz com que as pessoas desistam de tentar.
Na realidade, o desafio do Sete de Paus é uma prova de fé do próprio indivíduo. Quanto estamos dispostos a lutar pelo que já conseguimos conquistar? Essa ameaça do "exterior" é um estímulo para a individualidade como também para a própria imaginação que deverá então criar novas e melhores formas. Em muitos aspectos, o rei Aetes tinha tanto direito ao Velocino de Ouro quanto Jasão, pois ele o possuiu antes. E essa é a falta de moral do mercado no qual não adianta ficar chorando: "Mas fui eu quem primeiro teve essa ideia!" Simplesmente devemos lutar para que a ideia funcione e para torná-la ainda melhor, pois ninguém consolará o perdedor que, certa vez, teve uma boa ideia.
No sentido divinatório, o Sete de Paus prevê uma luta pelas ideias criativas de outras pessoas - pura competição. O indivíduo é desafiado a melhorar e a desenvolver o seu projeto diante de um mundo invejoso e competitivo, e precisa aprender a valorizar a sua ambição e o seu instinto competitivo.
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